A internet trouxe-nos muitas maravilhas. Tornou o mundo mais próximo, tornou a informação mais acessível e, talvez mais importante para alguns, criou um palco onde todos podem ser críticos sociais, políticos e culturais. Contudo, neste grande palco digital, destaca-se uma figura peculiar: o herói anónimo de logotipo. Esse herói valente que, sem rosto, sem nome, mas com uma moral estranhamente oscilante, desafia o mundo e opina sobre tudo e todos, especialmente aqueles que se aventuram a colocar um nome e uma cara nas suas palavras. Sim, é dele que falamos hoje.
Entre palavras inflamadas e rumores de café, esses guerreiros da digitalização erguem a sua voz, julgando com o conforto e a frieza de quem nunca terá de enfrentar o contraditório ao vivo, de quem nunca verá a sua opinião publicamente confrontada por uma questão simples: a ausência de rosto e, talvez, de espinha. Ao esgueirarem-se pelos corredores da internet, armados com rumores e meias-verdades, esses anónimos vêem-se como guardiões da moral pública, como figuras indispensáveis para a “limpeza” da vida política na cidade de Castelo Branco. Mas será que sabem o peso das palavras que proferem?
Em contraste, os que se dedicam à nobre causa de bem informar, de debater e de levar aos leitores uma análise crítica com uma assinatura, estes sim enfrentam o julgamento de frente. Arriscam a reputação, o caráter, a estabilidade, num jogo onde não basta erguer o punho digital. Um jornalista, para bem ou para mal, expõe-se a todas as reações, enfrentando a ira ou o apoio de uma plateia heterogénea. Não é cobardia, é coragem; não é anonimato, é responsabilidade.
O mais irónico, porém, é que muitos desses heróis do logotipo almejam ainda mais do que a popularidade das redes sociais. Sonham com algo mais tangível, algo que chame pela palavra “tacho”. Mas não qualquer tacho: é o tacho político que vislumbram ao longe, e para o qual se movem sorrateiramente, esperando que a sua enxurrada de posts e tweets os leve ao destino final. O problema? Os anónimos (que estão sobre investigação jornalística) esquecem-se de que, ao tornarem-se figuras públicas, os holofotes passarão a estar sobre eles, expondo cada falha, cada palavra dita no calor das redes.
E, então, pergunto: quantos desses “artistas” de logotipo nas páginas de Facebook dando umas larachas com sátira com um bate palmas de fervorosos seguidores, seriam capazes de suportar o escrutínio que tanto reclamam para os outros? Quantos deles estariam dispostos a dar o nome, a cara e, quem sabe, o currículo para ver se teriam estaleca para tal responsabilidade?
São muitos os que hoje desejam um tacho, mas são poucos os que verdadeiramente entendem o significado da dedicação ao bem público. Tal como na vida real, a política não é um palco onde um se destaca por destruir reputações alheias; é, ou deveria ser, um serviço de rigor e de compromisso. O que esses anónimos parecem não compreender é que a incapacidade, quando confirmada, não se dissipa nem se resolve com a tomada de ansiolíticos. Mesmo após um “remédio” de sossego para a mente, o que falha de essência, continua a falhar.
Por isso, a esses corajosos escondidos que julgam que “desta vez é que vai ser”, é bom recordar: quem não conseguiu sustentar o peso da função uma vez, dificilmente conseguirá na próxima. Falta-lhes a coragem que tanto enaltecem — uma coragem que se exige pública, transparente e com assinatura.
Assim, fica a nota final. A memória de uma cidade, de uma sociedade que hoje acorda para as redes e os seus novos “heróis”, saberá lembrar quem deu a cara e quem preferiu o conforto do logotipo.