Hoje, em silêncio e paz durante o sono, partiu Maria Arminda, conhecida como a “Bruxa do Pego”. Com 86 anos de vida, esta figura icónica do misticismo português dedicou mais de sete décadas à sua “missão” de ajudar quem a procurava, fossem portugueses ou estrangeiros, que buscavam auxílio para os mais variados males da vida. Na pequena aldeia do Pego, concelho de Abrantes, esta mulher de personalidade marcante e singular genica manteve-se fiel ao que descrevia como “um dom” inato, uma herança de família que não se podia ensinar nem transmitir.
A fama de Maria Arminda, oficialmente Maria Hermínia Lopes Correia por um erro de registo, atravessou gerações e fronteiras. Sem nunca recorrer a caldeirões nem palavras mágicas, cultivou um tipo de espiritualidade que aliava a fé católica às práticas místicas, tratando de aflições espirituais e materiais com rezas, mezinhas e ervas.
Desde os 16 anos, quando começou a dar consultas, manteve firme o objetivo de “ajudar o próximo” e recebeu quem necessitava de amparo, sempre com um crucifixo na mão e orações na ponta da língua. Entre consultas espirituais, cura de “males de assombramento” e rezas específicas para diferentes problemas, Maria Arminda afirmou ter contribuído para a paz e alívio de milhares. As filas à sua porta atestam a dimensão do seu impacto, com clientes a pernoitar junto à sua casa para serem atendidos.
Apesar do epíteto de “Bruxa”, que nunca a agradou, Maria Arminda dizia ser uma “curandeira”, alguém que desfaz a maldade em oração e cura doenças com as plantas do seu conhecimento. Católica devota, nunca se afastou da Igreja, frequentando a missa e peregrinando a Fátima, mas mantinha reservas sobre o ceticismo de alguns religiosos face às suas práticas.
Nascida a 1 de julho de 1936, Maria Arminda vivia numa casa simples, acompanhada dos seus muitos gatos e rodeada por imagens de santos. Com a partida de Maria Arminda encerra-se um ciclo de práticas espirituais tradicionais e uma ligação profunda a crenças populares que remontam a tempos antigos. Na lembrança dos que a conheceram e no imaginário da comunidade, a sua memória perdurará como a “Bruxa do Pego” que, durante 70 anos, entre consultas, rezas e curas, desatou os “nós” da vida de muitos.