O Chega pede adiamento da votação do relatório sobre a audição de Ricardo Reis para vice-presidente da Autoridade da Mobilidade e Transportes (AMT), após admitir um erro na elaboração do documento.
O Chega pediu esta quarta-feira o adiamento da votação do relatório referente à audição parlamentar de Ricardo Reis, indigitado pelo Governo para o cargo de vice-presidente da Autoridade da Mobilidade e Transportes (AMT), após ter admitido um erro na elaboração do documento. O partido alegou que o relatório entregue, que conclui que Ricardo Reis “reúne condições” para o cargo, contém imprecisões que precisam de ser corrigidas.
O deputado Filipe Melo, do Chega, anunciou que a sua bancada irá pedir o adiamento da apreciação do relatório, explicando que o partido identificou falhas substanciais no documento. “Chegámos à conclusão que vamos pedir o adiamento [da apreciação do relatório] e vamos alterar substancialmente”, afirmou o deputado na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas e Habitação, durante a reunião que tinha na agenda a votação do referido relatório.
Na semana passada, o Chega já havia demonstrado o seu desagrado com a nomeação de Ricardo Reis, escolhendo não viabilizar o nome do indigitado para vogal do Conselho de Administração da AMT. Contudo, o partido entregou posteriormente um relatório na comissão que, apesar de destacar as qualidades académicas e profissionais de Ricardo Reis, elogiando a sua visão estratégica e compromisso com a defesa do interesse público, concluiu que o candidato reunia as condições necessárias para o cargo. A Lusa teve acesso ao documento, no qual o Chega sublinha que Ricardo Reis demonstra uma “visão estratégica relativamente às atividades prosseguidas pela AMT” e “conhecimento da importância da defesa do interesse público”.
A controvérsia surgiu após o Chega admitir que o erro se devia a uma falha na preparação do relatório, que, segundo o partido, incluiu trechos copiados de outro documento. Filipe Melo assumiu a responsabilidade pelo erro, dizendo que “errar é humano”, mas acrescentando que “errar e não reconhecer é estupidez”.
O pedido de adiamento gerou troca de acusações na comissão. O presidente da comissão, o deputado Miguel Santos (PSD), afirmou que o adiamento é uma prerrogativa do relator, e que a apresentação do relatório corrigido ocorrerá na próxima semana. Por sua vez, o deputado Gonçalo Laje, do PSD, minimizou o pedido de adiamento, dizendo que se tratava, na realidade, de uma “alteração substantiva” do documento.
José Carlos Barbosa, deputado do PS, acusou o Chega de incoerência. “O Chega andou durante uma semana a fazer TikToks a insultar Ricardo Reis, depois apresenta um relatório a elogiar todo o currículo dele. O Chega diz tudo e o seu contrário, e agora quer mudar o relatório”, afirmou.
O debate em torno da nomeação de Ricardo Reis para a AMT tem dividido opiniões. O PSD e o CDS elogiaram o currículo do indigitado, enquanto o PS e o Chega apontaram a sua falta de experiência no setor dos transportes como um fator impeditivo para o desempenho do cargo.
Em declarações anteriores, Filipe Melo já havia indicado que o Chega não viabilizaria a nomeação, argumentando que o currículo de Ricardo Reis não se adequava às funções propostas e questionando se a sua escolha não seria um prémio político, devido ao seu envolvimento com o PSD. O indigitado, por sua vez, rejeitou essas alegações, lembrando que a última sondagem da Universidade Católica antes das eleições europeias previa que o Chega elegeria quatro eurodeputados, um número superior ao que efetivamente conseguiu.