No dia 7 de setembro do ano passado, o Jornal ORegiões marcou presença no Festival de Arronches, evento cultural que celebrou tradições locais e trouxe uma diversidade de manifestações artísticas. Foi lá que três jovens dinâmicos, membros da Associação Portuguesa das Artes e da Cultura (APAC), falaram sobre o trabalho que desempenham na promoção da arte e da cultura em Portugal
Ana Luísa, Helena Oliveira e Daniel Gandra, dois deles fundadores da associação, representaram a organização que colaborou diretamente na programação cultural do festival. Durante a entrevista, discutiram não apenas o impacto da APAC no cenário artístico, mas também os desafios enfrentados e os valores que norteiam suas ações.
Uma Associação com Propósito Nacional
Desde a sua criação, a Associação Portuguesa das Artes e da Cultura tem como meta aproximar o público das manifestações artísticas e culturais, independentemente de barreiras geográficas ou sociais. A visão da organização vai além de simplesmente divulgar arte: ela busca descentralizar o acesso cultural e fomentar a formação de novos artistas.
Daniel Gandra explicou:
«A Associação Portuguesa das Artes e Cultura é uma associação a nível nacional. Temos cerca de 40 voluntários espalhados pelo país e trabalhamos com a missão da descentralização e a democratização da cultura.»
Um dos destaques da associação é o compromisso em dar visibilidade a projetos que, muitas vezes, não têm espaço na mídia tradicional. É o caso do podcast «És cá um Artista», onde artistas podem discutir suas obras e explorar suas trajetórias de forma descontraída. Além disso, a APAC promove iniciativas voltadas para a formação de artistas em áreas práticas, como os direitos autorais e a gestão de carreiras, aspectos frequentemente negligenciados em formações académicas.
«Trabalhamos a parte da formação dos artistas em temas que não estão tão familiarizados, como direitos de autor. Essa parte toda que não é dada na formação académica», explicou Daniel.
Projetos para Cada Arte
A APAC também investe em projetos específicos para diferentes áreas culturais. Entre eles estão a Galeria Pintar o Sete, que exibe obras de artistas visuais emergentes, e a Livraria Inculta, criada para valorizar autores de língua portuguesa e desmistificar preconceitos em torno da literatura nacional.
Para o Festival de Arronches, a seleção dos artistas musicais foi feita através de uma open call. Essa iniciativa, promovida online, gerou grande interesse, recebendo mais de 90 candidaturas de todas as regiões do país.
«Nós queríamos trazer artistas portugueses e projetos portugueses. Portanto, foi o que fizemos. Trouxemos ao Festival de Arronches artistas do Norte, do Algarve, de todo o país», destacou Daniel, enfatizando o caráter inclusivo da seleção.
Essa diversidade reflete a essência da APAC: conectar talentos de várias áreas e lugares, ampliando as oportunidades de participação e representação no cenário cultural português.
Os Desafios de Sustentar um Projeto Cultural
Embora a missão da associação seja ambiciosa, a realidade de buscar apoios financeiros para sustentar projetos culturais em Portugal continua a ser desafiadora.
Daniel destacou que, para o Festival de Arronches, contaram com o apoio essencial da Câmara Municipal de Arronches e da Junta de Freguesia da Esperança, além de algumas empresas locais. No entanto, a obtenção de patrocínios privados é mais complicada.
«Em Portugal é sempre difícil começar um projeto cultural. No entanto, é a primeira edição. Por isso, estamos a fazer o que conseguimos. O objetivo é crescer», afirmou.
Também mencionou que a APAC procura sensibilizar empresas sobre os benefícios fiscais e o impacto positivo de apoiar a cultura. Apesar dos desafios, a receptividade das empresas locais tem sido animadora, sugerindo um potencial para parcerias futuras.
Helena Oliveira: Da Biologia à Literatura
A diversidade de formações dentro da APAC também é um ponto de destaque. Enquanto Ana e Daniel têm formação em gestão artística e cultural, Helena Oliveira trouxe para a associação uma perspectiva única, oriunda das ciências biológicas.
«A minha formação vem da parte das ciências, que foi uma coisa que eu sempre gostei muito. Mas realmente queria explorar outras coisas… A literatura sempre foi uma coisa que eu gostava de fazer, de ler», comentou Helena.
Foi esse interesse pela literatura que motivou a criação da Livraria Inculta, uma iniciativa que busca valorizar a literatura portuguesa e revelar autores menos conhecidos ao público.
«Lançámos a Inculta, cujo objetivo é divulgar um pouco mais a boa literatura que nós temos em Portugal. E também desmistificar muitos mitos que existem à volta da literatura portuguesa.»
Embora recente, a livraria já realizou seu primeiro evento físico e está em processo de ampliação do catálogo. Helena destacou ainda que o projeto ganha relevância num contexto cada vez mais digitalizado, onde promover a literatura é um desafio, mas também uma oportunidade de conexão.
A divulgação da livraria ocorre principalmente nas redes sociais, como Instagram e Facebook, além de um website que está em fase final de desenvolvimento.
Um Convite à Cooperação
Para Ana Luísa, a chave para o sucesso da APAC está na cooperação e no apoio mútuo.
Finalizaram a entrevista com um apelo:
«Apoiem os projetos. Apareçam nos eventos. Se tiverem alguma ideia de algum projeto, nós também estamos sempre abertos a ouvir e a começar a trabalhar. Se forem projetos interessantes. A livraria apareceu num café. A Helena chegou à nossa beira e disse: ‘Tenho uma ideia maluca.’ E foi assim que começou. Portanto, todos os projetos vêm de ideias primeiro. Estamos sempre abertos a ouvir ideias e a ajudar. Porque só com cooperação é que se vai a algum lado.»
Uma Missão Ambiciosa
A Associação Portuguesa das Artes e da Cultura é movida pelo desejo de conectar profissionais das artes, apoiar projetos inovadores e criar oportunidades em todas as áreas culturais. Sua missão é clara:
Melhorar a qualidade profissional e de vida dos trabalhadores da cultura.
Fomentar uma cultura nacional mais informada e interligada.
Com valores como inovação, comunidade, conhecimento e acompanhamento, a APAC está determinada a se tornar a maior rede nacional de formação e informação na área cultural, refletindo a importância da arte para a identidade do país.
Mais do que organizar eventos, a associação procura dar voz aos artistas e aos técnicos que, muitas vezes, atuam por trás das cortinas, mas desempenham um papel essencial na produção cultural portuguesa.
Para saber mais sobre a associação e seus projetos, visite o site oficial: https://associacaoportuguesaartesecultura.pt.