Nada há de mais típico no panorama da política local do que uma viagem bem planeada à capital. A Junta de Freguesia de Castelo Branco, com uma agenda incrivelmente leve e uma prática esmerada de nada fazer, decidiu que estava na altura de retribuir a atenção que raramente dispensa à sua própria freguesia com uma visita a Lisboa. Não, não se tratava de uma expedição de trabalho, nem de um movimento para resolver qualquer pendência administrativa. Era algo muito mais solene: um beija-mão ao venerável Pedro Nuno Santos, o brilhante rosto do Partido Socialista, que, apesar de poucos o reconhecerem nas terras beirãs, parece ter uma legião de admiradores incansáveis dentro deste executivo.
Enquanto os nossos queridos autarcas desfrutavam de umas belas vistas do Tejo e, quem sabe, degustavam uns pastéis de nata bem mornos, a Junta de Freguesia permaneceu de portas fechadas. Afinal, que mal faz uma breve pausa no serviço público quando não há nada a ser feito? E assim, a pacata freguesia continuou o seu curso, como sempre, sem grandes alterações. Ou talvez apenas sem alterações. Dizem que o segredo da eficiência é a ausência de expectativas, e nisso, a Junta de Castelo Branco é exímia.
Dinheiro, claro está, não foi problema. Os cofres da Junta, com um surpreendente excedente, patrocinam alegremente estas escapadelas. A receita é simples: para que gastar em obras, quando o turismo institucional em Lisboa é tão mais atrativo? Não há estradas por arranjar, parques por manter ou luzes para reparar que justifiquem um desvio do orçamento. A sabedoria dos nossos governantes é inequívoca: se não há investimento local, os problemas resolvem-se sozinhos (ou assim esperamos). Com sorte, a freguesia ainda pode passar despercebida às preocupações mais imediatas do cidadão.
Agora, o que levará um grupo de autarcas locais a peregrinar até à Assembleia da República para cumprimentar Pedro Nuno Santos? Estará na moda? Será uma nova forma de turismo político? Ou, quiçá, uma demonstração de lealdade ao líder, não por reconhecimento de serviço, mas por mero hábito de reverência? Seja qual for o caso, a narrativa é clara: em Castelo Branco, os eleitos são como os pássaros migratórios, voam em busca de climas mais quentes e oportunidades de convívio. Por cá, a junta não corre perigo de ser desmantelada por falta de atividade; há sempre um bom motivo para um passeio a Lisboa.
De qualquer forma, resta-nos a consolação de que a junta regressará. Eventualmente. E quando regressar, voltará ao seu ritmo habitual: prometer e adiar. As necessidades da população poderão esperar, até porque quem faz a romaria à capital tem sempre a agenda muito ocupada – não com trabalho, mas com os momentos de glória política que, aparentemente, só se podem viver em Lisboa. O beija-mão, esse, já ficou feito e, com um pouco de sorte, da próxima vez há-te incluir uma refeição num restaurante da moda.
No fim, não nos resta muito senão esta reflexão: se a inércia fosse uma arte, Castelo Branco teria a sua própria galeria. Enquanto os seus representantes fazem visitas de cortesia, os cidadãos que se contentem com o espetáculo de uma junta em modo de hibernação.