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A morte do comércio local almadense

O comércio local, em Almada, está a morrer há muito. São anos de declínio e total abandono, dos pequenos comerciantes e proprietários de algumas das lojas mais antigas da cidade, que já fecharam portas, a maioria localizada na zona histórica.

A morte do comércio local almadense
DR

As poucas lojas que ainda resistem, localizam-se em ruas com fracas acessibilidades, falta de locais para estacionar e falta de limpeza camarária. Algumas, como a Bernardo Francisco da Costa, uma das ruas principais da cidade, perto do Mercado Municipal, já registam pouca actividade comercial. Só aqui, contam se cerca de trinta lojas que já fecharam portas: antigas lojas de fotografia, de venda e arranjo de máquinas de costura, talhos, mercearias familiares, barbearias, antigas ervanárias… Até a pastelaria Abaniko, uma das mais prestigiadas da cidade, jaz agora de portas encerradas e estores corridos, numa morte anunciada que custou a aceitar. A rua, é agora, um parque de estacionamento a céu aberto, com dezenas de carros, muitos deixados em cima dos passeios. O declínio do comércio local teve início, se recuarmos no tempo, com o encerramento dos estaleiros navais da Lisnave, no final dos anos 90, que acabou com milhares de postos de trabalho e tem a sua estocada final, com a inauguração do Almada Fórum, a 17 de Setembro de 2002. Considerado o maior centro comercial do sul do país, com duzentas e sessenta e duas lojas e cinemas NOS, recebe cerca de 14 milhões de visitantes por ano. A pandemia, viria a ser o golpe final, no pouco comércio tradicional que foi resistindo, como a antiga loja da Dona Noémia, na rua Capitão Leitão, a qual, durante mais de 50 anos, deliciou os almadenses, com o melhor café da cidade e outras iguarias. Hoje, mantem as portas abertas, com dificuldades, atulhada em quinquilharias e chinesices que ninguém compra.

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Do outro lado da rua, o velhinho café Calhambeque, está em vias de ser transformado num
qualquer mamarracho. Já quase no final da rua mais antiga da cidade, a pastelaria Império, lá se vai aguentando com a venda das raspadinhas. Em frente, a loja da Singer, que há muito encerrou portas, no piso térreo de um prédio centenário, em ruínas. Só nesta rua, onde se encontram as duas colectividades mais antigas de Almada: a Academia e a Incrível Almadense, existem mais de 30 lojas vazias. Os lojistas apontam a falta de dinamização social e cultural por parte da Câmara, falta de lugares de estacionamento e
acessos. Para Gonçalo Paulino, proprietário da farmácia Central, inaugurada pelos avós na década de 50, presidente da delegação de Almada da Associação e Comércio Indústria Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal (ACISTDS) “Em Almada falta muita coisa, desde a animação de rua a eventos e actividades que tragam dinamismo à cidade” a qual, há muito não passa do maior dormitório da margem sul. Os novos habitantes, sobretudo imigrantes da Ásia e de Leste, tentam, timidamente, avançar, mas ainda segundo Gonçalo Paulino “os novos espaços para alugar, apresentam rendas exorbitantes,” numa cidade das mais caras do país em relação ao sector imobiliário, mas onde falta a requalificação do espaço público, onde as ruas se apresentam quase sempre sujas e com lixo amontoado.

A morte do comércio local almadense
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Apesar do programa Dinamizar, criado pela Câmara Municipal em 2021, para atenuar os efeitos da pandemia, tal não foi suficiente, no dizer ainda do delegado da ACISTDS, que apela a um maior investimento. Para a autarquia, a solução parece estar no investimento do sector imobiliário, que tem vindo a avançar nos últimos anos, dada a proximidade com Lisboa, o que tem levado à fixação de novos moradores. A morte do comércio local, essa,
ninguém poderá esquecer. As ruas e lojas, cafés e livrarias, velhinhas drogarias, casas de ferragens, retrosarias e tantos outros negócios que deram vida à cidade, já fazem parte do passado.

Por Maria José Limpo

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Maria José Limpo
Maria José Limpo
Jornalista profissional com carteira, há mais de 30 anos, com destaque para a imprensa escrita, com larga experiência no jornalismo regional. Entre outras funções, foi colaboradora permanente da Revista " Familia Cristã", coordenadora editorial do jornal"Turiexpo", Chefe de Redação do semanário "Correio da Linha", em Oeiras e jornalista correspondente do "Jornal de Notícias".

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