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A Revolução do Segredo: A Transparência Trocada por Um Manto Cinzento

Em pleno 50º aniversário da Revolução de Abril, era de esperar que a liberdade e a transparência fossem tão evidentes como o sol que brilha nos céus de agosto. Mas, ironicamente, quanto mais o sol raia, mais sombrio se torna o cenário político português. Acabamos de entrar na nova era do cinzentismo, uma época em que a palavra “transparência” é usada com a mesma frequência com que é desrespeitada.

No centro deste nevoeiro espesso, surge a nova lei que limita o acesso às declarações de património dos nossos queridos políticos. Sim, aqueles mesmos que juraram de pés juntos representar o povo e agir em prol do bem comum. Agora, qualquer cidadão que ouse querer saber um pouco mais sobre as finanças dos seus representantes precisa de preencher um “requerimento fundamentado”. Ah, a ironia! Seria mais fácil pedir uma audiência com o Presidente da República ou, quem sabe, um milagre ao Santo António.

Mas, não nos fiquemos por aqui. Os jornalistas, esses seres incansáveis que teimam em incomodar os poderosos com perguntas inconvenientes, também não estão livres deste novo jugo. Não, meus caros, não basta dizer que se está a investigar para uma peça jornalística. A Entidade para a Transparência, que mais parece um organismo de opacidade, quer mais: exige um tratado filosófico sobre as intenções de quem ousa espreitar por detrás da cortina.

E aqui estamos nós, cidadãos perplexos, a observar este espetáculo tragicómico. Os nossos políticos, que de norte a sul do espectro partidário juram fidelidade à causa pública, parecem mais interessados em manter as suas vidas privadas… privadas. Não vá o diabo tecê-las e o público descobrir algo inconveniente.

Afinal, onde está a prometida transparência? Aquela que, durante campanhas eleitorais, é defendida com tanta veemência? Talvez esteja escondida, tal como as declarações de património, atrás de uma muralha de burocracia, protegida por um exército de requerimentos e justificações.

De Esquerda a Direita, passando pelo Centro, os nossos representantes tornaram-se mestres na arte do segredo. Resta-nos, a nós, meros mortais, tentar decifrar o que se passa por detrás das portas fechadas. Porque, ao que parece, a política, essa nobre arte que deveria ser de todos, tornou-se num clube exclusivo onde só entra quem sabe o código certo. E nós, os excluídos, ficamos cá fora, à porta, a tentar adivinhar que sombras se movem no interior deste manto cinzento que cobre o país.

Que nos perdoe a Revolução de Abril, mas este futuro não era o que prometia. No entanto, há uma certeza: os tempos mudam, os rostos também, mas o velho hábito de esconder, esse, parece que veio para ficar. Afinal, nesta nova era da política portuguesa, a transparência é um luxo que poucos se podem dar ao luxo de praticar. E, pelo que se vê, não está na lista de prioridades do nosso querido Parlamento.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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