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A RTP Está em Castelo Branco, Mas Serve a Quem?

Por quem vive o jornalismo no terreno — com independência e sem rede

A RTP tem uma delegação em Castelo Branco. Mas quem trabalha todos os dias no terreno, como é o nosso caso, sabe que essa presença é mais simbólica do que funcional. Está lá — sim. Mas faz o quê, para quem e com que liberdade? A resposta, infelizmente, aponta para uma realidade desconfortável: a delegação local da televisão pública raramente cumpre o papel que se espera de um serviço público de media. E quando o cumpre, fá-lo de forma tímida, controlada e frequentemente alinhada com os interesses do poder político local.

Foto: Câmara Municipal Castelo Branco

A missão da RTP deveria ser clara: informar com isenção, dar voz às comunidades, investigar com rigor e representar o país na sua totalidade — e não apenas os centros de decisão. Mas o que temos visto, na prática, é uma RTP que se limita a cobrir inaugurações, anunciar eventos, e reproduzir comunicados das câmaras municipais, sem qualquer questionamento. Aquilo que deveria ser jornalismo transforma-se em promoção institucional. Um serviço público capturado deixa de servir o público e passa a servir quem manda.

Esta realidade não é exclusiva de Castelo Branco, mas aqui sente-se com particular intensidade. E agrava-se quando se percebe que os meios, apoios e reconhecimento vão parar quase sempre aos mesmos — aqueles que ecoam a narrativa do município, que escolhem a conveniência em vez da independência. Os órgãos de comunicação social que ousam fazer jornalismo a sério, que colocam perguntas difíceis, que acompanham os problemas reais da região e dão palco a quem normalmente não o tem, são ignorados ou até marginalizados.

Foto: Câmara Municipal Castelo Branco

Enquanto isso, a RTP, que deveria ser aliada da informação livre, atua como extensão da propaganda local. Não por culpa direta dos profissionais no terreno, que muitas vezes trabalham em condições precárias e sob pressão, mas por uma cultura institucional que prefere não incomodar. A delegação existe, sim, mas está ausente do que importa. E isso diz muito sobre o estado do jornalismo público no interior do país.

A recente iniciativa “Ouvir a Beira Baixa”, promovida pelo Conselho de Opinião da RTP, poderia ter sido uma oportunidade para inverter este ciclo. No entanto, o evento acabou por soar a gesto de fachada. Reuniram-se representantes de entidades públicas e municipais — todos, curiosamente, parte do mesmo circuito de poder e influência. As vozes independentes e críticas, essas, ficaram de fora. Falaram entre si, elogiaram-se mutuamente, e concluíram que a RTP está no bom caminho. Nada mais confortável.
Mas a verdade está longe desse cenário cor-de-rosa. O interior continua silenciado. As histórias incómodas não chegam ao ecrã. As denúncias morrem na gaveta. E os territórios fora do radar continuam a sê-lo — não por falta de relevância, mas por falta de vontade em dar-lhes visibilidade.

Enquanto jornalista de um órgão de comunicação social independente, afirmo com clareza: o interior não precisa de mais megafones do poder. Precisa de jornalistas que ouçam, que perguntem, que investiguem e que tenham liberdade para trabalhar sem condicionamentos. E precisa de uma RTP que não seja apenas presença simbólica, mas força ativa na defesa da democracia, da transparência e da diversidade informativa.
Se o serviço público continuar a servir apenas os que já têm voz, não será serviço. Será submissão.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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