Num país em que o acesso universal à saúde é um direito consagrado, seria de esperar que a sua prestação fosse, no mínimo, eficiente. Contudo, a realidade, sobretudo no interior de Portugal, continua a revelar um sistema de saúde cada vez mais fragilizado, não apenas pela escassez de recursos humanos ou materiais, mas também — e sobretudo — pela sua pesada estrutura burocrática e falta de simplificação administrativa.
É comum ouvirmos falar dos longos tempos de espera, da escassez de médicos de família ou da falta de investimento nos cuidados primários. Mas raramente se discute um dos problemas mais silenciosos e persistentes: o desperdício de recursos provocado por processos redundantes, sobreposição de funções e circuitos administrativos desnecessariamente complexos.
No interior, onde os profissionais de saúde já operam em contexto de carência, esta ineficiência torna-se ainda mais crítica. Um médico que precisa de preencher múltiplos formulários com a mesma informação, um utente que tem de repetir análises por falta de partilha de dados entre unidades de saúde, ou um enfermeiro cuja função é absorvida por tarefas administrativas que poderiam ser automatizadas — todos estes exemplos ilustram uma realidade em que a saúde é sacrificada pela máquina burocrática.
Este tipo de disfunção gera não só custos financeiros elevados, como também um desgaste humano considerável. Os profissionais sentem-se desmotivados, sobrecarregados e, por vezes, impotentes perante um sistema que parece mais interessado em manter processos do que em servir pessoas.
A digitalização, tantas vezes anunciada como solução milagrosa, continua a ser parcial, descoordenada e, em muitos casos, mal implementada. A ausência de interoperabilidade entre plataformas informáticas ou a falta de formação adequada são exemplos de como a tecnologia, mal aplicada, pode agravar em vez de resolver.
Se queremos um Serviço Nacional de Saúde sustentável e verdadeiramente eficaz — especialmente onde ele é mais necessário, como no interior — é urgente repensar a sua organização. Algumas propostas concretas poderiam incluir a criação de plataformas digitais integradas e intuitivas, com partilha automática de dados clínicos entre unidades, a simplificação de procedimentos administrativos, com eliminação de redundâncias, a redefinição clara de funções, libertando os profissionais de saúde das tarefas que não lhes competem, a aposta em formação contínua nas ferramentas digitais para todos os
intervenientes no sistema ou a criação de unidades de gestão local mais ágeis, adaptadas à realidade do interior, que possam tomar decisões com maior autonomia.
Melhorar a eficiência do sistema de saúde não significa apenas gastar menos. Significa, acima de tudo, usar melhor os recursos que temos — e, com isso, garantir um acesso mais justo, humano e eficaz à saúde para todos os portugueses.
Maria João Antunes – Assistente Social
(IL – Iniciativa Liberal)