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A talhe de foice, o meu 25 de Abril de 1974 e ainda as contas penhoradas em Idanha-a-Nova

Há 50 anos, estava eu em pleno terceiro período escolar em Nampula, Moçambique, quando tivemos a noticia de que uns militares andavam nas ruas de Lisboa.

Ora bem, onde vivia, há época, era muito comum ver militares de todos os ramos das forças armadas na rua, especialmente e em maior número da marinha e do exército, pois o estado maior naval ficava a 700 metros da minha casa, numa frondosa praça e o do exército tinha as traseiras do edifício no meu horizonte. Menos de 30 metros.

As colunas militares de abastecimento, rendição de tropas e operações formavam em longas filas precisamente à frente da minha casa. Quartéis eram todos num raio de menos 1 km.

Por aqueles dias, Nampula era o epicentro da guerra em Moçambique e onde estava tudo o que era importante: as milícias, as tropas especiais (os comandos tinham o centro de formação em Montepuez, província de Nampula), portanto era normal ver todo o tipo de uniformes militares na rua, incluindo as policias militares (as três, com predominância da Policia Militar), largamente maioritárias em relação à PSP e com patrulhas bastas e constantes, afinal era uma cidade militar.

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Quando às 7h da manhã de dia 25 de Abril (9 da manhã em Lisboa) a cidade começou a fervilhar, ( a vida começa a essa hora, muito mais cedo que em Portugal) a noticia de que Lisboa tinha tropa e veículos militares nas ruas, para nós não era noticia.

No entanto quando chego ao Liceu Gago Coutinho, algo tinha mudado: um colega meu de turma não estava, era daqueles que ia sempre, tinha boas notas e era muito certinho. Era de estranhar até que um outro colega, vizinho deste, que morava num bairro de flats (apartamentos, mas em Moçambique a influência sul-africana era tal que o dia a dia mais parecia um criolo inglês-africander e português, viver em apartamentos não era comum e era sobretudo distintivo de oficiais milicianos e do quadro e altos quadros da administração pública, era distintivo) nos disse a razão: ele era filho do director da PIDE (para nós era apenas a policia à civil e que não se podia falar ao pé deles) e estava fugido em parte incerta. Percebemos que algo se passava.

Mas as tropelias continuaram, o quadro continuou a ser desligado às 16,30h (nesta altura em Moçambique, cujo sol começa a pôr-se a esta hora e a ficar mais frio, afinal caminha-se para o inverno), as aulas continuam pelo luz fusco e meia hora depois (sem luz não há aulas), ala que se faz tarde e lá vamos de retorno até casa do outro lado da cidade onde chegaria vinte minutos depois.

Ninguém sabe o que se passa.

A emissão da emissora nacional com Moçambique é cortada, tv não há, e ficamos na ignorância até dia 27 de Abril de 1974. Os jornais relatavam movimentos de tropas, noticias de disparos, mas nada se sabia. Meu pai na altura no laboratório militar tinha um capitão como chefe, Damas Mora, integrante do MFA, soube-se depois, que o alertou para algo de anormal. No dia 26 de Abril confirma que há um golpe a decorrer em Lisboa.

As comunicações militares entre unidades, de acesso geral, ficam cortadas e muito restritas. Sabe-se muito pouco. Apenas os altos comandos e provavelmente a inteligência militar sabiam realmente do que se passava.

A 27 de Abril a confirmação. Acordámos com grande alvoroço, tinha havido uma confusão diziam uns, outros que era uma revolução e havia mortos e feridos por todo o lado, os jornais, que rapidamente esgotavam conforme chegavam, mostravam fotos e muito poucas explicações. Só muitos dias mais tarde percebemos e soubemos o que se tinha passado.

De certeza: tinha havido um golpe de estado em Lisboa e apenas sabíamos que os militares mandavam e o governo não existia.

Vemos o Spínola, que conhecíamos bem da Guiné e ficámos aliviados. Era um gajo a sério, um duro e muito admirado e prestigiado pela tropa.

Em Moçambique continuou tudo na mesma. A vida fluía como dantes. Os toques de entrada, as batas a serem usadas, na vida civil a movimentação de tropas continua, a disciplina e a vida continuam como sempre.

Alterações só depois do 28 de Setembro, mas isso serão contas de outro rosário.

Em Moçambique a vida era boa, simples, confortável e tudo funcionava bem, antes e depois da abrilada. Havia alguma pobreza, mas a terra era tão rica e generosa que dava tudo o que era necessário à sobrevivência. Na metrópole, bom aí a coisa era bem diferente.

Bom, em Monsanto, tínhamos luz eléctrica na sede da freguesia e na Relva, que era onde estava o transformador (a cuja inauguração assisti), que permitia aos primeiros terem luz. Fraquinha, conseguia-se ter uma lâmpada de 40 velas e um frigorifico ligado, o resto não a menos que se desligasse uma das duas que estava ligada. Água ao domicilio era uma miragem, ia-se às fontes, durou até 1985. Saneamento, os sortudos tinham fossas sépticas que às vezes eram limpas, a generalidade usava os monturos, latrinas onde fosse possível, papel higiénico eram umas couves, ervas não urticantes e às vezes umas pedras mais lisas e menos agressivas, claro que a maior parte ficava no corpo. Banho, tomava-se uma vez por semana. Pobreza: indiscritível, só tive noção quando comecei a ir a casa de familiares e amigos a quem a fortuna tinha sido negada. A maioria das vezes, sopa que mais não era do que um caldo, água, umas batatas e com muita sorte couves, normalmente ervas que cresciam na calçada, pão e o às vezes conduto. A vida melhora para todos aqueles que os pais na década de 6º tinham ido a salto para França, a generalidade, ou para outros lados, alguns.

Em Odivelas, onde moro há 53 anos, era assim até 1984/85: no inverno a luz faltava das 20h até de manhã, compras eram nas mercearias e lugares, onde a fruta estava classificada em três categorias e os preços condizentes, a que saía mais era a mais barata e dias de ir para o lixo, carne, a mais barata e sobretudo a que poderia render mais, compras de roupas ia-se à baixa ou à av. da Igreja em Lisboa e a escolha múltipla resumia-se a três ou quatro padrões. Pobreza a cada esquina, barracas aos milhares e a ladearem as estradas e ruas (antigas azinhagas que dividiam as propriedades agrícolas, e nãos e pense que era só na periferia, no centro da cidade eram em barda.

Portanto, o que foi o 25 de Abril para mim? Para mim foi desta forma: a possibilidade de viver em Moçambique, país fabuloso que adorei, o plano era o meu pai sair com meia pensão do exército e ficarmos por lá, mantendo a casa em Odivelas. Foi ainda uma experiência única de vivência.

Vi, participei e fui actor em várias revoluções.

Desde logo o 25 de Abril, depois o PREC, os anarcas, as lutas estudantis, a ideologia, a mudança na sociedade, absolutamente único e irrepetível. A descolonização, os erros, o quase perigo de uma guerra civil em Moçambique entre Maio e Dezembro de 1974, quando chego a Portugal em 11 de Abril de 1975, a anarquia total, a bagunça, a indisciplina (fiquei atordoado nos primeiros tempos), as rga’s as reg´s, as greves gerais e sectoriais permanentes depois obviamente a efervescência politica, a consciência e perceber o que eu queria.

Apesar de o país ser nessa altura um manicómio em auto-gestão. O país e eu estávamos na adolescência.

Nem imaginam como foi esta experiência que de facto foram três. O país e eu estávamos na adolescência. O acne e as hormonas no auge.

A chegada a Portugal onde nem sabíamos onde estávamos e donde afinal tínhamos saído apenas 18 meses antes.

Depois claro, o 25 de Novembro. Isso serão contas de outro rosário.

Vivi um país por dentro, o 25 de Abril em Moçambique, a descolonização e a chegada dos guerrilheiros, o regresso a Portugal aonde nunca mais pensava voltar, o PREC, a revolução social, económica e sobretudo a alteração drástica do modo de viver.

Foi de facto um tempo fabuloso.

PS- Em crónica anterior, versei o que Armindo Jacinto fez, bem foi mais o que não fez, criticando fortemente tudo o que resultou do desbaratar de 450 mil euros, dinheiro de todos nós (sim, de todos nós, a autarquia apenas consegue suprimir menos de 15% do que gasta a verba iguala um ano de viagens e feiras do presidente da autarquia). Ora, o próprio Armindo Jacinto, publica um comunicado em corrobora tudo o que afirmei e ainda acrescenta: não sabem conservar e guardar o que não é deles. Desculpa-se com o facto de serem peles.

Meu caro senhor, toda a gente no concelho e na sua terra em particular, Penha Garcia, sabe conservar os artigos feitos com pele ou/e com rendas. TODOS! O senhor e os seus serviços falharam, há que exigir responsabilidades.

Mas o pior estava para vir; vai recorrer ao tribunal internacional dos direitos do homem!!!!!! Pasme-se!

Vai reclamar o quê? O senhor dá-se conta do desfalque que já fez e ainda tem o desplante de continuar? Pare! Seja responsável, por uma vez.

Afirma é incapaz de ter à sua guarda o espólio que não é seu?

Como pode o senhor, ser presidente de câmara ou/e autarca se é isso precisamente que se espera de si?

O senhor Armindo Jacinto, presidente da câmara municipal de Idanha-a-Nova afirma que a conta penhorada é para pagar à contra-parte mais de 330 mil euros, ao agente de execução e as custas do tribunal dos sucessivos recursos, por ter perdido. É que há mais algumas dezenas de processos a correrem nos tribunais e se o desfecho se repetir em todos ou em parte……..poderá vir dinheiro e mais aumentos do custo da água.

Diga, se faz favor a todos nós, quanto pagou ao advogado ou advogados que o acompanharam e aconselharam neste processo. Diga-nos de forma parcelar e discriminada quanto foram as custas judiciais.

Quanto aos funcionários envolvidos, quando têm alguém com este comportamento naturalmente não se poderá esperar muito melhor do que aquilo que aconteceu.

Ao estado a que isto chegou!

Salgueiro Maia veio com 22 carros e resolveu a situação.

“Reflictam sobre o País que querem” disse recentemente Ramalho Eanes.

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Jorge Azinheiro
Jorge Azinheiro
Profissional liberal com conhecimentos profundo (mais de 30 anos de experiência) em marketing e vendas, nas áreas do grande consumo e grande distribuição, TI, APP’s, microelectrónica. Membro do movimento associativo com diversas participações em associações de estudantes, de jovens e recreativas culturais.

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