Alexandra Leitão foi anunciada como candidata do PS à Câmara de Lisboa. Depois de uma longa reflexão, com os nomes de Alexandra Leitão e Mariana Vieira da Silva em cima da mesa, a escolha do secretário-geral recaiu na sua líder parlamentar, com objectivo de tentar recuperar a câmara da capital para os socialistas. Se for eleita, Alexandra Leitão, um nome mais bem recebido à esquerda do que o de Mariana Vieira da Silva, pode vir a ser a primeira mulher a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
O Partido Socialista vai candidatar Alexandra Leitão à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, numa escolha de Pedro Nuno Santos para tentar recuperar uma autarquia perdida por Fernando Medina em 2021.
Pedro Nuno Santos confirmou esta terça-feira que a candidata do PS à Câmara Municipal de Lisboa será Alexandra Leitão. Durante uma conferência de imprensa no Largo do Rato – onde o tema principal era o SNS – o líder socialista justificou que a líder parlamentar era “a figura mais importante do PS” depois de si próprio e do presidente do partido. Promovida a número dois, a jurista foi elevada ao concelho número um, pela sua “capacidade de realização e concretização”.
“É o sinal da aposta forte que estamos a fazer em Lisboa, uma cidade onde é cada vez mais clara a incapacidade de Carlos Moedas resolver problemas como da higiene e segurança, da mobilidade e trânsito e mesmo da habitação”, explicou Pedro Nuno Santos – um nome “forte”, que garante uma “disputa eleitoral viva e importante na capital do país”,
O líder socialista enfatizou o perfil de fazedora da antiga secretária de Estado da Educação e ex-ministra da Administração Pública: “O que procuramos é alguém capaz de realizar, e Alexandra Leitão tem essa capacidade de resolução de problemas”.
A escolha de Alexandra Leitão, explicou o secretário-geral do PS, “tem a ver com o perfil e a dimensão política que granjeou, o perfil de realização e de concretização e que oferece a possibilidade de disputar a CML, para o PS voltar a governar a câmara”.
Questionado sobre a possibilidade de Mariana Vieira da Silva, que não se concretizou, Pedro Nuno Santos descreveu a ex-ministra da Presidência de António Costa como “um dos melhores quadros do PS, vista como alguém de grande capacidade e qualidade política”, mas insistiu na escolha da líder parlamentar como a mais adequada e como forma de mostrar que o partido leva “a sério este combate eleitoral”.
Segundo o secretário-geral do PS, “da esquerda à direita, começa a ser presente que Carlos Moedas consegue trabalhar bem a sua imagem, mas não resolve os problemas aos lisboetas”.
“Campanha” começou há 3 meses
A antiga secretária de Estado Adjunta e da Educação no primeiro Governo de António Costa e ex-ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública entre 2019 e 2022, já tinha demonstrado o seu interesse em ser a primeira mulher a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Há cerca de três meses, Alexandra Leitão começou a “dar a entender” que estava interessada em concorrer à principal autarquia do País, quando iniciou uma série de intervenções públicas visando o agora adversário nas autárquicas.
Num artigo no Expresso, a 10 de outubro, com o título “A direita, a extrema-direita e o discurso de Carlos Moedas”, a dirigente socialista acusou o presidente da Câmara de ter feito, na cerimónia do dia 5 de outubro, “um discurso lamentável, perigoso e irresponsável”. “O discurso de um político que põe a sua ambição em primeiro lugar e procura a todo o custo ganhar os votos da extrema-direita. Melhor assim, caiu a máscara. Os lisboetas merecem mais e melhor”, escreveu. Uma “apropriação de premissas falsas, alarmistas, xenófobas e geradoras de ódio”, acusou a líder parlamentar.
Posteriormente, num post na rede social X, reiterava a aproximação de Moedas à extrema-direita e, dias depois, no programa Princípio da Incerteza, da CNN Portugal, Alexandra Leitão apontava ao PSD uma “deriva para a extrema-direita”, que, em seu entender, acontecia “por uma razão óbvia: quer ir buscar os votos da extrema-direita. Aliás, Carlos Moedas já o fez”.
Já antes, no mesmo programa, a propósito da decisão de passar a celebrar o 25 de novembro, Alexandra Leitão afirmou que “Moedas viu aqui um momento para, em pleno 5 de Outubro, roubar o dia, como se costuma dizer em teatro, roubou o palco, e passou para segundo plano todas as outras intervenções com este anúncio – que não critico propriamente o anúncio -, mas gostaria se calhar mais de ter ouvido o presidente da câmara de Lisboa falar sobre habitação, sobre mobilidade urbana e sobre outras coisas que preocupam bastante mais os lisboetas. Nunca foi uma cidade tão elitista como é hoje e gostaria também de ter ouvido Moedas falar sobre isso”.
Bem “recebida” à esquerda
Alexandra Leitão é um nome mais bem recebido à esquerda do que o de Mariana Vieira da Silva, que também estava em cima da mesa e que não era rejeitado pelos partidos à sua esquerda. No entanto, a proximidade entre Mariana Vieira da Silva e Fernando Medina poderiam tornar mais difíceis as negociações.
Não podemos esquecer que o PS mantém a ideia de liderar uma coligação de esquerda para concorrer contra Carlos Moedas e que deve incluir Bloco de Esquerda, Livre e PAN. O PCP anunciou a candidatura de João Ferreira em Setembro e excluiu participar numa nova coligação, mas o PS ainda não desistiu de cativar o PCP para a “grande coligação”. Não só não seria uma estreia (Jorge Sampaio liderou uma idêntica em 1989 e ganhou a Câmara de Lisboa), como a fórmula eleitoral autárquica pode tornar mais difícil ao PCP justificar ficar de fora de uma coligação deste género.
Nas eleições para as câmaras municipais, por um voto se ganha e por um voto se perde. Ora, a dúvida é se o PCP vai querer ficar “responsável” pela reeleição de Carlos Moedas, se os seus votos forem suficientes para evitar que o presidente da câmara eleito numa coligação PSD-CDS renove o mandato.
Já há alguns meses que se sabia que, para a candidatura à Câmara de Lisboa, a direcção do PS estava hesitante entre Mariana Vieira da Silva ou Alexandra Leitão. Pedro Nuno Santos demorou a tomar uma decisão e, desde que Ricardo Leão se demitiu da Federação para a Área Urbana de Lisboa (FAUL), passou a ter o argumento do processo eleitoral da Federação — ainda que a decisão sobre o candidato autárquico a Lisboa não passe pela FAUL, apenas pela concelhia de Lisboa, presidida por Davide Amado, presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, Lisboa.