A vitória de Donald Trump nas eleições de novembro representa um potencial revés para o crescimento económico da Zona Euro, com analistas a preverem um impacto negativo de 0,5% no PIB europeu, consequência de uma política protecionista e de um provável aumento nas despesas com a Defesa. A confirmar-se, esta redução no crescimento será uma significativa travagem face às projeções previamente atualizadas pelo Banco Central Europeu (BCE) em setembro, já então mais conservadoras do que as de junho
Protecionismo e Tarifas: Barreiras ao Comércio e ao Crescimento Europeu
Especialistas apontam que as políticas económicas de Trump devem incluir tarifas elevadas sobre importações, nomeadamente da Europa, num retorno à agenda protecionista que marcou o seu primeiro mandato. De acordo com Thomas Hempell, analista da Generali AM, uma tarifa de 10% sobre as importações norte-americanas poderia reduzir o crescimento do PIB da Zona Euro em 0,2 pontos percentuais, afetando o desempenho económico de toda a região. Em consonância, analistas da Goldman Sachs preveem uma perda de 0,5% no PIB real da Zona Euro, estimando impactos mais acentuados na Alemanha (-0,6%) e no Reino Unido (-0,4%).

Estudos da London School of Economics apontam para um potencial recuo de 0,11% no crescimento da União Europeia (UE), caso estas políticas se concretizem. Em resposta, analistas alertam que uma retaliação europeia com tarifas sobre produtos dos EUA poderá resultar em pressões adicionais sobre o crescimento global.
Setores Mais Vulneráveis e Efeitos nas Exportações
A Alemanha, uma das maiores economias exportadoras da Europa, será particularmente vulnerável, com o instituto económico alemão IFO a antecipar uma queda de 15% nas exportações para os EUA, caso as tarifas de importação sejam elevadas. Clemens Fuest, presidente do IFO, sublinha que a “agenda claramente protecionista” de Trump poderá colocar em risco setores cruciais da economia alemã e europeia, sugerindo a necessidade de cautela.
No mercado financeiro, a Allianz GI adverte que o aumento das tarifas poderá afetar as ações europeias, sobretudo de setores dependentes do comércio com os EUA, como o automóvel, o de bens de luxo e o da aviação. Em contrapartida, ações em setores como o petróleo, finanças e infraestrutura poderão registar uma valorização.
Aumento de Despesas Militares: Um Novo Fardo Fiscal para a Europa
Para além das tarifas, prevê-se uma pressão acrescida para que a Europa aumente as despesas militares, com a Goldman Sachs a estimar que a reeleição de Trump implicará novos investimentos na Defesa. Esta pressão é particularmente relevante para países europeus que ainda não atingiram a meta de 2% do PIB, definida pela NATO, como destaca a Generali AM, indicando que os Estados-membros da UE enfrentarão tensões fiscais e políticas adicionais para conciliar este aumento nas despesas com as suas regras orçamentais.
A vitória de Donald Trump representa uma ameaça ao crescimento económico europeu, tanto pela via do comércio como pelas exigências em matéria de Defesa. Caso estas previsões se confirmem, a Europa poderá enfrentar uma perda significativa no seu PIB, com consequências que se farão sentir já em 2025, numa altura em que o BCE já antecipava uma desaceleração do crescimento. Analistas recomendam prudência e uma preparação adequada para enfrentar os desafios impostos pela nova liderança nos Estados Unidos.