No rescaldo das eleições europeias, Luís Montenegro anunciou o apoio de Portugal à candidatura de António Costa à Comissão Europeia. O próprio Costa vaticinou durante a noite eleitoral que este resultado provavelmente permitirá que na dança das cadeiras em Bruxelas um socialista ocupe o Conselho Europeu. No entanto, Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu, não quer um socialista e já pediu ao chanceler alemão, de centro-esquerda, e ao Presidente francês, cujo partido integra o liberal Renovar a Europa no Parlamento Europeu, apoiem Ursula von der Leyen para um segundo mandato. Em Espanha, António Costa conta com o apoio incondicional do amigo Pedro Sánchez, que se aguentou e já só olha para a Catalunha
O resultado das eleições é claro. O Partido Popular Europeu é o número um, elegendo 184 eurodeputados. Seguem-se os socialistas e democratas com 139 eurodeputados. Os renovadores e liberais elegeram 79. Os Conservadores e Reformistas 73. O grupo Identidade e Democracia 58 deputados. Os Verdes conquistaram 52 lugares e a Esquerda 36. Os outros partidos conseguiram 54 deputados e os “não inscritos” ocupam 45 lugares.
Os grupos parlamentares ao centro conseguem manter uma maioria do centro democrático, mas o desenho final do parlamento mostra também uma subida dos grupos de direita radical e extrema-direita. Os liberais e os verdes registaram as quedas mais acentuadas nestas eleições europeias.
Ursula von der Leyen está confiante no apoio dos socialistas e dos liberais para conseguir ser reeleita presidente da Comissão. António Costa também espera o mesmo, agora que Luís Montenegro declarou o seu apoio inequívoco à candidatura do antigo Primeiro-ministro. Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu, pede insistente e enfaticamente que o chanceler alemão, de centro-esquerda, e o Presidente francês, cujo partido integra o liberal Renovar a Europa no Parlamento Europeu, apoiem Ursula von der Leyen para um segundo mandato.
Em França em que a subida da extrema-direita mais estragos imediatos parece ter feito a Macron, que dissolveu a Assembleia Nacional e marcou legislativas para 30 de junho, a questão de quem vai ocupar a presidência da Comissão Europeia não se coloca de momento. Macron está mais preocupado com Marine Le Pen, que nunca esteve tão perto da presidência como está agora
Em Lisboa, Luís Montenegro declarou apoio a António Costa para presidir ao Conselho Europeu, prometendo o apoio da AD e do Governo ao ex-primeiro-ministro que já assumiu que está a trabalhar para o lugar. E mais: conversaram um com o outro sobre o assunto, ainda antes de Montenegro ser primeiro-ministro e logo nessa altura o presidente do PSD assumiu juntos dos seus colegas do Partido Popular Europeu que iria apoiar Costa. E esta noite enviou de Lisboa a Bruxelas o aviso de candidatura.
Após começarem a ser conhecidas as primeiras projecções eleitorais um pouco por toda a União Europeia, António Costa considerou que o grande vencedor é o PS: “Diria que a presidência da Comissão Europeia vai ser do PPE e o cargo de presidente do Conselho Europeu dos socialistas”, admitiu o ex-primeiro-ministro.
O socialista considerou que para cargos europeus “há sempre uma extensa lista de ex-primeiros-ministros excelentes. Há uma pequena diferença é que os que estão em exercício são os que estão à volta da mesa para escolher os nomes e isso faz tudo uma grande diferença”.
No seu entender, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “tem todas as condições para ser reeleita”, porque o “PPE vai continuar a ser a primeira força” e “nenhum dos grupos da extrema-direita consegue ultrapassar os liberais” no Parlamento.
Candidato socialista
“É possível que a presidência do Conselho Europeu seja destinada a um candidato socialista. Se o Dr. António Costa for candidato a esse lugar, a AD e o Governo de Portugal não só apoiarão como farão tudo para que essa candidatura possa ter sucesso”, afirmou Luís Montenegro.
Em reação a estas declarações, António Costa começou por dizer que “é importante para Portugal que portugueses desempenhem funções nas instituições internacionais” e recordou que, há 20 anos, também ele apoiou a eleição do social-democrata Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia, assim como outros políticos.
“Foi com muito orgulho nos anos que fui primeiro-ministro contribui para que um português seja secretário-geral das Nações Unidas, António Gutuerres, um presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, um diretor-geral para as Imigrações, António Vitorino. Se houver essa oportunidade será bom para o país”, apontou.
António Costa confirmou também que já tinha falado com Luís Montenegro sobre uma eventual candidatura e que, por isso, já conhecia a sua posição de apoio. “Ainda não era primeiro-ministro e tinha-me transmitido que daria esse apoio. Eu, aliás, pus-lhe a questão”, indicou o ex-governante, ressalvando que caberá aos socialistas europeus decidir quem será o candidato.
De Espanha surge o grande apoio à candidatura de Costa. O Primeiro-ministro espanhol, “amigo de peito”, diz que o seu ex-homólogo português tem todas as qualidades para presidir ao Conselho Europeu. “António Costa é um grande político”, disse Sánchez.
Dizendo-se “um declarado aficionado da política de António Costa e da liderança que exerceu tanto em Portugal como na Europa”, Sánchez realçou que o debate e a negociação para a escolha do próximo presidente do Conselho Europeu estão ainda “numa fase muito prematura”.
Tudo se alinha para Costa
Pelos vistos, os astros alinham-se cada vez mais para que António Costa possa vir a ser presidente do Conselho Europeu em 2024. O ex- Primeiro-ministro corresponde a dois critérios que a elite europeia não tem por hábito dispensar para o cargo: ser de um país médio da UE e ter sido um primeiro-ministro em funções. Foi assim com os três representantes anteriores do cargo: Herman von Rompuy (Bélgica), Donald Tusk (Polónia, neste caso um país grande) e Charles Michel (Bélgica).
Além disso, Costa goza de um prestígio entre socialistas que é reconhecido pela direita europeia. O ex-primeiro-ministro português é o decano socialista no Conselho, tendo chegado antes de Pedro Sánchez às lides europeias e muito antes de Robert Abela (Malta) ou Mette Frederiksen (Dinamarca). Olaf Scholz é um caso à parte: sendo chanceler alemão nunca poderia (nem quereria) abandonar o cargo para assumir um alto cargo europeu. Além disso, um dos “big four” já estará ocupado por uma alemã (Ursula von der Leyen).
António Costa é também um nome que não tem anticorpos europeus (há uma querela com o líder da CDU, Manfred Weber): o PPE vê no português um moderado, os socialistas como um dos seus, o líder do liberais (Emmanuel Macron) vê nele um aliado e mesmo em setores mais conservadores é bem recebido.