Um dos esquemas utilizados para lesar a Altice configura um crime de burla e centra-se na venda de sete imóveis da antiga PT em zonas privilegiadas de Lisboa, por valores muito abaixo do mercado. Altice já confirmou as buscas.
O milionário Armando Pereira, um dos donos do grupo Altice, e o bracarense Hernâni Vaz Antunes, considerado o seu braço direito, estão a ser alvo de buscas. Segundo o jornal Sol, uma equipa de investigadores encontra-se neste momento na sumptuosa mansão em Vieira do Minho, onde o milionário tem a sua coleção de carros de luxo. Muitos num valor acima de um milhão.
A operação, que se centra essencialmente no Norte do País e em Lisboa, está a ser levada a cabo por mais de uma centena de agentes da PSP e da Inspeção Tributária (IT) e inclui buscas que estão a ser realizadas às residências dos dois homens e de alegados testas de ferro, a várias sociedades e ao grupo Altice, a maior operadora francesa que comprou a PT.
A operação desencadeada esta manhã está a ser coordenada, da parte do Ministério Público (MP), pelo procurador Rosário Teixeira e, do lado da IT, pelo inspetor Paulo Silva (da delegação de Braga). Também o juiz Carlos Alexandre, que está de partida para o tribunal da Relação de Lisboa, está no terreno. No fundo, o mesmo trio responsável pela Operação Marquês, no âmbito da qual o ex-primeiro-ministro e antigo líder socialista José Sócrates foi detido há quase nove anos por suspeitas de corrupção passiva, evasão fiscal e branqueamento de capitais.
Armando Pereira e Hernâni Antunes são suspeitos de fraude fiscal agravada, branqueamento de capitais, corrupção privada e burla ao grupo Altice que tem como principal acionista o franco-israelita Patrick Drahi.
Trata-se do culminar de um longo processo de investigação que teve a sua origem na Operação Monte Branco, que em 2011 desmantelou uma rede dedicada à prática de alegados crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais (incidindo sobre movimentos financeiros ilícitos ocorridos desde 2006, no valor de diversas dezenas de milhões de euros), que operava a partir da Suíça, permitindo a centenas de empresários portugueses fugir aos impostos e apagar o rasto das suas fortunas. Nas buscas feitas ao então BES (cuja resolução, em 2014, deu origem ao Novo Banco) foi descoberta informação que permitiu mais tarde a extração de três certidões judiciais: a primeira certidão deu origem à Operação Cartão Vermelho que investiga, entre outras coisas, a dívida de Luís Filipe Vieira ao extinto banco, a qual já havia transitado para a instituição que lhe sucedera, e quantias milionárias que foram desviadas da Benfica SAD para contas de Vieira e que levou à prisão temporária do líder das águias; a segunda envolveu o líder do Dragão, Nuno Pinto da Costa, suspeito de desviar 40 milhões de euros da SAD do Porto, denominada Operação Prolongamento; e por fim a investigação que culminou hoje com as buscas a Armando Pereira, Hernâni Antunes e demais suspeitos.
Em comum, os três casos têm o nome do advogado e empresário desportivo bracarense Bruno Macedo que serviu de placa giratória de distribuição de comissões ilegítimas com ligações tanto a Vieira como a Pinto da Costa. Tudo começou, aliás, com um processo da Inspeção Tributária de Braga relacionado com um pedido de reembolso de uma sociedade de Macedo.
No caso da Altice, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira e pela Autoridade Tributária de Braga suspeitam que houve comissões relacionadas com a aquisição por parte do grupo (proprietário da operadora de comunicações MEO) dos direitos de transmissão televisiva de jogos de futebol do FCP que terão lesado o clube em 20 milhões de euros.