Quinta-feira,Maio 15, 2025
9 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Armindo Jacinto vendedor de queijos e de ilusões: Os negócios por detrás da política

Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova é também empresário, e aproveita a sua influência, e os recursos humanos e financeiros do Município, e de uma empresa intermunicipal de que é presidente da administração, para promover e comercializar os produtos da sua empresa familiar

Foto: D.R. – Armindo Jacinto, Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova

AUTARCA MONTOU ESQUEMA PARA FAVORECER NEGÓCIOS FAMILIARES

O governo da República caiu, e Portugal prepara-se para decidir o seu futuro político, em mais umas eleições legislativas, após terem sido desmascarados os negócios da empresa familiar do primeiro-ministro, Luís Montenegro.

Em Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, presidente da Câmara Municipal, é também ele um homem de negócios, e, à semelhança de Luís Montenegro, também a sua empresa familiar tem ligações com a autarquia da qual é presidente, através de um esquema que o ORegiões acaba de desmontar.

Porém, Armindo Jacinto consegue ir ainda mais longe do que o chefe do Governo, uma vez que se prevalece dos meios e dos recursos públicos da autarquia para promover os negócios da sua empresa, em Portugal e no estrangeiro, sem qualquer pudor. E como se isso não fosse suficientemente grave, Jacinto utiliza igualmente os meios e recursos de uma empresa intermunicipal, da qual é presidente do Conselho de Administração, que vive às custas de financiamento público, a Naturtejo, para angariar, da mesma forma despudorada, negócios e clientela para a sua empresa.

Fonte ligada à autarquia desconstruiu para o ORegiões o esquema montado por Armindo Jacinto, esquema esse que agora divulgamos em exclusivo aos nossos leitores.

 

BÉZE: UMA EMPRESA FAMILIAR

Foto: D.R. – Queijos da Fonte Insonsa

A empresa familiar do presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova chama-se Bézé, Arte e Decoração, Lda, e tem a natureza jurídica de uma sociedade por quotas, com um capital social de cinco mil euros, detido em partes iguais por Armindo Jacinto e por Ana Bela Ascensão Gaspar, com quem Jacinto é casado no regime de comunhão de adquiridos.

Apesar de ter um objecto social bastante vasto, a empresa de Armindo Jacinto dedica-se, sobretudo, à produção e comercialização de queijo e também à produção e comercialização de carne de porco bísaro, tudo com a marca Fonte Insonsa.

Ana Bela Gaspar assume o cargo de gerente da sociedade, mas é Armindo Jacinto que se ocupa de divulgar os seus produtos e angariar clientela, para isso utilizando os meios e recursos da autarquia e da Naturtejo.

Foto: D.R.

Armindo Jacinto aproveita as principais feiras alimentares e de agricultura para nelas fazer representar o Município de Idanha-a-Nova e a Naturtejo, para desse modo promover e angariar negócios e clientela para o Queijo da Fonte e para a carne de porco bísaro.

Para além disso, Armindo Jacinto aproveita ainda os festivais gastronómicos e outros certames comerciais, promovidos pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, tais como o Arrebita Idanha Bio ou mesmo a Feira Raiana, para promover o seu queijo e a sua carne de porco, sendo que, como adiantou a ORegiões fonte da autarquia, alguns chefes de culinária convidados confecionam os seus pratos com produtos que para o efeito adquirem à empresa familiar Bézé.

 

GALANTE: O DELEGADO DE VENDAS DE ARMINDO JACINTO

Foto: D.R. – António Galante

Peça fundamental no esquema comercial montado por Armindo Jacinto, à sombra da Naturtejo e do Município de Idanha-a-Nova, é António Galante. Funcionário da autarquia há perto de 30 anos, Galante é uma espécie de delegado de vendas e angariador de clientela, para o queijo e os produtos cárnicos da Fonte Insonsa. Embora ninguém saiba, ao certo, qual é a função de António Galante, dentro do Município, fonte da autarquia garantiu a ORegiões que este funcionário tem à sua disposição uma viatura, sem limite de quilómetros, bem como o cartão frota para abastecimento de combustível, igualmente sem limite, para se deslocar por onde muito bem entender. Com total isenção de horário, e sempre em teletrabalho, Galante é elemento indispensável em eventos em que participe a autarquia, como a Feira de Agricultura de Santarém, desde que isso represente uma oportunidade de promover e divulgar os produtos da Bezé, ou seja, os queijos e a carne da Fonte Insonsa.  

Foto: D.R.

Para além de promover e divulgar os queijos e a carne da Fonte Insonsa, Galante superintende ainda a contratação de artistas e de fornecedores dos eventos comerciais e festivos da autarquia, assumindo responsabilidades que, segundo fonte ligada ao Município, ultrapassam não só o conteúdo funcional do seu contrato de trabalho, como também a sua competência técnica e profissional. Segundo a mesma fonte, é ele que negoceia e ajusta os preços e as percentagens de desconto, de fornecimento de bens e serviços, nas condições e com as contrapartidas previamente ditadas por Armindo Jacinto. Verdadeiro homem de mão de Armindo Jacinto, único superior hierárquico a quem responde, Galante raramente é visto pelos seus colegas, os funcionários da autarquia, dada a total liberdade de que dispõe para fazer o que quiser, no tempo que lhe resta depois de participar nas feiras e festivais, onde promove os queijos e a carne da empresa de Jacinto.

ESQUEMA CIRCULAR ENVOLVE EMPRESA DE ARMINDO E FORNECEDOR DO MUNICÍPIO

Foto: D.R. – Miosótis

Para além do esquema de promoção e divulgação do queijo e da carne de porco produzidos pela sua empresa familiar, à custa dos recursos financeiros e humanos do município de Idanha-a-Nova e da empresa intermunicipal Naturtejo, Armindo Jacinto concebeu ainda um outro esquema. Isto porque uma das principais clientes da sua empresa familiar é, ao mesmo tempo, uma das mais importantes fornecedoras de géneros alimentícios da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova. Trata-se da sociedade comercial por quotas Socomebio Agricultura Biológica, Unipessoal, Lda, com sede na Rua Latino Coelho, n.º 89, em Lisboa, cujo representante legal é António Pedro Serralheiro Gonçalves Barroso. Esta empresa detém a marca “Miosótis”, loja especializada em produtos biológicos, cuja morada é a mesma da Socomebio Lda, e que comercializa os produtos da empresa familiar de Armindo Jacinto.

Foto: D.R. – Miosótis

 

Foto: D.R. – Socomebio Lda

Ligada à Socomebio está uma outra empresa de comercialização de produtos cárnicos, cujo nome comercial é Talho das Manas, embora gire sobre a firma José Pedro Cartaxo & Filhas, Lda, de Torres Vedras. Fornecedora da Socomebio, esta empresa é ao mesmo tempo comercializadora da carne de porco bísaro da Fonte Insonsa.

Foto: D.R. – Talho das Manas (Fonte Insonsa, Produção Porco Bísaro)

Empresa relativamente discreta, a Socomebio surgiu no portal da contratação pública apenas em 2022 (base.gov), e, desde então para cá, registam-se no seu ficheiro tão somente quatro contratos públicos, todos com o Município de Idanha-a-Nova, a quem, em menos de três anos, esta pequena empresa já facturou perto de meio milhão de euros.

O Primeiro desses contratos foi celebrado a 25 de Maio de 2022, pelo valor de 18.521,88 euros, e destinou-se à aquisição de géneros alimentícios para a cantina da Escola José Silvestre Ribeiro e para a cantina municipal, sendo 8.014,00 euros para azeite e 10.507,88 euros para os mais diversos produtos de mercearia.

O segundo contrato, do mesmo ano de 2022, foi celebrado a 8 de Novembro, por um valor bem diferente do anterior, cifrando-se este no montante de 147.750,58 euros, para fornecimento de pescado e carne, sendo que dessa quantia 55.378,83 se destinaram à aquisição de peixe, e 92.371, 75 euros se aplicaram a adquirir produtos cárnicos, designadamente 300 kg de costeletas de porco, 150 kg de lombo de porco, e 442 kg de bifanas de porco.

O terceiro contrato, realizado sensivelmente um ano depois do segundo, a 20/07/23, foi ainda realizado por um valor superior àquele, num total de 155.424,30, e destinou-se a adquirir mercearia bio, legumes ultracongelados bio, carne e ovos. De entre os produtos de mercearia bio, tal contrato previu a aquisição de 5 kg de queijo vegan, hambúrgueres vegetarianos, alheira vegetariana, soja em grão, soja granulada e tofu. Por sua vez, este contrato contemplou também a aquisição de 560 kg de bifanas de porco, 415 kg de costeletas de porco, e 100kg de lombo de porco.

Foto: D.R.

Finalmente, o quarto daqueles contratos, realizado a 25/11/2024, foi realizado pelo montante de 172.200,51 euros, e previu o fornecimento de azeite, mercearia bio, legumes ultracongelados bio, carne e ovos, e contemplou almôndegas vegetarianas, hambúrgueres vegetarianos, seitan, soja granulada, soja grossa, tofu e 3 kg de queijo vegan. Para além de 560 kg de bifana de porco, 415 kg de costeleta de porco, 200 kg de lombo, e 280 kg de pá de porco.

Segundo as informações que ORegiões conseguiu apurar junto do portal da contratação pública, foram diversas as empresas que apresentaram propostas no âmbito destes concursos de fornecimento de bens alimentícios, embora seja sempre a Socomebio a fornecedora escolhida, com base no critério do preço mais baixo, mesmo quando uma das concorrentes foi o próprio Talho das Manas, que ao contrário da Socomebio, é uma empresa exclusivamente vocacionada para a venda de produtos cárnicos.

Fonte ligada à autarquia ouvida pelo ORegiões afirma que a preferência reiterada do Município de Idanha-a-Nova pela Socomebio pode estar relacionada com as ligações comerciais existentes entre a empresa de Armindo Jacinto e esta empresa, facto que não foi possível apurar até ao fecho da edição.

Independentemente de quais sejam essas motivações, parece evidente existir um conflito de interesses nestes procedimentos, aparentemente feridos de falta de garantias de imparcialidade, e que podem mesmo configurar um caso de impedimento previsto na lei, uma vez que é impossível dissociar as duas naturezas em que Armindo Jacinto intervém em tais negócios. O mesmo se podendo afirmar, porventura ainda com mais gravidade, da utilização de recursos públicos que Armindo Jacinto faz para promover, divulgar e comercializar os produtos da sua empresa familiar. O caso continua a ser acompanhado pelo ORegiões.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:

4 COMENTÁRIOS

  1. Que se limpe a estrada para que estes canalhas não vinguem.
    Os negocios são tantos, o Rihs e o cartel, o Fora do lugar, a do Arneiro, os do azeite, os bolinhos bio e as supostas encomendas da camera, as refeições progectadas na base gov, as maquinas de desinfecção covid, ainda falta muita coisa, a filarmonica, a agencia Martins, o arrebita e os restaurantes, o cmcd. Aíííííí aiiiii compadrio.

  2. É positivo que a imprensa faça o devido escrutinio dos politicos, porém esta obsessão com o Armindo Jacinto quase faz lembrar as campanhas negras de Paulo Fafe e Luís Bernardo que foram objecto de reportagem no Expresso esta semana. Um dia destes alguém irá contabilizar quantos artigos o jornal o Regiões fez desde que teve inicio e depois irá calcular as percentagens desses artigos dedicados ao politico A ou B. E quando se começam a fazer analises estatisticas descobrem-se coisas interessantes como o Expresso descobriu quando foi analisar 384 primeiras páginas do jornal Tal e Qual. Assim sendo e para evitar factos estatisticamente desagradáveis, seria conveniente que O Regiões também dedicasse igual esforço a investigar outros presidentes de Câmara, pois só no distrito de Castelo Branco há onze e de certeza absoluta que o Armindo Jacinto não será o único com coisas interessantes para investigar.

  3. Se o Regiões não conseguir descobrir coisas “interessantes” sobre outros politicos do distrito, pode ainda assim tentar reduzir a densidade estatistica das noticias dedicadas ao Armindo Jacinto, através do aumento de outras noticias, por exemplo e para mostrar que o Regiões não está obcecado com noticias negativas, divulgando noticias sobre coisas invulgares feitas por pessoas que residam no distrito. É claro que se O Regiões não consegue descobrir essas noticias positivas pode sempre perguntar ao CHATGPT. Por exemplo Castelo Branco conquistou a bandeira verde ECOXXI 2024, porém o Regiões não divulgou essa noticia. Porquê ? Porque essa noticia contraria a narrativa do Regiões de que em Castelo Branco nada acontece de positivo ? Ironicamente em 2023 quando outra autarquia recebeu essa bandeira O Regiões divulgou esse facto. Isso não parece ser muito coerente nem sinal de jornalismo de elevada qualidade pois não ?

  4. Serrasqueiro, vergonha alheia, é o que é. Se este homem é tao mau para as pessoas e vingativo, que Idanha até têm medo de comentar e falar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Chega! galga

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.