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As Gravatas dos Políticos: As Cores da Hipocrisia em Tempos de Crise

No inicio da manhã, os líderes dos partidos políticos reúnem-se em volta da mesa, a expectativa palpável no ar. Entre a troca de cumprimentos e sorrisos ensaiados, os telefones tocam como se fossem os sinos de um ritual. “Alô? É para perguntar qual a cor da gravata que levas hoje para baralharmos nas televisões?”, pergunta um dos líderes, numa conversa que mais parece uma cena de comédia do que um momento sério de decisão política. “Olha, eu hoje vou de vermelha! Assim, passo a mensagem de que o PS tem esperança na aprovação das propostas”, responde outro, num tom de quem fala de um jogo de futebol, não de questões que afetam o futuro do país.

É curioso ver como a gravata se transforma na bandeira de um exército que luta, não por ideais, mas por uma imagem. A escolha da cor torna-se um acto político, como se a simplicidade de um nó de gravata pudesse alterar o curso da história. “E eu vou de verde!”, acrescenta Pedro Nuno Santos. “Isso irá sinalizar a esperança que, como todos sabemos, é sempre a última a morrer.” Uma ironia que, no contexto actual, quase parece um truísmo.

Mas a reunião não é apenas uma troca de olhares e gravatas. É um verdadeiro desfile de vaidades onde, em vez de discutir os problemas que assolam o país, o foco está na estética das suas aparições. O PSD, por exemplo, não se quer deixar ficar para trás, e entre um copo de café e outro, arranja uma gravata que faça frente à dos adversários. “Assim, se aprova o orçamento, nem tu, Montenegro, com a tua gravata vermelha, cais do cadeirão”, provoca um dos presentes, como se a cor da gravata tivesse algum poder mágico.

Mas o humor negro da situação surge quando alguém menciona André Ventura. “Ah, e atenção, Montenegro, que há pouco espreitei as televisões e vi o Ventura com a gravata preta, pronto para o enterro e a queda do orçamento.” A risada que se segue é abafada por um lamento coletivo, como se todos soubessem que, na verdade, o que está em jogo não é a cor da gravata, mas a vida de milhões de cidadãos que esperam decisões que muitas vezes parecem sair de um programa de comédia.

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A escolha da gravata representa bem mais do que um simples acessório. É uma forma de mascarar a realidade, de dar um ar de seriedade a um teatro onde os actores não parecem estar muito preocupados com o enredo. O discurso político transforma-se numa espécie de palhaçada onde, em vez de se debater a qualidade do que é proposto, se discute a palete de cores que melhor se adapta ao “espectáculo” do dia.

Ao olhar para a cena, somos levados a perguntar: até que ponto a cor da gravata pode realmente fazer a diferença? Os problemas persistem, as dificuldades acumulam-se, mas a cor da gravata continua a ser mais relevante do que a capacidade de encontrar soluções. E assim seguimos, entre risos e gravatas, sem que a política se transforme realmente numa arte que sirva os cidadãos, mas antes numa comédia em que todos já conhecem as falas.

À medida que a manhã avança e as câmaras se preparam para capturar mais uma cena do drama político, resta-nos reflectir sobre a gravidade da situação. Porque, ao fim e ao cabo, entre a vermelha, a verde e a preta, o que se esconde por detrás da gravata é um abismo de incerteza e desconfiança que, como a melhor das sátiras, continua a deixar-nos sem palavras.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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