A contestação policial aumentou, após o Governo ter anunciado a equiparação salarial com os militares das Forças Armadas. Mas a ministra da Administração Interna garante que as negociações com as forças de segurança “estão fechadas”. Mas as diferentes manifestações de descontentamento previstas para setembro não colhem o apoio de um grande número de agentes, que consideram justo o aumento concedido às Forças Armadas
O Governo rejeita reabrir as negociações com as forças de segurança para aumentos salariais. A ministra da Administração Interna (MAI), Margarida Blasco, garante que o acordo assinado há menos de um mês está fechado. Mas dois dos sindicatos que fizeram parte da Plataforma dos sindicatos da PSP e das associações da GNR (Sindicato dos Profissionais da Polícia/SPP e Sindicato Nacional da Polícia/Sinapol) vem agora ameaçar com acções de contestação em setembro, após o Governo ter anunciado a equiparação salarial com os militares das Forças Armadas. Contudo, as eventuais manifestações não são do agrado da maioria dos agentes.

O presidente do Sinapol, Armando Ferreira, não se coíbe de acusar o Governo de Luís Montenegro de ter “ludibriados os polícias com a ideia de que não havia mais dinheiro, mas afinal o dinheiro apareceu”. Segundo Armando Ferreira, ao aumentar os militares, o primeiro-ministro, Luís Montenegro cometeu um erro “maior” do que o de António Costa quando não equiparou o subsídio de risco ao da Polícia Judiciária (PJ) e, por isso, querem demonstrar o desagrado de forma “massiva” e “bastante veemente”.
Armando Ferreira, sem papas na língua, diz, claramente: “Houve agora um volte-face quando verificámos que o Governo dizia que não havia nem mais 1 cêntimo para as forças de segurança (PSP e GNR) e, de repente, passou a haver dinheiro para pagar aumento de salários na carreira militar”.
Militares ao “barulho”
A maioria dos polícias garante que não abdicarão “de uma verdadeira dignificação policial”. No entanto, não estão de acordo com Armando Ferreira quando esse dirigente sindical defende que o aumento às Forças Armadas é um “insulto” para os polícias.
Um grande número de agentes, alguns sindicalizados e outros não, consideram “incorrecta” esta frase de Armando Ferreira, salientando que os sindicatos que assinaram o acordo “conseguiram várias regalias para os agentes”, lembrando que, dentro em breve, os aumentos agora conseguidos vão começar a se reflectir no bolso dos polícias.
Não entendendo a posição “anti-nature” de alguns sindicatos de polícia e associações da GNR que, em vez de se congratularem com o aumento dos militares, que consideram justo, se dedicam a dizer mal “de uma justa vitória” salarial dos militares.
“Um profissional da polícia nunca deveria receber menos do que um sargento ou um oficial das forças armadas. Este é o princípio aplicado na maioria dos países da NATO”, afirma Armando Ferreira.
Armando Ferreira, dando a mão à palmatória, já veio a público reconhecer ser justo o aumento salarial dos militares. No entanto, lembra que os polícias não tiveram acesso ao mesmo tratamento.
E no meio desta guerra entre polícias e governo estão os militares das Forças Armadas, que depois de terem garantido “a maior valorização de sempre” – como lhe chamou o primeiro-ministro – estão agora no centro da discussão.
O presidente da Associação Nacional de Sargentos, António Lima Coelho, lamenta que “algumas das coisas que foram ditas são profundamente erradas e desconhecedoras daquilo que é a realidade militar”.
“O que não queremos, de forma alguma, é participar nesse jogo de colocar portugueses contra portugueses e muito menos passar para a opinião pública imagens erradas sobre profissionais que dão tudo pela nação”.
O que está em causa?
Os polícias lutaram durante meses pela equiparação salarial com a PJ e, sem sucesso e unanimidade, acabaram por assinar um acordo com o Governo que prevê um aumento faseado de 300 euros até 2026 no suplemento de risco, cerca de metade do que recebe a PJ desde o final do ano passado.
Agora, quase um mês depois de fechadas as negociações, ficaram a saber que a tal paridade salarial tão desejada – e entretanto negada por falta de disponibilidade orçamental – foi autorizada pelo Executivo aos militares das Forças Armadas em comparação com a carreira policial.
“Era importante reatar as negociações imediatamente para que essas futuras alterações nas estruturas salariais e nos outros suplementos possam ver a luz do dia a partir de 1 de janeiro de 2025”, afirma o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia, Bruno Pereira.
Ministra diz que acordo é “excelente”
Já a ministra Margarida Blasco esclarece que “o acordo foi firmado e assinado no passado dia 9 de julho. Estas negociações estão encerradas”.
Mesmo sob pressão dos sindicatos e associações profissionais da PSP e GNR , que ameaçam com protestos na rua já em setembro, o Governo garante que não vai antecipar a nova reunião, apenas agendada para o próximo ano.
“Os grandes sindicatos assinaram o acordo e portanto vamos continuar a cumprir o que ficou firmado e retomaremos no dia 6 a revisão das carreiras. Acho que é um excelente acordo, mas as pessoas são livres para discordar”, diz Margarida Blasco.