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Auschwitz: 80 anos depois, a sombra do genocídio persiste e o mundo assiste a outro extermínio

Esta segunda-feira, o mundo lembra-se de Auschwitz, ou melhor, da libertação do maior campo de extermínio da História. O número 80, mais redondo do que qualquer cinismo poderia prever, é a cifra que assinala oito décadas de um dos momentos mais negros da humanidade. Os sobreviventes, com os rostos sulcados pela dor e pela experiência, estão novamente presentes para recordar a catástrofe que levou à morte de mais de um milhão de pessoas, na sua maioria judeus. E é difícil não fazer um paralelismo perturbador com o que acontece na Palestina, onde o genocídio, se é que a palavra ainda nos é permitida, continua a ser uma realidade em tempos que diziam estar longe da barbárie.

A memória do Holocausto, datada de 1945, é incontornável. O sofrimento de 6 milhões de judeus, torturados e exterminados em campos como Auschwitz, permanece indelével no espírito da humanidade, como um pesadelo que, em teoria, nunca mais se repetiria. Hoje, no entanto, vemos um fenómeno crescente que, como uma sombra da História, parece recuperar forças – o antissemitismo. O século XXI assiste a um ressurgimento de ódios antigos, disfarçados agora de causas modernas. O governo de Israel, cujas ações em Gaza são alvo de críticas ferozes, enfrenta uma acusação não só de brutalidade, mas também de uma retórica genocida, uma ironia amarga quando se considera que o termo “genocídio” foi, de facto, cunhado para punir a atrocidade cometida pelos nazis.

A mesma Europa que, há 80 anos, se chocava com a descoberta de Auschwitz, hoje se vê novamente dividida, com muitos, especialmente entre as novas gerações, a questionar-se sobre o que deve ser feito para pôr fim a mais um ciclo de violência. Não será que, depois de décadas de memória e reflexão, estamos novamente a assistir a um extermínio em massa? O que mudou de facto?

A resposta, como se vê, é que as lições do passado nem sempre são aprendidas. Mesmo entre os sobreviventes, a desilusão é visível. Ao ouvirem-se acusações de genocídio contra Palestina, muitos não podem evitar comparar os horrores de Gaza com os de Auschwitz, e é aqui que o paralelo se torna insuportável. Vasco Becker-Weinberg, um judeu que escapa às leis de Nuremberga, explica com clareza a dificuldade de aceitar que, hoje, se justifique o antissemitismo pela guerra no Médio Oriente. O ódio, mesmo quando disfarçado de justiça, não se justifica. Assim como o genocídio, que, como vimos em Auschwitz, nunca deve ser considerado “uma inevitabilidade histórica”.

Neste 80º aniversário da libertação de Auschwitz, onde os sobreviventes se reúnem para recordar, talvez se perceba que esta não é apenas uma data de celebração, mas também um alerta. Um aviso de que, com o passar dos anos, a memória do sofrimento vai desvanecendo e o mundo, ao invés de aprender com o passado, parece muitas vezes à beira de repetir os erros que nos trouxeram até ali. É com pesar que assistimos a uma guerra em Gaza, onde os ecos do extermínio de um povo ressurgem de forma trágica, fazendo questionar: Será que, no final, aprendemos alguma coisa com o Holocausto?

Auschwitz libertou-se de corpos, mas permanece prisioneiro da memória. E enquanto isso, no outro lado do mundo, a roda do ódio continua a girar, onde cada vítima parece ser uma parte de uma história que nunca devia ter começado.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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