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Bebés ‘Reborn’: Réplicas Realistas Ajudam Famílias a Lidar com o Luto

Réplicas hiper-realistas de bebés, conhecidas como bonecas ou bebés reborn (rensacidos), estão a ser utilizados por famílias que enfrentam o luto pela perda de filhos ou abortos espontâneos. Estas bonecas, que podem custar até 4 000 euros, são procuradas por pessoas que encontram nelas uma forma de conforto emocional.

As bonecas reborn são réplicas de bebés feitas à mão, com detalhes minuciosos que as tornam extremamente realistas. Criadas inicialmente nos Estados Unidos na década de 1990, estas bonecas são produzidas por artistas especializados que aplicam várias camadas de tinta, implantam cabelos fio a fio e utilizam materiais como vinil ou silicone para simular a pele humana. O processo de criação pode levar semanas, dependendo do nível de detalhe desejado.

Para algumas pessoas, especialmente mulheres que sofreram perdas gestacionais ou neonatais, as bonecas reborn servem como uma forma de terapia. Ao cuidarem destas bonecas como se fossem bebés reais — dando-lhes colo, vestindo-as e até levando-as a passear —, encontram uma maneira de expressar e processar o seu luto. Especialistas em saúde mental reconhecem que, embora controversa, esta prática pode proporcionar conforto a curto prazo.

Mercado e preços

O mercado das bonecas reborn tem crescido significativamente, com preços que variam conforme a qualidade e o nível de personalização. Em Portugal, os modelos de vinil podem custar cerca de 300 euros, enquanto os de silicone, mais realistas, variam entre 650 e 850 euros. No mercado internacional, algumas bonecas reborn alcançam valores superiores a 3 000 euros, dependendo do artista e dos materiais utilizados.

Recentemente, surgiram bonecas reborn com funcionalidades adicionais, como movimentos, sons e sensores que respondem ao toque. Estas inovações aumentam o realismo e, consequentemente, o preço das bonecas. Algumas lojas especializadas já oferecem modelos que simulam a respiração, batimentos cardíacos e até a sucção de uma chupeta.

Opiniões de especialistas

A comunidade médica está dividida quanto à utilização das bonecas reborn como ferramenta terapêutica. Enquanto alguns psicólogos e psiquiatras reconhecem os benefícios emocionais que estas bonecas podem proporcionar, outros alertam para o risco de dependência e isolamento social. É consensual, no entanto, que o acompanhamento profissional é essencial para garantir que a utilização das bonecas reborn seja benéfica e não prejudicial.

A psicóloga clínica Marta Lobo, especialista em luto perinatal, afirma que «as bonecas reborn podem ser instrumentos válidos para facilitar a exteriorização de emoções reprimidas, sobretudo em casos onde o luto não foi legitimado socialmente, como acontece com abortos espontâneos». Segundo a especialista, muitas mulheres enfrentam dificuldades em encontrar apoio emocional nestes contextos, e o uso destas bonecas pode ajudar a dar nome e forma a uma perda invisível.

No entanto, nem todos os profissionais concordam com esta abordagem. O psiquiatra infantil Rui Macedo considera que «o uso prolongado das bonecas reborn, sem acompanhamento terapêutico, pode reforçar mecanismos de negação da realidade». Macedo alerta para o risco de estas réplicas realistas se tornarem substitutos emocionais permanentes, dificultando a aceitação da perda e a reconstrução da vida emocional da pessoa enlutada.

Também a pediatra e neonatologista Inês Roque manifesta reservas: «A confusão entre fantasia e realidade, especialmente quando envolvem bebés tão realistas, pode comprometer a saúde mental de pessoas vulneráveis». Roque defende que o uso das bonecas deve ser sempre enquadrado num plano terapêutico estruturado, validado por psicólogos ou psiquiatras com experiência na área do luto.

Ainda assim, existem programas-piloto em países como o Reino Unido e os Estados Unidos onde estas bonecas são utilizadas em sessões de psicoterapia supervisionada. Nessas iniciativas, os profissionais acompanham os pacientes na interacção com a boneca, ajudando-os a reconhecer as emoções associadas à perda e a desenvolver estratégias de resiliência.

O consenso possível entre os especialistas parece residir na necessidade de personalização da abordagem terapêutica. Para alguns, estas bonecas são um recurso válido e eficaz; para outros, um risco mal compreendido. Mas todos concordam num ponto: o luto é uma experiência complexa, e cada pessoa deve ser acompanhada com empatia, cuidado e rigor clínico.

As bonecas reborn representam uma intersecção entre arte, tecnologia e terapia. Para muitas pessoas, são mais do que simples objetos: são uma forma de lidar com a dor da perda e encontrar algum conforto. Contudo, é fundamental que a sua utilização seja acompanhada por profissionais de saúde mental, garantindo que estas ferramentas contribuam positivamente para o processo de luto.

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