As regiões da Beira Interior, Alentejo e Ribatejo exportam anualmente mais de 150 milhões de euros em vinhos, cortiça e produtos agroalimentares para os EUA, mercado agora ameaçado pelo aumento de tarifas aduaneiras impostas por Donald Trump. Empresários alertam para perda de competitividade. As três regiões concentram-se em produtos com selo de qualidade e tradição:
Na Beira Interior destaque para os vinhos, com exportações anuais de 100 milhões de euros para os EUA, segundo a AIMMAP. O mercado norte-americano absorve 30 por cento da produção regional, liderada por empresas como a Quinta dos Termos e Casa de Santa Vitória.
Já no Alentejo a cortiça e o azeite dominam, com vendas de 40 milhões de euros em 2024. A Amorim Cork e a Moura Ativos são as maiores exportadoras, mas temem que as tarifas de 20 por cento sobre produtos da UE asfixiem margens. Mesmo ao lado, no, Ribatejo são as Carnes processadas e tomate industrializado que geram 10 milhões de euros. A Compal (Sumol+Compal) e a Valouro são as principais empresas, mas já preveem desvios para mercados asiáticos.
Impacto das Tarifas de Trump
A administração Trump impôs em abril de 2025 tarifas de 10 por cento a 20 por cento sobre produtos europeus, incluindo vinhos e agroalimentares. Rafael Campos Pereira, da AIMMAP, afirma: “Exportamos produtos acabados, mas as tarifas indirectas via matérias-primas afetam toda a cadeia”. João Vieira Lopes, da CCP, classifica-as como “um retrocesso que penaliza PMEs”.
Reações e Estratégias das Empresas
Para já, aposta-se na diversificação: A Quinta dos Termos (Beira Interior) explora mercados como o Canadá e a China. “Não podemos depender de um só cliente”, diz o CEO António Ventura. Existem ainda os Apoios Públicos: O Governo português lançou o Programa Reforçar, com 10 mil milhões em linhas de crédito para exportadores. Pedro Reis, ministro da Economia, destacou “apoios ao fundo de maneio e seguros de crédito”. Finalmente, a Redução de Custos. A Amorim Cork (Alentejo), por exemplo, investe em automação para compensar tarifas, mas admite “preços finais mais altos para o consumidor americano”.
O Banco de Portugal prevê uma queda de 0,7 por cento no PIB em três anos devido às tarifas, com efeitos mais severos em regiões exportadoras. Enquanto a UE negoceia com os EUA, empresas como a Casa de Santa Vitória preparam-se para “anos difíceis”, segundo o enólogo Miguel Pessoa.
Visão Histórica: As Exportações Portuguesas para os EUA no Século XX
As relações comerciais entre Portugal e os EUA remontam ao início do século XX, com destaque para produtos como o vinho do Porto, a cortiça e as conservas de peixe. Durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal, neutro, tornou-se um fornecedor estratégico de matérias-primas para os Aliados, incluindo volfrâmio (usado na indústria bélica) e cortiça para rolhas de garrafas. Na década de 1960, com a emigração em massa para os EUA, surgiu um novo mercado para produtos portugueses, como o azeite e os enchidos, vendidos em lojas de bairros lusos como Newark e Fall River. Nos anos 1980, a entrada de Portugal na CEE (atual UE) facilitou acordos comerciais, mas as exportações mantiveram-se modestas, dominadas por nichos de qualidade.
Só nos anos 2000, com a globalização e a aposta no vinho de luxo, é que as vendas para os EUA dispararam, atingindo 500 milhões de euros anuais em 2020. Hoje, o desafio é manter essa posição face ao protecionismo norte-americano, num eco das tensões comerciais do passado.