Centenas de bombeiros sapadores romperam esta quarta-feira as barreiras de segurança e ocuparam as escadarias da Assembleia da República em protesto. Os bombeiros protestam com petardos e potes de fumo. Exigem a revisão da carreira, e pedem medidas concretas ao Governo. O Primeiro-ministro prometeu para mais tarde declarações e a ministra vai realizar uma conferência de imprensa às 15 horas.
Os sapadores bombeiros, oriundos de todo o país, estão esta quarta-feira em protesto junto à Assembleia da República por melhores condições de trabalho, tentaram entrar no Parlamento, mas foram impedidos pela polícia. A confusão instalou-se assim que, minutos depois da manifestação começar, os sapadores bombeiros deitaram as baião ao chão.
Os profissionais em luta, a maioria fardados com EPI – Equipamento de Proteção Individual, subiram as escadarias da AR “muito rápido e com violência” para entrar no Parlamento, mas foram travados pela Polícia de Segurança Pública (PSP). Após a tentativa de invadir o edifício, a PSP criou uma barreira.
O protesto foi convocado pelo Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores. Reivindicam acertos salariais para compensar o aumento da inflação, um aumento do subsídio de risco e criticam a falta de ação dos vários governos. O Primeiro-ministro, Luís Montenegro, que se encontrava numa visita a um lar da Santa Casa da Misericórdia, interpelado pelos jornalistas prometeu para ”mais tarde uma declaração sobre esse protesto dos bombeiros”.
Os sapadores lutam também por uma regulamentação do horário de trabalho, pela reforma aos 50 anos e um regime de avaliação específico, defendendo que estão a ser “ignorados e desprezados” e garantem que só desmobilizam quando tiverem uma resposta por parte do Governo.
O sindicato dos bombeiros sapadores veio entretanto atribuir responsabilidades ao Governo pelo facto de o protesto diante do Parlamento ter extravasado aquilo que estava autorizado.
“Sei que eles têm razão nos protestos. O que motivou isto foi o senhor secretário de Estado ter marcado uma reunião e, no fim, voltou a dizer que não tinha nada para apresentar. Qualquer pessoa normal deveria perceber que não podemos faltar à verdade aos bombeiros. Se já andam revoltados, a probabilidade de isto acontecer era muito elevada. O culpado disto tudo acaba por ser o Governo”, afirmou aos jornalistas no local Ricardo Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, que salientou a ”óptima relação profissional existente entre bombeiros e policias”.
O sindicalista admitiu que a ação de protesto “foi além do que estava legalizado”, acrescentando que a direção da estrutura representativa dos profissionais vai reunir-se “para perceber o que correu mal”.
Na base da escadaria da Assembleia da República, os bombeiros em protesto incendiaram pneus e queimaram um fato de trabalho. Pouco depois das 13h00, um caixão branco foi transportado em braços para a porta do Parlamento, entre gritos de “vergonha”.
“Os bombeiros sapadores reivindicam acertos salariais para compensar o aumento da inflação, conforme foi atribuído às demais carreiras da função pública”, disse o presidente do SNBS, Ricardo Cunha.
O dirigente lembrou que “existiu um compromisso do anterior Governo” para atribuir a compensação aos bombeiros “com retroatividade” a janeiro de 2023, mas, “até à data, tal não aconteceu”.
Ricardo Cunha considerou que os bombeiros sapadores terão “ficado fora desses acertos salariais, por serem uma carreira especial da função pública não revista”.
O SNBS pede ainda “a regulamentação da carreira, onde sejam contemplados os suplementos de risco, penosidade e insalubridade, bem como a disponibilidade permanente, em percentagem e à parte do vencimento”.
Também é exigido um horário de trabalho “a nível nacional que garanta a operacionalidade e a segurança dos bombeiros e daqueles que por eles são socorridos”.
“Em Portugal, os bombeiros sapadores não chegam a três mil profissionais [em 25 municípios] e (…) estas medidas não serão um peso para o Orçamento do Estado, porque estamos a falar numa possível despesa anual inferior a 10%, comparativamente com aquilo que o Governo atribuiu às forças de segurança”, sustentou.
Em 05 de setembro, Ricardo Cunha havia dito à Lusa que “a manifestação tem como objetivo mostrar que os bombeiros sapadores não estão contentes com o Governo, que faltou à palavra”.
O sindicalista referiu que os bombeiros sapadores exigem um aumento salarial para compensar a subida da inflação, idêntico ao que foi dado em 2023 pelo anterior Governo aos polícias, de cerca de 100 euros.