Terça-feira,Setembro 17, 2024
27.2 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Bons Enchidos, Bom Folclore e muita Animação na “Festa das Varas do Fumeiro de Aranhas”

Desde há séculos que ao longo das belas margens da Ribeira da Bazágueda e nos campos adjacentes ao fronteiriço Rio Torto, quer do lado português, quer do lado espanhol, as laboriosas gentes da freguesia de Aranhas sempre promoveram a agricultura, a criação de suínos e os muitos rebanhos de gado ovino e caprino que ali apascentavam, enquanto os muitos moinhos da Bazágueda, pelas gentes de Aranhas cuidados e alimentados, iam moendo os cereais que haveriam de criar os bons e puros pães que proviam às proles familiares.

As proximidades com as gentes de Espanha, de territórios também eles tão agrícolas e pastoris como Valverde del Fresno, Eljas, San Martín de Trevejo, Moraleja, e muitos outros, criaram fortes laços de relações comerciais e mesmo familiares. Durante décadas, estes territórios fronteiriços procuravam melhores condições de vida e de futuro através do proibido e muito fiscalizado contrabando.

Esta longa tradição e forte experiência, que sempre caracterizaram as pessoas de Aranhas, mesmo para além dos teares e tecedeiras que deram fama e nome a esta terra beirã e penamacorense, têm agora uma forte e turística montra na “Festa das Varas do Fumeiro – ‘Inda Agora Aqui Cheguei” que, desde há vários anos, vem tendo lugar no último fim de semana de Janeiro na freguesia dos laboriosos aranhiços.

Os bons e saudáveis enchidos ainda feitos à moda tradicional mostraram-se num belo desfile das “Varas do Fumeiro”, transportadas pelos homens e mulheres que os confeccionaram nestes dias de Inverno e ainda secos ao calor e fumo das lareiras populares. Também as muitas tasquinhas e lojas das casas populares proporcionaram, para além das provas dos enchidos e do bom vinho tinto local, o assistir à confecção de filhoses e outros doces populares, assim como tradicionais peças de artesanato local.

- Publicidade -

Com muita animação musical de rua, teatro itinerante e concertos no palco da Praça da Igreja e dentro do próprio templo cristão, onde actuou “Carolina Ceia” e o grupo espanhol Pitarra de Ellas, os muitos milhares de pessoas que passaram por esta bela aldeia beirã logo no dia 26 de Janeiro, sexta-feira, terão regressado no sábado, dia 27 de Janeiro, para ouvirem cerca de duas dezenas de acordeonistas tocarem o “Cantar das Janeiras”, que integravam ainda jovens alunos acordeonistas da “Academia de Música e Dança do Fundão – Polo de Penamacor”, abrindo o desfile das dezenas de “Varas do Fumeiro”, as quais foram depois leiloadas em praça pública. Após este belo momento de tradição e cultura rural e popular, actuou no palco o “Grupo de Cantares Sete Vozes”.

Bem integrado nos objectivos desta manifestação cultural, destaque-se também a mostra de gastronomia tradicional, também ela com base em produtos naturais e regionais, desenvolvida pelo empenhado e sempre colaborante “chef” Marco Santos.

Se o desfile das “Varas do Fumeiro” pontificou no segundo dia deste evento, o domingo, dia 28 de Janeiro, foi marcado pelo excelente “XXIII Festival de Folclore” no qual estiveram presentes, para além do resistente e empenhado anfitrião Rancho Folclórico de Aranhas, o Rancho Folclórico “Os Carvoeiros” da Enxabarda-Fundão; o Rancho Regional de Olival-Douro Litoral, e os vizinhos espanhóis Grupo de Folklore “Jovenes Extremeños de Moraleja” e o Grupo de Folklore “U Fresnu” da vizinha e irmã Valverde del Fresno, contribuindo assim a música e dança popular e tradicional para renovar os antigos laços de amizade e convivência entre estes dois lados da fronteira. Como sempre, esta tarde de cultura popular terminou com o Rancho de Aranhas a dançar e cantar, juntamente com muitos dos populares assistentes, o seu emblemático e famoso “Mata-Aranha”.

Ainda no âmbito da cultura e realidades regionais e populares, saliente-se que já em 1944 e no seu livro de poesia titulado como “Libertação”, o grande autor da língua portuguesa Miguel Torga no poema “Fronteira” escrevia “De um lado terra, doutro lado terra; / De um lado gente, doutro lado gente; / Lados e filhos desta mesma serra, / O mesmo céu os olha e consente. “(…) Na freguesia de Aranhas e no concelho de Penamacor cultiva-se esta solidariedade e amizade transfronteiriças através da longa história,tradição e cultura populares.

O festival de saberes, sabores e tradições  “Varas do Fumeiro de Aranhas” regressa para o ano, decerto no mesmo último fim de semana de Janeiro.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Francisco Abreu
Francisco Abreu
Docente de Filosofia, Psicologia e Antropologia Cultural.

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor