Gritos e bandeiras com slogans romenos de “não à Europa” e “abaixo a Nato”, irromperam pela esplanada do restaurante onde almoçávamos, em Bucareste, junto ao imponente edifício do Banco da Roménia: perguntei ao empregado o que se estava a passar e ele respondeu-me: “é campanha eleitoral de apoio a um candidato de direita e também para sairmos da Europa!”.

Eram então os aplausos ao ultra-direitista afastado das presidenciais pelo Tribunal Constitucional romeno a semana passada, Calin Georgescu, por alegada interferência russa.
Impossibilitado de concorrer, foi substituído por George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos, que é agora o candidato ultranacionalista às novas eleições agendadas para 4 e 18 de maio. Este disse que daria “continuidade ao movimento soberanista, com a aprovação de Calin Georgescu”.
E concordas nesse retrocesso? Ao que me o referido empregado respondeu: “sim, a Europa só nos rouba! Queremos voltar ao antigamente!”. E não tens medo das botas da Rússia? “ah é pouco provável…”, exclamou.
Fiquei intrigada de como é possível um pensamento assim, pois ao longo de uma semana, num raio de 400 quilómetros pelo centro da Roménia, vimos infraestruturas como boas pontes e vias rodoviárias, recuperação de edifícios públicos, apoiadas por fundos comunitários, tal como se passou com Portugal há anos.
Como é possível que aquele saudosismo – quando a Roménia que saiu de uma ditadura de Nicolae Ceaucescu, tremenda, e da qual os cidadãos ainda hoje estão a pagar as dividas das ideias megalómanas de um dirigente que escravizou o seu povo – não receie a “botas da Rússia?”.

Comentadores encontram explicação na frustração da juventude romena em encontrar perspetivas futuras, numa elevada inflação, abrandamento da economia, acentuada pobreza e uma vida muito difícil. O país, que após 13 anos de espera, entrou para o espaço Schengen em janeiro de 2025, faz fronteira com a Ucrânia, apoiando-a e acolhendo muitos dos refugiados da guerra. Está está a viver um período conturbado que se vai intensificar com a nova campanha eleitoral que oficialmente começa a 4 de abril.
Apesar de ser um país grande produtor de milho e trigo e de também possuir petróleo, há aldeias completamente desertas, com casas a cair e muitas ainda não tem água canalizada e saneamento básico, sendo os transportes, fora da capital, ainda rudimentares.
Estávamos ao lado do imponente Banco da Roménia onde funciona a Comissão Nacional de Eleições e porque a língua romena é fácil de apreender, logo nos apercebemos que o problema de uma manifestação, com arranque de pedras da calçada e com a polícia em crescendo, era mais profundo: A decisão de rejeição à candidatura do ultranacionalista
Calin Georgescu às próximas eleições presidenciais de maio, provocaram uma nova ronda de protestos dos seus apoiantes em Bucareste.
Ne nada valeu àquele candidato sobre o qual pouco se conhece, mas que, com 23% dos votos, obteve o primeiro lugar nas presidenciais de novembro de 2024. Os procuradores romenos abriram um processo criminal contra o político ultranacionalista por seis acusações, incluindo atos inconstitucionais e falsas declarações financeiras, pelas quais chegou a ser interrogado. As acusações também versam o apoio a simpatizantes da Guarda de Ferro, um movimento e partido político fascista e antissemita anterior à Segunda Guerra Mundial, algo que é ilegal na lei romena.
Anuladas as primeiras eleições a Roménia entrou numa turbulência política e o candidato ainda recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, mas nada lhe valeu.

O candidato, apoiante de Vladimir Putin e de Donald Trump, a favor do fim do apoio à Ucrânia, contra a União Europeia e a Nato, terá desenvolvido a sua campanha sobretudo numa rede social, sendo a primeira vez que isto acontece na Roménia, fora dos media tradicionais e por isso lhe chamam o “Messias do TikTok”.
Nas eleições de novembro passado, a Aliança para a Unidade dos Romenos (AUR), nacionalista de extrema-direita, ficou em segundo lugar, à frente do Partido Nacional Liberal, de centro-direita, enquanto dois pequenos partidos de extrema-direita também obtiveram votos para entrar no parlamento.
Para as novas eleições de maio, George Simion, ultranacionalista, líder cuja formação é a segunda maior do Parlamento, é admirador de Donald Trump. Define-se como “patriota”, opõe -se à ajuda militar à Ucrânia, aos direitos LGBTQ+ e defende uma “Europa soberana das nações”.
As últimas sondagens na Roménia, uma da AtlasIntel e outra da Sociopol, apontam este novo candidato, Simion, a vencer a primeira volta das eleições, com mais de 30% das intenções de voto, resultado que superaria o candidato Georgescu.
A extrema-direita na Roménia, une-se assim, para as presidenciais de maio. A George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (AUR), está Nicusor Dan, candidato independente de centro-direita e presidente da Câmara de Bucareste, que ocupa a segunda posição com 26% das intenções de voto. No mesmo estudo, perante a hipótese de uma segunda volta entre os dois, Dan venceria com 42,1%, contra os 35,3% de Simion.
Até maio, Klaus Iohannis mantém-se como o presidente da Romênia, e Marcel Ciolacu, líder do partido governante Social Democrata, ocupa o cargo de primeiro-ministro.
