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Campanha eleitoral chegou ao fim sem soluções para os portugueses

Quer nas ações de campanha quer nos programas dos partidos para as eleições legislativas de domingo, os assuntos do mundo não ocuparam muito tempo de antena. O silêncio em torno da tragédia na Faixa de Gaza ou a ausência de debate público relativamente ao rearmamento europeu, por exemplo, podem debilitar o reconhecido potencial diplomático dos portugueses. Os eleitores ficaram com a sensação que Partidos não quiseram falar de “temas importantes”, a nível interno, nomeadamente a Educação, a Justiça e a Defesa. “Estão a contar espingardas, mas não têm quadros”. Esta é a imagem que deixaram transparecer para os portugueses e, por isso, com honrosas excepções, esses temas passaram “ao largo” das campanhas

Falar sobre educação não foi prioridade nesta campanha eleitoral, o que permite concluir que o status quo vai manter-se. O que é estranho, principalmente num momento de tantas incertezas e desafios, a educação deveria ter ocupado um lugar de destaque nas discussões políticas. O nosso futuro depende daquilo que fizermos hoje pelos nossos alunos.

Os temas da educação, justiça ou trabalho surgiram apenas em consequência de greves ou protestos. Quando isso aconteceu, as soluções passaram a ser reativas e não proactivas. Todos esqueceram que a educação, por exemplo, precisa de um debate sério, estruturado e contínuo, que tenha como objetivo resolver problemas sistémicos em Portugal: a falta de professores, a atração de talento para o ensino, o prestígio da profissão, a formação de professores com habilitações próprias, a inclusão, as aprendizagens dos alunos e a eliminação das desigualdades.

Os primeiros dias de campanha foram agarrados àquilo que nos trouxe a eleições antecipadas, que foi o facto do primeiro-ministro não ter explicado por que razão acumulou avenças, ao mesmo tempo que era primeiro-ministro e sabe que não o podia ter feito. Os últimos ficaram marcados pelos desmaios de André Ventura e o anúncio da candidatura de Gouveia e Melo a Presidente da República. Tudo o resto foi esquecido.

Nesta campanha eleitoral, marcada essencialmente pela agenda do Chega e pelo caso da empresa familiar de Montenegro, pouco se falou de política externa, apesar dos conflitos em curso no mundo — da guerra comercial à matança em Gaza.

O social-democrata João Maria Jonet lamenta “a falta de sentido de Estado” e a “política comezinha” de Luís Montenegro impeça um debate aprofundado sobre os temas europeus nas legislativas, nomeadamente a defesa e o medo dos mais jovens sobre a guerra. Já Rita Ribeiro, jurista e analista internacional, critica a não inclusão do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) nos debates para as legislativas, mas ressalva que “também não valia a pena”, se fosse “para fazer campanha com o tema”.

A chegar ao fim da campanha, o social-democrata Duarte Pacheco e a socialista Ana Catarina Mendes defenderam na Rádio Renascença que as caravanas não abordaram alguns temas decisivos para Portugal.

O antigo deputado do PSD Duarte Pacheco defende que os discursos dos líderes partidários concentraram-se “na espuma dos dias” e em “fait-divers” afetando a qualidade da campanha para as eleições legislativas de domingo.

“Não houve nenhum comício onde tenham sido discutidos assuntos como a Europa, a área da defesa, da justiça ou financeira”, lamentou o antigo parlamentar no programa “Casa Comum” da Renascença.

Preocupada com o rumo da campanha está também Ana Catarina Mendes, eurodeputada do PS que detecta a ausência de temas importantes ligados ao contexto europeu e global “que influenciam a forma como Portugal também está inserido no mundo”.

“Um tema é o silêncio de Gaza e a incapacidade de alguém dizer que devia haver o reconhecimento da Palestina como Estado independente e autónomo e que tem que cessar a guerra. O outro é a questão da Ucrânia, e como nos movemos na guerra, que é fundamental que acabe para que a Europa possa também ter um outro ‘salto’ e os Estados Membros estejam concentrados no desenvolvimento da União Europeia”, afirma a antiga ministra socialista.

Cansaço dos eleitores

A dirigente do PS, indo ao encontro de muitas opiniões de comentadores políticos e mesmo de alguns estudos, reconhece ter encontrado uma fadiga preocupante nos eleitores portugueses.

“Sinto as pessoas cansadas, uma certa indiferença. E isso preocupa-me quanto aos níveis de abstenção que devemos vir a ter”, assume Ana Catarina Mendes, na Renascença.

Ao contrário da opinião dos diferentes analistas, a eurodeputada considera que a campanha mostrou projetos distintos sobre a economia e sobre a Segurança Social.

“A AD tenta esconder a incerteza e as dificuldades que estamos a viver hoje durante a guerra tarifária entre Estados Unidos e a União Europeia, que já está a ter impactos significativos em Portugal”, acusa Ana Catarina, regressando à crítica de edições anteriores à promessa de crescimento económico por parte da AD, numa altura em que há uma retração da economia no primeiro trimestre do ano.

A dirigente socialista denuncia um “projeto claro sobre a segurança social” que passa pela privatização do sistema “se por acaso” a AD ganhar e fazer uma coligação com a Iniciativa Liberal.

A mesma opinião não é partilhada pelo ex-deputado social-democrata, Duarte Pacheco, que acusa Pedro Nuno Santos de “indefinição estratégica” na campanha. “Nuns dias o tema é a Spinumviva, a seguir passa a ser já o aparecimento de Pedro Passos Coelho na campanha e, finalmente, apareceram as questões fiscais que ele próprio propôs. Mas a três dias do fim da campanha?”, questiona o ex-deputado do PSD.

Pacheco fala numa campanha “desastrosa” de Pedro Nuno Santos, antecipando que “o resultado não vai ser muito simpático para o Partido Socialista”.

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Alfredo Miranda
Alfredo Miranda
Jornalista desde 1978, privilegiando ao longo da sua vida o jornalismo de investigação. Tendo Colaborado em diferentes órgãos de Comunicação Social portugueses e também no jornal cabo-verdiano Voz Di Povo.

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