Em Castelo Branco, onde a realidade é tão árida quanto as promessas que evaporam no calor do dia, surge um espetáculo que poderia ser protagonizado por um circo, não fosse ele uma triste metáfora da gestão local. Por três anos, os cidadãos assistiram incrédulos ao desaparecimento do festival “Sabores de Perdição”, um evento outrora vibrante, agora reduzido a uma memória pálida, como uma fotografia desbotada ao sol. Leopoldo Rodrigues, o presidente da câmara, encabeça esta ópera bufa, onde a incompetência e a arrogância se entrelaçam numa coreografia desajeitada.
Não que Leopoldo Rodrigues seja um vilão de filmes de má qualidade—longe disso. Ele é mais o anti-herói de uma história escrita por mãos inexperientes, onde as decisões parecem ser tomadas à sorte, num jogo de dados em que a sorte nunca favorece os cidadãos. Afinal, qual o sentido de gastar 168.000 euros numa festa que mais se assemelha a uma quimera? O cartaz do evento permanece um enigma, como se a divulgação tardia fosse uma estratégia de marketing revolucionária, quando na verdade, cheira apenas a desorganização.
E que dizer das decisões que pululam da mente criativa de Leopoldo? Como um mago de feira, ele lança ideias como cartas de um baralho gasto. Hoje, fala-se de internacionalização—um termo que ele tanto adora, talvez por soar bem ao ouvido, mas cujo significado real parece escapar-lhe completamente. Amanhã, quem sabe, Castelo Branco será promovido como o epicentro de um festival intergaláctico, onde turistas e extraterrestres se reunirão para discutir o futuro da humanidade.
Enquanto isso, os cidadãos de Castelo Branco, verdadeiros protagonistas desta tragédia, veem o seu dinheiro a ser torrado em projetos que mais parecem saídos de um episódio de “Além da Imaginação”. A cidade, que já foi um farol de cultura e tradição, está agora enterrada sob uma avalanche de promessas não cumpridas e iniciativas descabidas. Árvores são arrancadas sem um plano de substituição, calçadas desfeitas, que outra hora tiveram o paralelepípedo e foram substituídas por finas lages de pedra, fontes que só brotam quando a chuva decide fazer uma visita inesperada.
O festival de Setembro, com o seu cartaz invisível, não é apenas uma falha administrativa; é uma obra-prima de como se pode desapontar uma cidade inteira, vestida de gala para um evento que, se calhar, nem deveria acontecer pelo menos desta maneira sem planificação atempada. A promessa de renascimento cultural deu lugar a uma ressurreição forçada, desprovida de alma e de propósito, onde o único objetivo parece ser gastar por gastar, como se o dinheiro público fosse um recurso inesgotável.
O que resta é um retrato triste de uma cidade à deriva, onde as altas temperaturas do Verão não só secam a terra, mas também a paciência dos seus habitantes. Castelo Branco, em vez de ser um oásis de cultura e progresso, tornou-se num deserto de ideias, onde até as miragens parecem cansadas de prometer um futuro que nunca chega. E enquanto Leopoldo Rodrigues continua a navegar nas águas turvas das suas próprias ilusões, os cidadãos ficam a assistir, impotentes, ao espetáculo grotesco que se desenrola diante dos seus olhos.
No final, resta a amarga constatação: o oásis de que tanto se fala em Castelo Branco? Esse, meus caros, existe apenas na fértil imaginação de quem o governa, longe, muito longe, da realidade que os albicastrenses enfrentam todos os dias.