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Castelo Branco: A Morte Lenta da Vitalidade Urbana

O funeral do Soda Jerk e a autópsia de uma cidade adormecida

Castelo Branco, outrora vibrante em sonhos, hoje é palco de um adeus amargo. O Soda Jerk, espaço que tentou trazer um fôlego fresco à cidade, anuncia o seu encerramento. Não é apenas mais uma marca ou um espaço comercial que fecha portas; é um grito de socorro abafado por paredes surdas de políticas desastrosas e apatia generalizada.

Foto: D.R.

Na despedida, a equipa do Soda Jerk deixa uma mensagem que é um soco no estômago: a cidade perdeu energia, sufocada pela falta de incentivos ao comércio local e pela incapacidade de cultivar um futuro promissor para os jovens. Não é difícil imaginar o que acontece quando uma cidade troca ambição por comodismo, quando o potencial é enterrado sob camadas de negligência.

Castelo Branco é hoje uma caricatura de si mesma, um lugar onde os jovens partem porque aqui nada os chama a ficar. A cada esquina, vê-se o desespero mudo de lojas fechadas e placas de “trespassa-se”. O Soda Jerk lutou contra esta maré, apostando na criatividade, no empreendedorismo e na paixão, viu-se arredado pelo “Ponto nº 8” dos regulamentos para inscrição dos expositores no Natal. Mas paixão não paga contas quando uma cidade fecha os olhos ao seu próprio declínio.

As ruas de Castelo Branco são um reflexo desta decadência: pavimentos polidos pela rotina dos que ficam, rostos marcados pela resignação dos que já desistiram de esperar por algo melhor. Enquanto isso, os decisores políticos parecem viver numa realidade paralela, onde discursos de “progresso” ecoam em auditórios vazios. Talvez nem sequer tenham reparado que mais uma porta se fechou.

É curioso, e também cruelmente irónico, que o Soda Jerk tenha escolhido o nome inspirado nos velhos bares americanos que eram sinónimo de juventude, inovação e energia. E agora? Agora o Soda Jerk sobrevive em formato pop-up, um fantasma itinerante de tudo o que poderia ter sido. Um lembrete de que, quando a cidade dorme, quem sonha é obrigado a partir.

Castelo Branco merece mais, dizem os fundadores. E merecer, de facto, merece. Mas desejar não basta. É urgente que esta cidade acorde, antes que todas as portas estejam fechadas e os últimos jovens façam as malas. O Soda Jerk é apenas um sintoma de um mal maior, um mal que não se resolve com promessas vazias ou discursos otimistas.

No dia 30 de novembro, o Soda Jerk encerra. Que Castelo Branco não continue a enterrar o seu futuro junto com cada nova despedida.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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