À medida que a cidade de Castelo Branco tenta reinventar-se com a modernidade de umas quantas fontes e jardins verdes, o futuro parece ser apenas uma miragem, entalada entre o passado e as promessas de uma revitalização que não questiona a realidade do que é realmente necessário. Enquanto a Câmara Municipal se empenha em transformar o Largo da Devesa num centro de atratividade — com um projeto elaborado pelo arquiteto Josep LLuis Mateo, que inclui a reforma de uma fonte que, ao que parece, visa apenas refrescar as calçadas ardentes de verão — há questões mais prementes que ficam na gaveta.
A fonte, apetrechada com jatos de água, lasers e efeitos sonoros, promete ser o grande espetáculo cénico da cidade, enquanto a infiltração nas estruturas da própria cidade continua sem resposta. Não seria mais útil que, em vez de investimentos tão megalómanos, a autarquia colocasse os olhos na infraestrutura urbana que realmente precisa de atenção? Basta olhar para a necessidade premente de mais estacionamento. O Hospital Amato Lusitano, por exemplo, continua a sofrer com a falta de lugares de estacionamento, especialmente nos horários de consultas. E, claro, o estacionamento existente é um caos, com um piso irregular e problemas estruturais que causam dores de cabeça aos que se aventuram ali.

Ao invés de se pensar em fontes e quiosques estonteantes, não seria mais sensato focar-se na criação de um parque de estacionamento decente e funcional? De facto, a nova solução para o estacionamento junto ao hospital — com 81 lugares — vai resolver parte do problema. Mas, como qualquer pessoa minimamente pragmática perceberia, com a quantidade de carros que estacionam na zona e a expansão que a cidade conhece, o mínimo esperado seria um estacionamento com dois pisos, algo que tivesse em conta o futuro e não apenas os problemas de agora.
É certo que as obras de requalificação do Largo da Devesa visam dar à cidade uma cara mais bonita e agradável, mas o que os albicastrenses realmente querem é uma cidade que funcione. Que não tenha mais buracos nas ruas, que não force os utentes a estacionar em terrenos improvisados e que, mais do que fontes de efeitos especiais, ofereça uma qualidade de vida mais prática e duradoura.
Neste contexto, é fácil concluir que a verdadeira reforma de uma cidade não passa por adornos de grande envergadura, mas sim por uma reflexão crítica sobre as suas necessidades estruturais. O projeto de requalificação do Largo da Devesa, com o seu parque infantil e a prometida fonte, é certamente um passo para embelezar a cidade, mas a Câmara Municipal de Castelo Branco deve aprender a distinguir entre o que é urgente e o que é ornamental. De nada serve uma fonte com luzes e sons, se a cidade ainda se afunda em problemas básicos de infraestrutura.
Já que falamos em progresso, que tal começar por planejar o futuro? Que tal apostar em soluções urbanísticas que sejam realmente sustentáveis e adaptadas à crescente demanda da cidade? Quando se olham para esses projetos, percebe-se que a visão é apenas estética, sem contar com o essencial. E é esse “essencial” que parece andar perdido entre a relva, os bancos de granito e os efeitos luminosos da nova fonte.