O 49.º aniversário do 25 de Abril começou com uma cerimónia de boas-vindas ao Presidente do Brasil, na Assembleia da República, na sua última etapa da sua visita de Estado a Portugal. O partido Chega não poupou vaias e insultos ao presidente brasileiro pela sua posição no conflito contra a Ucrânia. O dia está ainda a ser marcado por diversas manifestações em Lisboa.
A sessão solene do 25 de Abril vai começar às 11h30, no Parlamento, ao contrário do que é habitual, uma vez que às 10h00 irá realizar-se a cerimónia de boas-vindas a Luiz Inácio Lula da Silva, que termina a sua visita de Estado a Portugal iniciada no sábado.
Poucos minutos depois do primeiro-ministro, António Costa, o Presidente da República chegou ao Parlamento, acompanhado por Augusto Santos Silva, a segunda figura do Estado português. Santos Silva, presidente da Assembleia da República, não dispensou do cravo vermelho no bolso do casaco.
Ambos pararam para ouvir a banda do Exército a tocar o hino nacional.
O presidente brasileiro, Lula da Silva, chegou à entrada da Assembleia da República. O líder fez-se acompanhar pela esposa, Janja Lula da Silva, e foi recebido por Augusto Santos Silva, ouvindo o hino brasileiro pela banda do Exército.
Na cerimónia solene de boas-vindas ao presidente do Brasil na Assembleia da República, Lula da Silva e as três figuras do Estado português posaram juntos na sessão de fotografias, onde também estiveram alguns dos líderes parlamentares dos partidos políticos.
Lula da Silva assinou ainda um livro de honra, na sessão onde falou brevemente Marcelo Rebelo de Sousa e Augusto Santos Silva.
Os deputados do Chega quebraram protocolo e entraram no hemiciclo depois dos Presidentes Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva. Poucos segundos depois começavam a ser tocados os hinos dos dois países pela banda da GNR.
Santos Silva falou de uma “amizade” promovida por Lula da Silva e mencionou o ataque por apoiantes de Bolsonaro às sedes dos Três Poderes, referindo que “quando alguns tentaram invadir e derrubar as instituições democráticas brasileiras, [Lula] soube defendê-las sem hesitação”. A declaração foi aplaudida pela esquerda, com todos os partidos da direita a manterem-se em silêncio.
“Somos irmãos pela história e irmãos pela liberdade democrática”, disse ainda o presidente da AR. Santos Silva elogiou também a grande presença brasileira no país e a colaboração dos dois povos em solo nacional.
“Tal como o Brasil, Portugal condena a agressão da Rússia contra a Ucrânia”, disse o presidente da AR, vincando a posição portuguesa na guerra e recolhendo aplausos e uma ovação em pé por parte de uma boa parte do Parlamento, incluindo pelos deputados do PSD. O único partido a não se manifestar foi o Chega.
Mal Lula da Silva começou a elencar quem o convidou e os presentes, os deputados do Chega levantaram-se para mostrar cartazes contra a presença de Lula da Silva, com a frase “Chega de corrupção” e com uma bandeira da Ucrânia.
Lula da Silva começou por afirmar que, na sua visita em Portugal, ficou com “a inconfundível sensação de estar em casa”.
O momento foi acolhido com muitos aplausos e uma ovação em pé por parte de todos os partidos à esquerda. Os deputados do Chega manifestaram-se com pateadas nos seus lugares, o que motivou uma repreensão muito frustrada e brusca por parte de Augusto Santos Silva.
“Chega de insultos, de degradarem as instituições, de porem vergonha no nome de Portugal!”, disse o presidente da AR, acrescentando os deputados devem demonstrar a “urbanidade, cortesia e educação que é exigida a qualquer representante do povo português”.
O discurso de Lula da Silva, que menciona Chico Buarque e Zeca Afonso, foi constantemente interrompido pelos deputados do partido de extrema-direita, reações que foram merecendo laivos de condenação por parte dos presentes no Parlamento.
Lula, no entanto, continua, vincando que a música ‘Grândola Vila Morena’ também “embalou” a luta antifascista do povo brasileiro. “A notícia que trago é que a força democrática brasileira demonstrou a sua solidez e resiliência”, afirmou.
Santos Silva encerrou a sessão de boas-vindas a Lula da Silva, não deixando passar os protestos por parte do Chega. “Deixe-me formalmente pedir-lhe desculpas pelo incidente e agradecer-lhe a coragem”, disse o presidente da Assembleia da República, sendo aplaudido em pé por todos os partidos em pé, tirando, claro, o Chega, que voltou a protestar.
À saída do Parlamento, Lula da Silva comentou os protestos dos deputados da extrema-direita, deixando um recado aos membros do Chega.
“As pessoas, quando não tem uma coisa boa para fazer, fazem essa cena de ridículo”, disse o presidente brasileiro, numa breve declaração, acrescentando que “quem faz política está acostumado a isso”.
Dia da Liberdade marcado por manifestações na capital
Há 15 manifestações marcadas para esta terça-feira em Lisboa, esperando-se uma forte presença policial em vários pontos da cidade para acompanhar os protestos. As manifestações de apoio e de contestação contra a presença de Lula da Silva começaram às 9 horas, com manifestantes dos dois lados nas imediações do Palácio de São Bento.
Também na zona do Parlamento, durante a manhã, estão previstas outras duas manifestações: uma convocada por cidadãos brasileiros que apoiam Jair Bolsonaro, e uma outra promovida pela União Antifascista Portuguesa, que se deve juntar à de apoio a Lula.
As manifestações em torno da presença de Lula da Silva no Parlamento foram bem mais preenchidas, sendo dezenas os que protestam contra o presidente brasileiro e a sua estadia pelo país. A maioria dos que se encontram na manifestação anti-Lula, convocada pelo Chega, apoia o antigo líder, Jair Bolsonaro, e acredita que a eleição foi roubada a favor de Lula da Silva, pedindo que o presidente seja preso por alegada corrupção (acusações sobre as quais já esteve preso e foi, entretanto, ilibado).
Os manifestantes, muitos deles apoiantes de Jair Bolsonaro, juntarm-se na Avenida D. Carlos I. Já os que apoiam Lula da Silva tiveram a sua área reservada na Rua de São Bento, situada na lateral da Assembleia da República.
Durante a tarde, vai realizar-se o tradicional desfile na Avenida da Liberdade, que juntará dezenas de associações, coletivos, partidos políticos e sindicatos.
No Largo do Carmo, o STOP – o Sindicato de Todos os Profissionais de Educação – vai manifestar-se mais uma vez contra o Governo, pedindo mais medidas pelos professores e contra o descongelamento de carreiras.