A liderança chinesa decidiu lançar o mais ambicioso pacote de estímulos económicos das últimas décadas, numa manobra ousada para conter o impacto devastador das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos e para reanimar a economia interna, atualmente sob forte pressão
O anúncio surgiu esta sexta-feira após uma reunião estratégica do Politburo do Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), órgão máximo de decisão política no país. O encontro teve como foco a deterioração da conjuntura económica global e os efeitos crescentes da guerra comercial em curso com os EUA.
Num comunicado divulgado pela agência oficial Xinhua, o Politburo alertou para o “aumento do impacto de choques externos” e sublinhou a urgência de “consolidar as bases para uma recuperação económica sustentada”, promovendo simultaneamente o consumo interno e a estabilidade do comércio externo.
Sem referir diretamente os Estados Unidos, o PCC aludiu às recentes sanções comerciais cruzadas entre os dois países, que elevaram as tarifas a níveis superiores a 100%. Pequim já fez saber que espera “respeito” por parte de Washington e que rejeita qualquer forma de pressão, reiterando que só aceitará negociações comerciais em condições de igualdade.
Em resposta à crescente hostilidade comercial, o Governo chinês comprometeu-se a reforçar a coordenação entre as políticas económicas internas e os desafios do comércio internacional. Entre as principais medidas avançadas estão o estímulo ao consumo, o aumento dos rendimentos dos grupos com salários médio e baixos, e o apoio decidido à inovação científica e tecnológica.
Ao contrário do que sucedeu em momentos anteriores de desaceleração, Pequim optou agora por uma política fiscal ativa e uma política monetária “moderadamente acomodatícia”, assinalando uma mudança de orientação desde finais de 2024, altura em que o Banco Popular da China reduziu a taxa de juro de referência de 3,35% para 3,1%.
As autoridades indicaram que poderão avançar com novos cortes de juros “no momento oportuno”, sinalizando um maior grau de flexibilidade na gestão macroeconómica. O objetivo passa por dinamizar a procura interna, aliviar a pressão sobre as empresas nacionais e manter a estabilidade financeira num contexto internacional incerto.
Pequim tem resistido à tentação de replicar os estímulos massivos adotados por economias ocidentais após a pandemia, devido ao receio de alimentar a dívida pública e gerar desequilíbrios inflacionistas. No entanto, perante a gravidade do atual confronto comercial, o Presidente Xi Jinping autorizou uma reorientação tática, ainda que sem abdicar do controlo rigoroso das finanças públicas.
Além disso, o Politburo prometeu aprofundar a “abertura de alto nível” da economia chinesa ao investimento estrangeiro, ao mesmo tempo que assegura “uma gestão firme dos assuntos nacionais” e uma implementação “mais eficaz” das políticas económicas já anunciadas.
A tensão entre Pequim e Washington permanece elevada, apesar de recentes declarações optimistas de Donald Trump sobre um possível novo acordo comercial. A China nega, contudo, a existência de negociações formais neste momento, embora se multipliquem sinais de alívio selectivo das tarifas sobre alguns produtos norte-americanos.
Num cenário global marcado por incertezas geopolíticas e instabilidade económica, a China lança assim um dos seus maiores testes de resistência e adaptação económica do século XXI. Resta saber se este pacote de estímulos será suficiente para travar a tempestade provocada pela escalada tarifária com os EUA e recuperar a confiança dos mercados.