O “Agent Hospital”, desenvolvido pela Universidade de Tsinghua, em Pequim, é o primeiro hospital do mundo totalmente operado por inteligência artificial (IA), sem qualquer intervenção humana directa. Inaugurado a 26 de Abril de 2025, o hospital conta com 14 médicos e quatro enfermeiros virtuais, capazes de diagnosticar, tratar e acompanhar até 3 000 pacientes por dia. Pequim manteve o segredo desta unidade até esta semana.
A cerimónia de inauguração decorreu no edifício principal da Universidade de Tsinghua e contou com a presença do presidente da universidade, Li Luming, e de outros responsáveis académicos. O projecto visa integrar a IA na prática clínica, educação médica e investigação científica, criando um ecossistema fechado e auto-suficiente de “IA + Saúde + Educação + Investigação”. Segundo os promotores, o Agent Hospital poderá redefinir a prestação de cuidados de saúde, tornando-a mais rápida, precisa e acessível.
Atendimento 100 por cento digital
No Agent Hospital, o processo de atendimento é totalmente virtual, sem filas, papelada ou contacto humano. O sistema funciona ininterruptamente, 24 horas por dia, sete dias por semana. Eis as quatro etapas principais:
1. Triagem inicial: O paciente interage com um médico virtual que recolhe sintomas, antecedentes clínicos e sinais vitais, utilizando reconhecimento facial, leitura de voz e sensores biométricos.
2. Diagnóstico: Utilizando modelos de linguagem multimodais com acesso a bases de dados médicas globais, o sistema cruza os dados clínicos com exames laboratoriais e de imagem para formular um diagnóstico.
3. Prescrição e tratamento: O médico virtual prescreve tratamentos personalizados – incluindo medicamentos, terapias físicas ou intervenções cirúrgicas assistidas por robôs – e cria um gémeo digital do paciente para monitorização contínua.
4. Acompanhamento: O sistema realiza seguimentos automáticos, ajustando a terapêutica com base em parâmetros em tempo real e mantendo contacto com o paciente por via digital, mesmo após a alta.
A equipa de IA demonstrou uma taxa de precisão de 93,06 por cento em exames médicos padronizados, superando significativamente a média de profissionais humanos em áreas como cardiologia, dermatologia e pneumologia.
Futuro e expansão
Actualmente em fase piloto no Hospital Changgung de Tsinghua, o Agent Hospital prevê expandir-se para outras unidades hospitalares do país e, a médio prazo, internacionalizar o modelo. Os seus criadores ambicionam desenvolver uma rede de hospitais inteligentes interligados, aptos a funcionar em zonas remotas ou com escassez de recursos humanos.
Está igualmente previsto o desenvolvimento de versões móveis e modulares do hospital, que poderão ser transportadas para zonas de catástrofe, regiões rurais ou campos de refugiados, oferecendo cuidados médicos rápidos e autónomos.
Contexto global
Embora existam unidades hospitalares que utilizam IA para tarefas específicas – como documentação clínica, assistência a cirurgias ou gestão de stocks –, o Agent Hospital é o primeiro a operar sem qualquer pessoal humano. O sistema cobre todas as dimensões do atendimento, da recepção ao seguimento pós-alta.
Outras iniciativas, como o Nurabot, em Taiwan, usam robôs para auxiliar enfermeiros na administração de medicamentos e na vigilância de pacientes, mas não substituem totalmente os profissionais humanos. Do mesmo modo, projectos-piloto nos Estados Unidos e na Coreia do Sul têm integrado IA no diagnóstico e triagem, mas mantêm médicos e enfermeiros no centro das operações.
O Agent Hospital representa, assim, um marco tecnológico e ético na história da medicina moderna. A questão sobre se hospitais sem humanos podem – ou devem – substituir os sistemas tradicionais permanece em aberto, alimentando debates entre clínicos, legisladores e cidadãos.
