Uma equipa de cientistas da Universidade de Oxford fez uma descoberta que pode transformar o panorama energético global. Segundo um estudo publicado na revista Nature, liderado pelo professor Chris Ballentine, a crosta terrestre tem produzido naturalmente hidrogénio suficiente, ao longo do último milhar de milhão de anos, para satisfazer as necessidades energéticas atuais da humanidade durante aproximadamente 170 mil anos

Essa descoberta representa um avanço significativo na busca por fontes de energia renovável e limpa. O hidrogénio, por si só, já vinha sendo apontado como uma alternativa promissora aos combustíveis fósseis, por não emitir gases com efeito de estufa – sua queima gera apenas vapor de água – e por ser mais eficiente em termos de poder calorífico. No entanto, até hoje, a sua produção dependia de processos dispendiosos e, muitas vezes, poluentes, como a eletrólise da água ou a reforma de hidrocarbonetos.
A chave está no subsolo
O novo estudo muda esse paradigma. A equipa de Oxford identificou que, em determinadas condições geológicas, é possível encontrar jazidas naturais de hidrogénio aprisionadas no subsolo. A questão agora é onde procurar — e como extrair esse recurso de forma economicamente viável.

Ballentine destaca: “A chave agora é descobrir onde ele foi liberado, acumulado e preservado.” E, para isso, os cientistas elaboraram uma lista de condições geológicas fundamentais que favorecem a produção e acumulação de hidrogénio subterrâneo. Esse guia poderá acelerar significativamente a exploração de locais promissores.
Entre os elementos essenciais para a formação desses depósitos estão:
Fonte de hidrogénio (água)
Rochas com capacidade de gerar o gás
Reservatórios e vedantes naturais que o mantêm retido no subsolo
Existem uma dúzia de processos naturais capazes de produzir hidrogénio. O mais simples envolve a reação entre água e determinados minerais, separando o oxigénio do hidrogénio. Qualquer rocha envolvida nesses processos pode, teoricamente, ser uma fonte.
Geologia como mapa do tesouro energético
Locais como Rio Tinto, no sul de Espanha, estão entre os candidatos mais promissores, dado o histórico de atividade geológica intensa. Além disso, outras regiões com condições semelhantes — como complexos ofiolíticos, províncias ígneas e cinturões de rochas verdes arcaicas — também foram destacados no estudo.
Em 2024, por exemplo, foi identificado um enorme depósito de hidrogénio num complexo ofiolítico na Albânia. Esses complexos são formados por fragmentos da crosta oceânica e do manto superior que emergiram à superfície terrestre, tornando-se acessíveis à exploração.
Contudo, há desafios. Um deles é a presença de microrganismos subterrâneos que se alimentam de hidrogénio, o que pode diminuir o volume disponível em certas áreas. Por isso, ambientes onde esses microrganismos prosperam podem não ser os melhores alvos para exploração comercial.
Uma alternativa verdadeiramente limpa
Hoje, grande parte do hidrogénio é produzido a partir de combustíveis fósseis, resultando em altas emissões de carbono. Já o chamado hidrogénio natural ou “limpo” tem uma pegada ambiental muito menor, por ser gerado pela própria Terra sem intervenção humana.
Se os métodos de extração forem desenvolvidos de forma eficaz e sustentável, essa descoberta pode representar um ponto de viragem na luta contra as alterações climáticas e na transição para uma economia de baixo carbono.
Como conclui Ballentine: “A crosta terrestre produz muito hidrogénio — e já sabemos como encontrá-lo pelas pistas que deixa.”