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Concelho de Arronches: Um ”mundo” a descobrir

Com parte do território inserido em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, o concelho raiano de Arronches é, segundo o INE, o quinto município do distrito de Portalegre com maior rendimento líquido anual por pessoa. “A vila que cinco pontes rodeiam”, como a definiu José Saramago, Arronches tem apostado num turismo sustentável. E, como diz o presidente da autarquia, João Carlos Crespo: “Por termos consciência do grande potencial turístico que Arronches ainda tem, estamos a trabalhar num plano estratégico para desenvolvimento turístico do concelho, que brevemente será também apresentado com uma nova marca”
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Foto: António Duarte Mil-Homens
 
O concelho de Arronches, que é referido nos ‘Lusíadas’ como a “forte Arronches”, está apostado na dinamização do turismo suportada na recuperação, requalificação e valorização do património histórico, cultural e natural e no reforço da dinamização de grandes eventos associados ao desporto e à cultura. Segundo dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao ano de 2022, é o quinto concelho do distrito de Portalegre com maior rendimento líquido anual por pessoa (valor mediano de 10.247 euros), aparecendo atrás de Campo Maior, Portalegre, Castelo de Vide e Elvas.
 
Estes resultados, que evidenciam o impacto positivo das políticas de desenvolvimento implementadas nos últimos anos, são verdadeiramente reveladores da dinâmica do município, para a qual contribuem, igualmente de forma decisiva, as empresas sediadas no concelho e a atividade que diariamente desenvolvem, os comerciantes que em qualquer das três freguesias instalaram o seu negócio e ainda o importante serviço prestado pelas instituições particulares de solidariedade social arronchenses, considera com orgulho, em entrevista ao ORegiões, o presidente da Câmara Municipal de Arronches, João Carlos Crespo.
 
É óbvio que a Câmara Municipal olha para esta estatística com satisfação, certa que o compromisso contínuo em promover o crescimento económico e a qualidade de vida dos seus cidadãos, assente em pilares como, entre outros, a aposta que tem vindo a ser feita no sentido de atrair empreendimentos para o concelho, os projetos organizados para alavancar o comércio tradicional ou os apoios concedidos às instituições particulares de solidariedade social do concelho, será determinante para o desenvolvimento de Arronches.
 
Arronches é uma terra, virada para o futuro, que se orgulha do seu passado e que, por isso, mantém, entre o casario branco tão típico do Alentejo, preservadas as suas memórias e tradições nos seus vários núcleos museológicos, na arte rupestre que é uma das mais notáveis reproduções do género em Portugal, nas suas igrejas seculares e ainda nos seus monumentos de inigualável beleza e riqueza histórica.
 
Concelho essencialmente vocacionado para a agricultura, tem como principais recursos agrícolas o azeite, os cereais e os produtos hortícolas. Do seu subsolo extrai-se uma excelente qualidade de mármore rosa e de bom barro para a indústria cerâmica. As potencialidades mineiras (cobre, chumbo, estanho e titânio) são frequentemente lembradas.
 
Mas se, durante décadas, a agricultura absorveu grande parte da mão-de-obra deste concelho, nas últimas décadas assiste-se a uma crescente terciarização da economia local, empregando este sector 57% da população. A expansão do sector administrativo e dos serviços públicos e de apoio social, bem como a crescente polarização de Portalegre em termos de emprego, justificam o desenvolvimento deste sector.
 
Na última década assistiu-se a um crescimento do sector secundário que ocupa, neste momento, 23% da população activa do concelho. A criação de uma zona industrial e a instalação de empresas de transformação de produtos regionais conferem um certo dinamismo ao sector transformador no concelho.
 
O envelhecimento populacional e o défice de qualificações da população activa, num contexto de fraco dinamismo empresarial, têm conduzido também a um baixo nível de empregabilidade. O aumento do rendimento por habitante nos últimos anos tem resultado, ainda assim, mais de uma maior taxa de utilização dos recursos humanos, onde se têm observado alguns progressos, do que de aumentos de produtividade.
 
A agricultura e os serviços públicos e sociais assumem, assim, um peso na economia regional (15% e 34% do VAB regional, respectivamente) muito superior à média nacional, o que revela dificuldades de diversificação do tecido empresarial e de desenvolvimento de novas actividades de prestação de serviços (nomeadamente, serviços de apoio às empresas).
 
Por isso, como defende João Carlos Crespo, é necessário o aproveitamento do saber e tradição associados aos produtos tradicionais, apostando na modernização das unidades produtivas, na certificação e qualidade e na estruturação conjunta de cadeias de comercialização e distribuição.
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Foto: António Duarte Mil-Homens – Anabela Beirão, Presidente João Crespo e Fernando Jesus Pires
OREGIÕES – Quais os eixos de desenvolvimento económico e social para Arronches, que pretende promover no seu mandato?
 
João Carlos Crespo – Bom, começo por vos dizer que o Concelho de Arronches é um concelho com características rurais, onde a agricultura é de facto a atividade económica predominante. Mas, não é só da agricultura que vive o Conselho.
 
Ao contrário de muitos municípios, as câmaras municipais são a maior entidade empregadora, aqui são as IPSS que empregam o maior número de pessoas.
 
Ou seja, as nossas IPSS, para além do trabalho fantástico que realizam com os idosos, os jovens e com as pessoas com deficiência, são um fator de desenvolvimento. O que para nós é importante, dado o número de pessoas que empregam.
 
OR – Estamos a falar mais ou menos de quantas pessoas e em que áreas?
 
J.C.C. – Estamos a falar de lares de terceira idade, casas de acolhimento, residencial para jovens, lares residenciais para pessoas com deficiência. Enfim, uma série de respostas que temos no Conselho, que abrangem estas áreas todas e que estão instaladas nas três freguesias do concelho. Estamos a falar de centenas de funcionários que estão afetos a essas IPSS.
 
Posso dizer que, neste momento, a Câmara tem cerca de 120 funcionários, mas o número de pessoas a trabalhar com as IPSS ultrapassa, largamente, esse número.
OR – O desenvolvimento turístico
 
J.C.C. – A cultura e o turismo são importantes na nossa estratégia de desenvolvimento. Nós temos um vasto património cultural, vários monumentos classificados como património nacional. A Igreja Matriz, que está aqui ao lado, e o Abrigo de Pinturas Rupestres em Esperança, da Lapa dos Gaivões, são monumentos nacionais, que têm importância na estratégia e promoção turística do nosso Conselho.
 
Tenho que fazer uma confissão: não estão ainda devidamente divulgados e explorados para podermos tirar dali o partido que queremos tirar. Ou seja, é um projeto que nós queremos divulgar. Temos que divulgar, precisamente. Mas não só divulgar, temos que criar também atividades que possam trazer as pessoas, envolver a comunidade escolar. Enfim, estão a começar a ser feitos uma série de trabalhos.
 
No sector do turismo, a gastronomia e os vinhos são também fatores de desenvolvimento muito importantes. Especialmente a gastronomia, os vinhos não são assim tantos os estabelecimentos e as adegas que temos no Conselho.
 
A gastronomia é, de facto, um forte chamariz de pessoas, de muitas pessoas… pela proximidade que temos com Espanha, o foco está muito virado para o público espanhol, neste caso da gastronomia.
 
Eles próprios nos procuram. São apreciadores da gastronomia portuguesa e, portanto, os nossos empresários da restauração souberam aproveitar esse público que está aqui ao lado e, de facto, têm tido excelentes resultados.
 
Para o município, promover as quinzenas de gastronomia com o porco alentejano, (produto endógeno de Arronches), as semanas gastronómicas da caça (produto que tem aqui alguma importância), é absolutamente natural. Também não esquecemos os petiscos no verão, para dar alguma dinâmica aos estabelecimentos mais pequenos e que criam as suas próprias dinâmicas.
 
OR – E a nível de estrangeiros, existe procura para turismo rural?
 
J.C.C. – Como sabem, o licenciamento agora dos alojamentos locais foge um bocadinho ao controlo dos municípios e, quando nos damos conta, já temos vários locais com essa actividade turística. Ainda bem que assim é.
 
Esse fenómeno ocorre mais na freguesia de Esperança, onde vão crescendo e nascendo algumas reabilitações de imóveis degradados, adaptados precisamente para alojamento local ou para turismo rural. O que também nos deixa satisfeitos, mas são mais os portugueses, que os estrangeiros que realizam esse tipo de investimento. Apesar de existirem alguns estrangeiros, há muitos portugueses a optar pela aquisição de terrenos com casa, para depois os adaptar para segunda habitação, ou para alojar.
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Foto: António Duarte Mil-Homens
OR – E a habitação…
 
J.C.C. – Nós temos a nossa estratégia local de habitação em desenvolvimento. Estamos com uma série de obras a decorrer. Temos já executados quase um milhão de euros em reabilitação urbana, com fundos do PRR. Os contratos assinados já ultrapassam um milhão de euros. É bom.
 
Estamos a falar de um concelho com menos de 3 mil habitantes, com um centro histórico. Com algum grau de degradação, não tanto como havia aqui há 15 anos, mas, felizmente, a Câmara tem feito esse trabalho de reabilitação do centro histórico, comprando imóveis que estão devolutos, reabilita e arrenda – com a particularidade disponibilizá-las a pessoas jovens, para rejuvenescer o centro histórico.
 
Temos trazido muita gente jovem para o centro histórico. E o curioso é que os proprietários de alguns imóveis devolutos têm percorrido este caminho em paralelo com a Câmara. Por isso, é que o centro histórico parece, nos últimos tempos, um estaleiro. Há obras em todas as ruas, o que é bom.
 
É sinal que as pessoas estão envolvidas e que querem, de facto, dar uma nova imagem ao centro histórico.
 
OR – E quanto às escolas…
 
J.C.C. – Ainda há pouco estive no nosso agrupamento de escolas na recepção aos professores (promovemos sempre uma recepção ao professor), realizamos uma visita, no nosso autocarro com os nossos técnicos, aos espaços culturais, para se sentirem também integrados e, é claro, essa visita culmina com um almoço no Genro do Fosso.
 
O ano já começou, mas ainda continuam a chegar inscrições de alunos que vêm transferidos da Lausanne, pessoas brasileiras que vêm residir e trabalhar no Conselho e estão a matricular os seus filhos. A Freguesia de Esperança tem sido, de facto, uma agradável surpresa. As pessoas procuram muito a Esperança, certamente pela sua ruralidade e, certamente, porque também há imóveis disponíveis, ainda que tenham que sofrer obras de negociação.
 
No ano passado tínhamos 260 alunos, este ano temos 290, a caminho dos 300. Ou seja, de um ano lectivo para o outro, tivemos um crescimento muito forte. É certo que também vêm alguns alunos dos Concelhos vizinhos,
 
OR – E em relação aos professores…
 
J.C.C. – Eles vêm porque reconhecem, de facto, o nosso agrupamento como agrupamento de excelência. A melhor escola pública do Distrito de Portalegre é a de Arronches. Apesar de termos só alunos até ao 3º ciclo. Os rankings, podem valer o que valem, mas reconhecem, que a seguir aos colégios privados, aparece logo a escola da Arronches.
 
OR – A população acolhe bem os professores…
 
J.C.C. – Somos conhecidos por receber bem. Nós gostamos de receber pessoas, de as acolher bem e de as tratar bem, mesmo que sejam só de passagem. E, naturalmente, os professores são bem recebidos. Eles vão passar aqui pelo menos um ano letivo a conviver com os locais e, portanto, têm que também ser bem integrados e bem acolhidos de forma a que possam também fazer bem o seu trabalho.
 
O problema dos professores leva-nos a uma outra preocupação: o da habitação. A questão da habitação, preocupa-nos bastante, porque, neste momento, não há oferta disponível para quem quiser vir para Arronches trabalhar ou viver, como é o caso dos professores.
 
Já estamos a construir. Vamos iniciar a construção do novo loteamento, onde vamos edificar, ao abrigo do PRR, mais cinco habitações para serem arrendadas para o rendimento apoiado, com rendas baixas, acessíveis às pessoas que vivem em condições indignas, que são muito poucas. Ou até para reajustar agregados familiares que estão em habitações que estão desajustadas para o número de pessoas que vivem no abrigado e poder fazer esses reajustes.
 
Temos alguns lotes disponíveis para auto-construção. Tem sido uma procura também muito interessante, também nas freguesias. Em Arronches os nossos terrenos neste momento estão completamente esgotados, mas tivemos, por exemplo, alguns terrenos disponiveis, que é na freguesia mais pequena, Mosteiro, e que tem pouco mais de 300 habitantes, vendemos quatro lotes numa haste pública há pouco tempo.
 
OR – Qual é a resposta a nível de creches?
 
J.C.C. – Vai havendo resposta, a lista de espera existente é de quatro, cinco crianças. Não é muito significativo, mas o importante é que não existam listas de espera e que haja lugares disponíveis.
 
OR – Que apoio que dá às juntas de freguesia?
 
J.C.C. – Temos três juntas de freguesia, uma urbana e duas rurais. Para além das verbas que lhes são transferidas pelo Orçamento de Estado, que são muito poucas, portanto, o que obriga o município a assegurar muitas das novas competências que foram transferidas para as juntas de freguesia.
 
Estamos sempre muito próximos dos presidentes de Junta e, por isso, disponibilizamos tudo aquilo que é necessário. Adquirimos uma varredora para disponibilizar às duas juntas de freguesia alternadamente para poderem ter uma melhor eficiência na limpeza urbana.
 
OR – O que nos pode dizer sobre as questões de saneamento básico, quando ainda existem aldeias portuguesas sem o mínimo de infraestruturas…
 
J.C.C. – Isso não acontece no nosso concelho. Sabemos que, infelizmente, ainda existem locais em Portugal sem saneamento. Nós tentamos cobrir, o melhor possível, todas as localidade do concelho, mesmo aquelas de difícil acesso, nomeadamente em termos de abastecimento de água, por exemplo, em zonas mais afastadas, na Esperança e no Recanto. Mas existem zonas no concelho de difícil acesso onde a água não consegue chegar lá, mesmo que seja bombada.
 
Neste momento o saneamento está concessionado a uma empresa intermunicipal. Portanto, quer o abastecimento de água, quer o saneamento, é da responsabilidade dessa empresa municipal. Estamos a trabalhar para garantir o acesso de toda a gente a esses bens essenciais. E, quando não há saneamento, há fossas sépticas que vão dando respostas às necessidades das populações e que são acompanhadas quer pela Câmara, quer pela empresa.
 
OR – O Concelho está bem servido em vias de comunicação, e de carreiras rodoviárias a ligar as diferentes localidades do município?
 
J.C.C. – Esse é um problema que não é fácil de resolver. Ou seja, nós temos, diariamente, da sede do Conselho, duas carreiras, uma que faz ligação Elvas – Portalegre, que passa por vários locais, e a outra que faz Campo Maior, Portalegre, e que passa por Arronches. O grande problema é a ligação às redes expresso. Ou seja, as pessoas que queiram ir, por exemplo, a Lisboa, num expresso, ou vão a Portalegre, ou vão a Campo Maior, apanhar o expresso. Não há alternativa.
 
OR – É sempre mais uma hora de acréscimo
 
J.C.C. – Naturalmente. Mas estamos a criar uma rede de transportes, semelhante à que já existe, na região do Médio Tejo, que é o transporte a pedido. E uma das questões que colocamos, aquando da organização das rotas, foi precisamente esta: a ligação, de Arronches, às redes expresso.
 
Percebo, que tudo isto gira à volta dos números e as redes expresso não vão fazer passar por aqui, uma carreira, para apanhar uma ou duas pessoas. Tudo tem a ver com dinheiro e rentabilidade, como é óbvio, e nós temos consciência disso, tem a ver com rentabilidade.
 
Mas esta situação fica resolvida com uma ligação a Campo Maior, a mais direta a Lisboa. Os expressos de Portalegre dão sempre umas grandes voltas, vão por Ponte de Sor. E a de Campo Maior demora duas horas e pico a chegar a Lisboa.
 
Depois, temos a questão do transporte entre localidades do concelho. As juntas de freguesia, com as suas viaturas, transportam as pessoas às consultas médicas e aos tratamentos. Essa situação vai ficar resolvida com o transporte a pedido, que também vai ser implementado com rotas, que vão abranger os lugares mais remotos do concelho, designadamente aqueles que estão junto à fronteira e os mais isolados. Vamos criar rotas que, duas vezes ou três por semana, possibilitem a deslocação das pessoas, mediante o pagamento, à sede de freguesia ou à sede do concelho.
 
OR – Com os problemas, que têm surgido, com encerramento total, ou parcial, das unidades de saúde, como se encontra, o vosso conselho nesta área?
 
J.C.C. – É um tema delicado, mas não vejo grandes problemas. Senão vejamos: temos um centro de saúde, com dois médicos. Se tivéssemos três, seria melhor. É óbvio que, em períodos de férias, há sempre mais queixas. Temos extensões de saúde nas duas freguesias rurais e os médicos vão, pelo menos, duas vezes por semana, a essas extensões, dando resposta, também, a essas pessoas.
 
Em urgências de obstetrícia e pediatria é que existem algumas dificuldades, neste momento. O Hospital Portalegre dá resposta. Temos, também, o Hospital de Elvas, muita gente opta por ir a Elvas, por causa do atendimento diferente. É uma unidade hospitalar mais pequena…
 
Também temos pessoas que optam por ir a Espanha, que está a cerca de 50 km. Muita gente tem cartão, seguro de saúde e muitas clínicas de Badajoz têm acordos com as seguradoras portuguesas. As pessoas aproveitam e vão a Espanha.
 
OR – Posso deduzir que existe um bom relacionamento com Espanha?
 
J.C.C. – Sim, e até, existem laços familiares entre as pessoas dos dois lados da fronteira. A localidade mais próxima é La Codosera, temos pessoas portuguesas e espanholas que casaram e, portanto, há aqui, uma afinidade muito grande. Inclusivamente ao nível político. Existe uma grande proximidade entre os municípios raianos.
 
A resolução de alguns problemas em termos de saúde poderão ficar resolvidos com a construção do Hospital Central de Évora, que será também um hospital universitário. Ao que sabemos, vai ser criado um curso de Medicina, com determinadas especialidades.
 
Os nossos doentes vão deixar de ir, por exemplo, a Lisboa, passando a ser encaminhados para Évora. A questão que nos preocupa, ainda voltando na saúde, é o esvaziamento dos hospitais nomeadamente o de Portalegre e o de Beja, o esvaziamento, em termos de especialidade, isso preocupa-nos, e já alertamos também a tutela, nesse sentido, ou seja, garantir que o que existe agora, é para manter e eventualmente, até para reforçar algumas coisas e Évora ser ali um polo mais centralizador de algumas especialidades onde haja mais dificuldades em recrutar médicos e dar resposta para Évora portanto, é diferente de ir daqui fazer 100 km a Évora do que fazer 250 km, para Lisboa.
 
OR – Qual é o envolvimento da população nos projetos da autarquia?
 
J.C.C. – Gostava que se envolvessem mais, confesso. Quando apresentamos um programa eleitoral às pessoas e merecemos a confiança da maioria das pessoas é um sinal que se reveem no projeto e nós estamos a tentar cumpri-lo. Reconheço que é um projeto e um programa muito ambicioso, que não é um programa para quatro anos. É um programa para dois mandatos, claramente, mas temos cumprido grande parte das medidas anunciadas.
 
Faltam-nos aquelas medidas que efetivamente envolvem obras no terreno. Ou seja, quando se fala em reabilitação urbana, não se fala só nas habitações, fala-se também no espaço público e grande parte dos projetos que nós temos é reabilitação do espaço público e queremos renovar aquilo que são os espaços que existem. Até para os disponibilizar de outra forma às pessoas que cá residem e às pessoas que nos visitam.
 
Grande parte desses projetos também não avançaram, porque estávamos a aguardar a abertura do quadro comunitário 2030 que atrasou. Mas, apesar disso, a câmara tem uma situação financeira excelente. Temos um saldo de tesouraria de cerca de 9 milhões, o que nos dá uma margem um conforto muito grande.
 
OR – Como é a vossa relação com a oposição
 
J.C.C. – Diria que temos uma relação muito cordial, de diálogo constante. Eu tenho essa preocupação de situações em que entendo que devemos todos saber.
 
Telefono quando não tenho a oportunidade de falar em reunião de câmara. Se for realmente urgente, telefono ao líder da oposição e ponho a par dos assuntos que tenho que pôr. Estamos sempre abertos a sugestões da oposição. Diria que é uma relação onde temos naturalmente as nossas divergências, como é óbvio. Sinto que a oposição tem uma posição muito construtiva e colaborativa.
 
OR – Que perspectivas tem para o futuro do concelho
 
J.C.C. – Bom, como vos disse o projeto eleitoral que apresentei às pessoas vai no sentido de criar aqui condições para que possa haver um desenvolvimento a todos os níveis no nosso concelho. Falamos já da habitação, falamos dos apoios sociais que o município dá, da parte cultural e turística, mas não falamos da parte empresarial.
 
Nós temos uma zona industrial que, neste momento, está quase lotada em termos de venda dos lotes, mas não há nada lá a implantar. As empresas compraram os lotes, mas estão a aguardar os financiamentos para começarem a construir as instalações e a criar postos de trabalho.
 
A preocupação que tenho – também em função da procura que temos de empresas que se querem instalar no concelho – obriga a pensar na ampliação da zona industrial, apesar da quase totalidade dos lotes estarem vendidas só vemos dois ou três pavilhões.
 
Uma outra preocupação é o desenvolvimento do Ninho de Empresas, que se tem revelado uma aposta ganha por parte da autarquia, tendo sido a oportunidade ideal para diversos empresários da região instalarem os seus negócios em Arronches.
 
OR – O que está muito em voga …
 
J.C.C. – Sim, mas ainda existem dois espaços que ficaram vazios agora. Um porque faleceu o empresário e outro porque, enfim, o espaço não era utilizado e nós, unilateralmente, rescindimos o contrato que tínhamos com a empresa.
 
Em reunião de câmara foi decidido iniciar-se os procedimentos para a ocupação desses espaços.
 
O facto de termos empresas instaladas, que foram criadas no ninho de empresas, e empresários a desenvolverem a sua atividade, a ganharem asas e a comprarem lotes de terreno contíguos para ampliarem as suas instalações, deixa-nos muito satisfeitos.
 
Não quero ser demasiado ambicioso, mas o desenvolvimento económico do concelho passa muito por aquele espaço da zona industrial. Tenho, por exemplo, uma empresa que comprou dois lotes de terreno para aí construir as suas instalações. É uma empresa que vai reaproveitar o soro (resíduo das queijarias) para transformar em produtos para a cosmética e para a medicina. É algo que nos deixa ligeiramente apreensivos, porque se trata de um resíduo. Por isso, tivemos a preocupação de pedir ao Politécnico de Beja que efetuasse um estudo sobre o impacto ambiental que esta atividade pode ter no nosso concelho, quer a nível de cheiros quer a nível de águas residuais. Segundo o instituto, o impacto é zero e aquilo que é reaproveitado até ao último ao último grão e, portanto, é uma empresa que vai criar 30 postos de trabalho.
 
Temos uma outra empresa que já está instalada, aproveitando as instalações que estavam devolutas e que reabilitou. É uma empresa que vai agarrar em plásticos no PET das garrafas e que vai fazer combustíveis – gasolina e gasóleo
 
OR – e, portanto …
 
J.C.C. – É uma multinacional que tem capitais brasileiros e portugueses e que já se instalou e está agora a terminar a montagem da primeira linha de produção. O empresário anunciou que vai criar entre 50 a 70 postos de trabalho.
 
Mas isso levanta outras questões, onde vão alojar essa gente toda. É muito bom que as empresas venham. É muito bom, mas há consequências. Enfim, é um problema que não se resolve com um estalar de dedos.
 

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