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Cusco-Gal

A um lamentável acidente na A23, no sentido Lisboa, o transito entope no sentido do acidente e no contrário. Os pobres que ficam na faixa acidental não têm hipótese: há duzentas ambulâncias, 12 carros de bombeiros, um de descascamento de metal e o presidente da Junta. Os outros, que vão em sentido contrário, apanhados ao deus-dará no pequeno espectáculo da chapa retorcida, cumprem com rigor a sua função: cuscam. Com sorte, porque estão de pescoço virado para o lado homicida, ainda conseguem bater no carro da frente e, nisto, a chusma pára toda, A23 cortada, a bicha chega à A1, ninguém passa em lado nenhum.

Esta glória lusitana é a grande e cesarina cusquice que, segundo os estudos clínicos, faz parte do cromossoma PT-12 e está no ADN dos nascidos cá no burgo. A Amélia tem um Mercedes? Ui, o bairro todo vai passar a semana em inquéritos fúteis, mas acelerados! Onde é que a Amélia ganha dinheiro para aquilo. Bastam quatro dias para a primeira conclusão: “Arranjou um amante, só pode, coitado do Carlos, a trabalhar à noite para ela se andar a lambuzar com um qualquer”. E a história pega. Dali a começar a ouvir vozes (as vizinhas atrás das persianas a gritar ‘putéfia’), é um saltinho para Amélia, que não percebe puto do que se passa. Meses depois aparece um daqueles jipes para a cidade e volta o bairro a confirmar a decerto certa teoria. Pobre Amélia. Nunca saberão a verdade porque, simplesmente, ninguém lhe perguntou nada.

Mas a coisa sobe acima, na escala social. Se o tipo dos Negócios Estrangeiros apresenta maneirismos, ou algum político não se casa até aos 40, é fatal: é maricas. Só pode. E isto é fatal para o pobre homem (ou mulher). A não ser que os pasquins garantam, numas fotos comprometedoras, que o tipo frequenta é bares de meninas dia-sim-dia-sim. Aí, a grande mole humana levanta-se em aplauso e fica conhecido como Paulinho Garanhão. Ah! Já não se fazem homens assim.

Uma, bem conhecida, é a estabilidade do casamento dos padres. A aldeia toda sabe que o homem de deus tem duas qualidades: um voto de castidade e uma Maria, senhora que lá vive em casa para tomar conta dele – já não vai para novo, chegou já aos 38…

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Sobre o caso anterior, o delicioso é que nas aldeias e vilas isto é aceite até com algum sentimento de justiça e vingança – afinal toda a gente concorda que os padres tenham a sua Maria. Mas, atenção, nem o pior bêbado da terra consegue imaginar o Padre Alves a dar cambalhotas, todo nu, com a Maria. Só de pensar, é pecado. Bota mais uma “bombinha”, como diria o ébrio ao Armani d’ “A Fé de Guano” (belo romance).

Ah, não vos esqueceis das escutas: o PGR escuta e é escutado, a PJ escuta, a PSP escuta, a GNR escuta, a Brigada Fiscal escuta, a Escola de Sagres escuta, os supermercados escutam, o treinador do Benfica escuta – os olhos dos portugueses escutam tudo, em miopia apaixonada pelas histórias que, afinal, não o são. Mas é muito mais divertido imaginar um mundo de boa cusquice com aventuras mirabolantes, do que este rame-rame em que se anda.

Ou então, arranja-se um amante como a Amélia. Para disfarçar que o carro é da empresa. Assim contribuímos para que o bairro seja mais colorido e até roce a verdadinha, verdadinha.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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