Há em Portugal um empresário entertainer chamado Joaquim da Conceição Rodrigues, mais conhecido pelo nome artístico de Jacques Rodrigues – o patrão inflamado dos sucessos “Maria”, “TV 7 Dias” e “Nova Gente”, além de mais de uma centena de títulos que o senhor foi matando a capa (e espada) ao longo da vida.
Ontem, para ver como andava a coisa, comprei a “Maria”. Há anos que não a via. Fomos próximos, embora nunca tenha andado com ela. Estive, por duas vezes, na empresa Impala, do inefável Rodrigues, mas não me calhou a sorte de ir para a pequena maravilha de papel que já vendeu quase meio milhão de exemplares por semana – e mesmo assim a editora faliu e a parturiente Rodrigues anda agora a contas com a Justiça.
A “Maria” está na mesma, mas desta vez não percebo nada. D’antes, ainda conhecia os famosos. Hoje, a coisa está pejada de estrelas da Internet e actores que, quando nasceram, já as Torres Gémeas tinham caído.
Jacques Rodrigues, vindo de Angola no maldito 25 do A, amante da tipografia e da composição, julgava os repórteres como seres menores. A filha, tão ou mais ilustrada do que seu pai, chegou a dizer que estavam a preparar uma nova revista. Que estava tudo na “lança de rampamento”. E aquilo só um segundo depois é que bateu…
O Houdini Rodrigues, quando andava tudo a ver se comprava ‘jeans’ Levis, Lois e Lee, achou por bem ter uma fabriqueta própria. Botou-lhe, orgulhosamente, a etiqueta ‘Jack Rod’. Ora, aqui está uma bela maneira de se imortalizar: ter umas calças com o seu próprio nome. Mas ninguém teve coragem de lhe dizer que, em britânico, aquilo queria dizer “ganda pau de ferro”. O que até podia ter fundo de verdade… ou não (as fontes nada dizem).
No refeitório da empresa o diligente Rodrigues mandou pôr, uma vez, um cartapácio a dizer: “A Salada é só para quem come cá”. Estes paradoxos infernais davam cabo da cabeça de uma pessoa. Cheguei a imaginar o tráfico de alface em Ranholas (sim, o lugar da sede da empresa é uma autêntica alergia), ou o esconder das cebolas nos bolsos …
Um dia, nos idos tardios de 90, era preciso uma peça de computador para salvar uma máquina da paginação. O informático, excelente pessoa, disse que ia lá acima ao computador do digital Rodrigues e canibalizou o PC ao pobre patrão. É que Jack Rod exigia ter um aparelho, mas nunca o ligou nem sabia funcionar com aquilo.
Mas a “Maria” está bem. Os empregados da Impala é que estão mal (os que sobram), – mal da vida, de pagamentos, de ordenados, de saúde mental, à força de uma brutalidade já condenada em tribunal.
Não desejo mal ao homem que disse, uma vez, que uma revista sobre internet não devia mostrar tantos sites nas suas páginas, porque “daqui nada acabam-se os sites”. Era o ano 2000.
Mas não lhe perdoo ter estado indirectamente ligado à partida do meu amigo e mestre E. Leão Maia. E ter deixado milhares de empregados desempregados, na miséria. No entanto, confesso que acho piada duas diatribes: uma, quando acabou uma publicação mais séria, ter colocado Baptista-Bastos como director da “Segredos de Cozinha”. A outra, ainda melhor.
O guloso Rodrigues via as fotos de refeições tão belas nas revistas de culinária que ordenou que lhe levassem os pratos feitos, para que ele almoçasse. Assim o fizeram. Jack Rod terá degustado o alimento e, claro, as tintas, vernizes, maquilhagem das lagostas – coisas comuns para se obterem boas fotos. Tal a barrigada, tal a ambulância. Mas soltaram-no do hospital, esses bons médicos. Com grande pena de muitos.
Jacques Rodrigues é um mestre enorme das revistas cor-de-rosa. Bastava que o seu feitio fosse menos “rural”, como dizia Marcelo Rebelo de Sousa, para ficar na história, a bem. Mas nunca deixou de andar com as pedras no bolso, qual pastor…