O Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, afirmou que seu sucessor nascerá fora da China, reacendendo preocupações sobre uma possível disputa com Beijing. A declaração foi feita no livro Voice for the Voiceless, que foi lançado nesta terça-feira nos Estados Unidos e no Reino Unido, e revisto pela Reuters

Aos 89 anos, Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, escreve que a instituição deve continuar após sua morte. Pela primeira vez, ele especifica que o próximo Dalai Lama nascerá no “mundo livre”, longe da influência chinesa. “O propósito da reencarnação é continuar o trabalho do seu antecessor. O novo Dalai Lama nascerá no mundo livre para manter sua missão de ser a voz da compaixão universal e o símbolo das aspirações do povo tibetano”, declarou.
O líder espiritual vive exilado na Índia desde 1959, após uma revolta fracassada contra o regime comunista de Mao Zedong. Beijing insiste que tem o direito de escolher o sucessor, mas o Dalai Lama já afirmou que qualquer nome indicado pela China não será respeitado pelos tibetanos.
Em resposta ao livro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China classificou o Dalai Lama como um “exilado político envolvido em atividades separatistas sob o véu da religião”. No entanto, Beijing manifestou recentemente interesse em dialogar, desde que o líder reconhecesse o Tibete e Taiwan como partes inalienáveis da China — uma proposta rejeitada pelo parlamento tibetano no exílio.
A saúde do Dalai Lama tem sido motivo de preocupação entre seus seguidores, especialmente após uma cirurgia no joelho no ano passado. Apesar disso, ele afirmou à Reuters que acredita poder viver até os 110 anos. No livro, ele revela ter recebido, ao longo de mais de uma década, inúmeros pedidos para garantir a continuidade da linhagem espiritual.
De acordo com a tradição tibetana, a alma do monge reencarna no corpo de uma criança após a morte. O atual Dalai Lama foi identificado como a reencarnação de seu antecessor aos dois anos de idade. Embora reconheça que retornar ao Tibete é cada vez mais improvável, confia que o governo tibetano no exílio continuará a luta pela liberdade de seu povo.
“O direito dos tibetanos à soberania não pode ser negado indefinidamente, nem sua aspiração por liberdade esmagada pela opressão”, escreveu o Dalai Lama. “Se as pessoas permanecem infelizes, uma sociedade estável é impossível.”
A declaração do Dalai Lama reacende a tensão histórica com a China e levanta questões sobre o futuro do Tibete. Enquanto Beijing busca consolidar seu controle, a voz do líder espiritual segue ecoando como símbolo de resistência e esperança para milhões de tibetanos ao redor do mundo.