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Daniel Proença de Carvalho: “Os portugueses têm menos confiança na Justiça do que nos governos”

Uma cultura dominante aversa ao sucesso, sobretudo económico. A Justiça como “calcanhar de Aquiles” de Portugal. O endividamento nacional e o excesso de impostos. A falta de liberdade económica e de lideranças fortes. Estes e outros assuntos polémicos integram o livro “Justiça, Política e Comunicação Social – Memórias de um Advogado” de Daniel Proença de Carvalho, que o influente advogado apresentou, na passada sexta-feira, 10, na Soalheira, sua terra natal.

Aos 82 anos, depois de uma vida dedicada à advocacia, o jurista sublinhou que a Justiça é um dos setores em que Portugal não progrediu e em que menos os portugueses confiam. O livro traça uma espécie de percurso das insuficiências do setor, salientando o “longo e doloroso processo de desencantamento” de Daniel Proença de Carvalho com a área judicial. “Compreendo os políticos que não mexem uma pedra para melhorar a Justiça, que enchem a boca com o slogan à política o que é da política, à justiça o que é da justiça; simplesmente receiam que os poderosos da Justiça atingidos os tomem como alvo”, pode ler-se nas primeiras páginas da obra.

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Ao todo, são 375 páginas em que Daniel Proença de Carvalho tece, em jeito de biografia, uma análise sobre a Justiça, os media e a política em Portugal, desde o final da década de 1960 até à atualidade, numa obra editada pela Bertrand.

José Manuel Barata Feyo, jornalista português com vasto currículo, conterrâneo de Proença de Carvalho, foi o apresentador da obra e do autor. Recordou os tempos em que foi Diretor de Informação convidado da RTP2, quando o jurista presidia o canal de televisão público, em 1980. “Foi um dos piores erros da minha vida. Ao fim de três meses apresentei demissão”, lembrando que apesar dos desaguisados entre ambos, na época, nunca esteve em causa a prestação de Proença de Carvalho no cargo, mas sim o estatuto da RTP, constituída desde o topo à base da hierarquia por “criaturas do Governo”, transformando-a num instrumento ideológico do Estado. “Eu era um naive, um ingénuo, que trilhou todo o seu caminho no jornalismo lá fora, e que chegou a uma redação com imensos militantes de tudo e mais alguma coisa, menos do jornalismo. Já eu era o diretor apenas militante do jornalismo. Nunca poderia dar certo”, afirmou.

O livro, lançado em abril de 2022, foi fruto da pandemia Covid-19. Numa altura de forçado isolamento social, o advogado refugiou-se com a esposa no Alentejo, mas nem a contemplação dos campos e o desenvolvimento de um projeto agrícola de produção de azeites gourmet – D.P.C Azeite Português Premium, produzido na Herdade do Freixo, em Ferreira do Alentejo, foram suficientes para apaziguar a sua mente inquieta. “Senti que precisava de algo mais. Não tinha intenção de o escrever, mas a pandemia acabou por ter os seus efeitos positivos. O meu objetivo com este livro não foi fazer doutrina, antes compilar um conjunto de memórias e experiências que vivi”, explicou.

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Justiça, Política, Comunicação Social, e ainda Música e Agricultura (facetas suas menos conhecidas) – são múltiplas as posições de ator e observador privilegiadas que contribuem para a compreensão coletiva do país na atualidade daquele que já foi considerado um dos homens mais poderosos de Portugal.

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A apresentação do livro de Daniel Proença de Carvalho integrou uma iniciativa cultural da Junta de Freguesia da Soalheira que tem vindo a dar ênfase regular a obras que destaquem autores ou personalidades naturais da vila.

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Filipa Minhós
Filipa Minhós
Licenciada em Ciências da Comunicação e Pós-graduada em Direito da Comunicação, conta no seu currículo com a edição de várias revistas de especialidade das áreas do desenvolvimento territorial regional e empresarialidade, e diversas publicações no âmbito do património cultural e imaterial das Beiras.

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