A diplomacia portuguesa nunca foi tão emocionante. Vítor Sereno, o homem que atravessou continentes em missões diplomáticas, desbravou o terreno das relações internacionais e acumulou condecorações nos mais diversos teatros da política externa, é agora o novo Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). Um passo natural, diriam uns; uma viragem para o enredo de um filme de espiões, dirão outros. Sereno é, indiscutivelmente, o “James Bond” à portuguesa, mas sem gadgets da Q ou Martinis agitados e não mexidos
O ‘diplomata-espião’: uma transição que faz sentido?
A nomeação de Vítor Sereno para liderar os serviços secretos portugueses é um movimento digno de um capítulo surpreendente na história das nossas instituições. De cônsul em Macau a embaixador no Japão, passando por uma lista invejável de destinos exóticos e politicamente sensíveis, Sereno acumulou o tipo de experiência que o capacita a lidar com as sombras da informação estratégica. É certo que não usará um smoking para reuniões clandestinas nem precisará de se lançar de helicópteros em plena operação – pelo menos, assim esperamos.
No entanto, a sua chegada ao SIRP é um sinal de que a diplomacia e o trabalho de inteligência podem ser mais próximos do que aparentam. Quem melhor do que alguém habituado a descodificar sutilezas diplomáticas para interpretar as camadas de desinformação que ameaçam o país? Afinal, se a espionagem é a arte da leitura entrelinhas, Sereno já está na sua praia.
O legado: uma remodelação ou uma purga suave?
Graça Mira Gomes, a sua antecessora, abandonou o cargo num momento em que os serviços de informações estavam sob o escrutínio apertado da opinião pública. Entre computadores misteriosamente recuperados e sessões parlamentares tensas, o SIS, braço operacional do SIRP, foi forçado a justificar-se perante um país desconfiado. A escolha de Sereno para liderar esta entidade não surge no vazio: a mudança é uma peça numa remodelação mais ampla que parece querer virar a página de um capítulo tumultuoso.
O primeiro-ministro não deixou espaço para especulações. A substituição foi acompanhada por outras nomeações estratégicas, num movimento que busca credibilidade e eficácia. Ao dar protagonismo a figuras como Sereno, Luís Neves e Patrícia Barão, o Governo tenta reforçar a confiança em instituições que, frequentemente, operam longe do olhar público, mas no centro das preocupações nacionais.
Espionagem: a evolução de uma profissão de sombras
No imaginário popular, espiões são indivíduos de sangue-frio, armados até aos dentes e prontos para salvar o mundo numa tarde. Na realidade portuguesa, no entanto, a espionagem parece ser mais sobre relatórios do que perseguições a alta velocidade. Sereno não carrega armas, mas carrega anos de experiência em observar, interpretar e, acima de tudo, representar os interesses de Portugal em terrenos movediços. Esta habilidade é mais útil do que uma pistola, especialmente num mundo onde a guerra de informação pode ser tão destrutiva quanto uma explosão.
Enquanto o novo Secretário-Geral do SIRP ajusta o fato (provavelmente um modelo impecavelmente cortado, mas sem truques escondidos nas costuras), resta-nos refletir sobre como esta transição sinaliza uma nova abordagem na política de segurança nacional. Talvez menos dramatismo e mais profissionalismo. Talvez menos sigilo obscuro e mais confiança pública. Talvez, até, uma dose inesperada de serenidade, como o próprio nome do novo líder sugere.
Sereno no olho da tempestade
Há quem diga que os espiões verdadeiramente eficazes são aqueles que nunca percebemos que estão a trabalhar. Para Vítor Sereno, agora encarregado de navegar o complexo mundo do SIRP, o maior desafio será este: mostrar resultados sem revelar demasiado, operar nas sombras sem deixar sombras pairar sobre si.
Será que o “James Bond” à portuguesa está à altura da missão? Se o histórico de Sereno é um indicativo, talvez não precisemos de pedir reforços a MI6. Por agora, a nação espera que, ao contrário de tantos enredos de espiões, o verdadeiro drama aqui seja apenas na ficção.