Sete deputados portugueses estão em Taiwan a “título pessoal”, a convite do governo de Taiwan. A visita foi autorizada pela Assembleia da República, não representa o parlamento. Também não se sabe quem paga a deslocação e estadia.
À partida, a viagem já é uma confusão política e diplomática. Um grupo de sete deputados portugueses a “título pessoal”, mas com autorização da Assembleia da República em visita a Taiwan, pode ser, à chegada, um problema diplomático.
O grupo parlamentar do PS disse à Lusa que os deputados “não estão em representação do Parlamento nem dos grupos parlamentares”, mas sim de “si próprios” e “a convite do governo de Taiwan”.
Mas, se não estão em representação do parlamento, estão a fazer o quê? E porque têm reuniões com governantes e parlamentares de Taiwan? Vão jogar golfe?
Contactado pela Lusa, o grupo parlamentar do PSD disse apenas que a visita foi autorizada pelo Presidente da Assembleia da República, frisando que é feita “a título pessoal”.
Se é a título pessoal, então terão que custear as despesas porque não são despesas de representação. Mas se é o governo de Taiwan a pagar até os cafés, é o quê? Um presente?
As duas fontes do PS e do PSD confirmaram que a delegação é composta por quatro deputados do PSD – Paulo Rios de Oliveira, João Moura, Carlos Eduardo Reis e Helga Correia – e três do PS – João Castro, Norberto Patinho e Vera Braz.
Ao jornal Expresso, Paulo Rios de Oliveira, deputado do PSD e chefe da delegação, recusou, a propósito da visita ao território cuja soberania a China reivindica mas que tem governo autónomo, ser “condicionado” por alguma “autoridade estrangeira” sobre o que “pode ou deve fazer”. Rios de Oliveira fala a título pessoal ou como deputado?
A delegação deverá visitar centros tecnológicos e culturais e manterá reuniões com o vice-Presidente, membros do Governo e parlamentares da ilha, segundo a mesma fonte.
Contactado pela Lusa, Rios de Oliveira remeteu declarações para mais tarde e terá muito que explicar.
Conflito China-Taiwan em fase tensa
Na passada semana, durante uma visita à ilha Terceira, nos Açores, o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang, falou sobre o conflito de Taiwan, criticando a interferência estrangeira, em particular dos EUA.
“Os Estados Unidos também reconhecem uma só China, mas fazem algo que não é conveniente para uma só China. As atividades para destruir ou obstruir o desenvolvimento das relações internacionais são culpa dos Estados Unidos. (…) A parte chinesa opõe-se contundentemente”, afirmou Zhao Bentang.
A Lusa procurou uma reação a esta visita por parte da embaixada da China em Lisboa, mas até à divulgação desta notícia não foi possível obter uma resposta.
A China considera Taiwan uma província que faz parte do seu território e que pretende recuperar a qualquer momento, sem descartar o uso da força para tomar a ilha, que tem Washington como seu principal aliado.
Esta visita dos deputados portugueses “a título pessoal” acontece uma semana depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter sugerido, durante uma viagem a Pequim, que a União Europeia deve ter uma posição própria sobre o conflito que opõe Taiwan às autoridades de Pequim, demarcada do posicionamento dos Estados Unidos.
“Nós, europeus, não devemos ser seguidores nem temos de nos adaptar ao ritmo norte-americano ou a uma reação exagerada chinesa”, disse Macron, que defendeu uma maior “autonomia estratégica” em termos diplomáticos.
Fonte: Lusa