Faleceu na noite de segunda-feira, aos 94 anos, Maria João Rolo Duarte, jornalista e escritora cuja vida e obra marcaram profundamente o jornalismo português. Natural de Lisboa, Maria João Rodrigues Madeira Rolo Duarte destacou-se desde cedo pela ousadia e determinação com que rompeu barreiras, tornando-se, em 1956, a primeira mulher portuguesa a assinar uma coluna desportiva no jornal Mundo Desportivo. Este feito pioneiro viria a ser reconhecido em 2020 pelo Comité Olímpico de Portugal, numa cerimónia que homenageou mulheres com carreiras firmadas no jornalismo desportivo.
A sua atividade profissional estendeu-se muito para além do desporto. Trabalhou na Federação Portuguesa de Patinagem e colaborou com o irreverente semanário Parada da Paródia, publicado entre 1960 e 1962. Foi chefe de redação da revista Donas de Casa, onde enfrentou a censura, vendo vários dos seus textos silenciados. Assumiu ainda a chefia de redação da revista Tele Semana, aquando da sua fundação em 1973, e, no ano seguinte, dirigiu a revista de banda desenhada O Jacaré. No semanário se7e, desempenhou igualmente funções de chefia, e colaborou de forma regular com os jornais A Capital, A Bola e Jornal de Notícias.
Em 1979, alargou o seu talento à escrita musical, sendo autora das letras do disco de adivinhas Qual É a Coisa Qual É Ela, interpretado por Lena d’Água, um marco na música infantil portuguesa. Nos últimos anos, assinou na revista Tempo Livre, do Inatel, uma série de biografias dedicadas a figuras marcantes da cultura portuguesa, revelando sempre um olhar atento, humanista e profundamente curioso.
Maria João Rolo Duarte foi uma mulher à frente do seu tempo, abrindo caminhos com coragem e inteligência, em contextos frequentemente hostis à presença feminina. O seu legado estende-se também ao campo familiar: do seu casamento com o jornalista, dramaturgo, humorista e publicitário António Rolo Duarte nasceram três filhos — o editor fonográfico António Manuel Rolo, a designer Fátima Rolo Duarte e o jornalista e editor Pedro Rolo Duarte, falecido em 2017.
Com a sua morte, desaparece uma voz lúcida, combativa e inspiradora, cuja trajetória se confunde com algumas das mais significativas transformações vividas pela imprensa e pela cultura em Portugal durante o século XX. A sua memória permanecerá viva nas páginas que escreveu, nas barreiras que quebrou e no exemplo que deixou às gerações seguintes.