Gabor despede 222 trabalhadores na fábrica de Barcelos em plena crise do setor do calçado
A multinacional alemã Gabor, um dos nomes históricos da indústria do calçado em Portugal, vai avançar com um despedimento coletivo que abrange 222 trabalhadores na unidade fabril de Silveiros, em Barcelos. A decisão, já confirmada pela administração, está a gerar um clima de consternação e profunda instabilidade entre os funcionários.
De acordo com a delegada sindical Maria José Ferreira, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Calçado, Malas e Afins, a intenção de despedimento foi comunicada na passada sexta-feira. A notícia caiu como uma bomba sobre o ambiente laboral da empresa, provocando reações emocionais intensas. “É gente a chorar, é gente a desmaiar, é um autêntico clima de funeral”, descreveu, visivelmente abalada. Entre os trabalhadores afetados encontram-se pessoas com mais de três décadas de serviço, bem como jovens casais cujas vidas foram subitamente viradas do avesso. “De um momento para o outro, veem cair por terra todos os seus sonhos”, lamentou a sindicalista.
Em resposta à Lusa, o gerente da fábrica de Barcelos, Ralf Rasemann, confirmou o despedimento coletivo e explicou que a decisão resulta da atual conjuntura económica adversa, nomeadamente da quebra significativa nas encomendas provenientes da Alemanha. “Trabalhamos direta e exclusivamente para a casa-mãe, na Alemanha, e o problema tem a ver principalmente com o mercado alemão”, referiu.
A Gabor considera que a redução do número de trabalhadores é uma medida necessária para ajustar a capacidade de produção às necessidades reais da empresa neste momento. Rasemann descreveu o despedimento como uma “medida de gestão adequada, proporcional e racional”.
A fábrica de Barcelos, onde a Gabor está instalada desde que se transferiu da Trofa, empregava até agora cerca de 1.000 pessoas. Com este despedimento, o número será reduzido para aproximadamente 760 trabalhadores. Já há cerca de dois meses, a empresa tinha dispensado 67 trabalhadores, entre contratos não renovados e acordos de cessação de funções.
Apesar do abalo causado, a delegada sindical sublinhou que a empresa tem cumprido rigorosamente com todas as obrigações laborais, incluindo salários, subsídios e prémios de produção. “Nisso são muito certos”, reconheceu Maria José Ferreira.
Segundo avança o Jornal de Notícias, o setor da produção é o mais atingido por este corte, com a dispensa de 193 trabalhadores. Também os setores de montagem, pré-montagem, acabamento e costura sofrerão cortes significativos.
A Gabor está presente em Portugal desde 1986 e é uma das empresas estrangeiras com maior expressão no setor do calçado nacional. Esta decisão, tomada num contexto em que as exportações portuguesas de calçado até cresceram 5,4%, embora com uma quebra nos Estados Unidos, levanta preocupações sobre a sustentabilidade do modelo de dependência exclusiva de um único mercado — neste caso, o alemão — para fábricas instaladas em território português.
O futuro de muitos trabalhadores, algumas famílias inteiras, permanece agora em suspenso, à espera de medidas de apoio e de possíveis reações sindicais e governamentais.