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Dos serões à diáspora

 Instituto Internacional de Macau e a Identidade Macaense

Após um arranque naturalmente difícil, em 1999/2000, exactamente na fase final da transferência do exercício da soberania e do início de funcionamento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), o Instituto Internacional de Macau (IIM) conseguiu ganhar um espaço próprio, de âmbito cultural e académico, com actividades que têm sido muito bem aceites pelo público. Seminários, conferências, palestras, debates, cursos de curta duração, estudos, projectos de investigação, publicações, sessões de lançamento de livros, intercâmbios, protocolos, concursos, prémios, exposições, participação em eventos internacionais e os já consagrados “serões macaenses” foram algumas das actividades diversificadas que o IIM realizou ao longo destes anos, sempre com a preocupação dupla da qualidade e do interesse para o público de Macau, e não só.

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Dos serões à diáspora
DR

Os “serões macaenses”, pelo interesse que despertaram, e pela excelente adesão do público, foram uma clara história de sucesso, protagonizados por pessoas como Ana Paula Laborinho, Vítor Manuel Serra de Almeida, António Conceição Júnior, Carlos Marreiros, Gustavo da Roza, Joaquim Marinho de Bastos e os já desaparecidos Francisco Fernandes, Leonel Barros, José Silveira Machado, Henrique de Senna Fernandes e Alberto Alecrim. Todos contribuíram para recordar os percursos da comunidade e para identificar os novos desafios que se lhe colocam, hoje e no futuro.
Entre os projectos de investigação de grande fôlego do IIM de realçar um sobre as relações históricas entre Portugal e a Indonésia, abrangendo todo o longo período de 1509 a 1974, com o patrocínio e colaboração do Instituto Diplomático.

Têm sido realizadas, ao longo destes anos, diversas acções relacionadas com os aniversários do estabelecimento da RAEM e levados a cabo diversos projectos na área da defesa e valorização do património histórico e cultural, para além do estreitamento de relações funcionais com organismos internacionais, com as mais de 30 instituições com os quais foram assinados protocolos de cooperação e com a diáspora macaense, de resto, aquele que tem sido o principal foco da sua actividade.

No decorrer do mais recente Encontro de Macaenses (2019), o IIM protagonizou uma sessão cultural no centro de Ciência e Tecnologia, com a presença de vários estudiosos. Helen Ieong, da Fundação Macau, fez uma apresentação em power point do projecto em curso “Memória de Macau”; Henrique D´Assumpção, investigador macaense radicado na Austrália, falou-nos de um trabalho online que visa a divulgação das genealogias macaenses, e, através delas, assegurar a preservação da comunidade; o “filho da terra” José Basto da Silva mostrou-nos os resultados de um inquérito a nível mundial sobre “o que é que significa ser macaense”; e, finalmente, o professor Ming Chan, da prestigiada universidade norte-americana de Stanford, dissertou sobre a “Macau de hoje e de outrora” chamando a atenção para “o homem e mulher macaenses”, afinal, “os responsáveis pela existência desta singular cidade”.

No decorrer da sessão foram lançados dez títulos com a chancela do IIM. A saber: “Falar de Nós – Vol. XI” e “Legado Luso – Um Património Valorizado”, ambos de Jorge Rangel; “Dom Arquimínio Rodrigues da Costa, Bispo de Macau”, de António Aresta; “Valorizar a Identidade – Entidades distinguidas com o Prémio Identidade”, de Alexandra Sofia Rangel; “Macau – Roteiros de uma Cidade Aberta”, de Rui Simões e Jorge Santos Alves; “Stories from the Western Seas” (pequenos apontamentos sobre a história de Portugal) do conhecido macaense californiano Frederick ‘Jim’ Silva; “O Cantar de Macau” (versos em patuá, as ditas ‘lengalengas’); “Five Hundred Years of Macau”, do também reputado macaense australiano Stuart Braga; “Macaense Cuisine”, do multifacetado arquitecto António M. Jorge da Silva, residente na Califórnia, e ainda “China e Países Lusófonos – Património Construído”.

Fora do programa do Encontro, o IIM promoveu ainda uma conferência com vários oradores e diferentes temáticas. Fernanda Ilhéu falou-nos da nova rota da seda marítima do século XXI e dos Países de Língua Portuguesa “na Cadeia de Valor Global da China”; Paulo Duarte, ainda a respeito da nova rota da seda, realçou a convergência da terra e do mar “na (re)emergência da China”; e Severino Cabral chamou a atenção para a lusofonia e a sua importância no advento da “nova mundialidade sino-luso-brasileira”.

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O Brasil tem sido, aliás, um dos países mais abordados pelo IIM. A história da presença dos chineses no Brasil tem merecido a atenção de uma equipa de académicos da Universidade Federal de Pernambuco e contou com o suporte financeiro da Fundação Joaquim Nabuco. Essa universidade, a primeira a assinar um protocolo de cooperação com o IIM, continua muito virada para o Oriente e interessada em desenvolver cooperação estreita com instituições na Àsia. É um trabalho de extrema importância pois permite-nos perceber como é que os chineses chegaram ao Brasil e qual foi o seu papel nesse país. Pouca gente sabe que os primeiros chineses que partiram para o Brasil fizeram-no através de Macau, estabelecendo uma ligação que depois se tornou muito intensa, permitindo que Macau e o Rio de Janeiro fossem mais tarde geminadas.

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Joaquim Magalhães de Castro
Joaquim Magalhães de Castro
Licenciado em História, tem trabalhado nas últimas décadas na imprensa de Macau e em diversos jornais e revistas portuguesas. É autor de mais de uma dezena de livros ( Recomendados para o plano nacional de leitura) e onze documentários televisivos.

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