A Federação Renovação do Douro defendeu a necessidade urgente de avançar com a destilação dos excedentes de vinho para produção de aguardente a ser introduzida no vinho do Porto, juntamente com a implementação de uma fiscalização mais rigorosa e uma forte aposta na promoção. Esta medida surge numa vindima marcada por dificuldades crescentes no escoamento das uvas, que está a criar sérias preocupações entre os viticultores da região.
Este ano, o Douro iniciou a vindima com uma produção promissora, mas os produtores enfrentam uma crise sem precedentes. Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro, sublinhou que muitos viticultores estão à beira do desespero, sem saber a quem entregar as suas uvas. “Estamos numa fase em que têm que fazer a colheita e não sabem a quem vão entregar essas uvas”, declarou Paredes, apontando para o agravamento da situação pelo segundo ano consecutivo, com operadores a alegarem quebras nas vendas e stocks cheios.
Para Rui Paredes, a situação é dramática, especialmente para os pequenos e médios produtores, e se não forem tomadas medidas eficazes, 2025 poderá ser o ano em que muitos abandonarão a atividade. A solução, segundo a federação, passa pela destilação dos excedentes. “Vai ter que avançar, tem que ser uma realidade”, afirmou Paredes, destacando que esta medida, se aplicada de forma consistente, poderá resolver a questão dos excedentes em dois a três anos.
No entanto, a produção regional de aguardente não é suficiente para cobrir todas as necessidades do vinho do Porto, o que poderá encarecer o preço. Ainda assim, Paredes acredita que uma utilização parcial da aguardente produzida localmente já poderá ajudar a reduzir os excedentes sem a necessidade de recorrer a destilações de crise.
Outro ponto crucial abordado pela federação é a necessidade de um controlo mais apertado sobre a entrada de vinhos de outras regiões, especialmente de Espanha. Apesar de o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) ter proibido a entrada de produtos vínicos a granel na Região Demarcada do Douro, Paredes defende que a fiscalização deve ser ainda mais rigorosa e expandida a outras regiões demarcadas do país.
Para além das medidas de controlo, a federação reclama uma aposta forte na promoção do vinho do Porto, sugerindo campanhas de marketing direcionadas para grandes mercados consumidores, com o objetivo de inverter a quebra nas vendas que tem persistido nos últimos 20 anos. Paredes criticou também o baixo preço a que o vinho do Porto tem sido vendido, sublinhando que tal desvalorização não reflete a qualidade do produto e não cobre os custos de produção.
Por fim, abordando a possibilidade de implementação da vindima em verde no próximo ano, uma medida que consiste em deitar as uvas ao chão para evitar excesso de produção, Paredes considerou-a como um último recurso, a ser utilizado apenas em situações extremas, quando não houver outra solução para escoar o produto.