O azul salta-nos aos olhos, está por todo o lado em gradações várias de tom, como uma continuação do céu, como uma inundação de calmaria entre o bulício da medina que parece não parar nunca, salvo à sexta-feira pela manhã. É transparente a luz e pura a água de nascente que jorra das torneiras onde em qualquer canto os transeuntes se podem refrescar, saciar a sede.
É uma cidade pequena, limpa, ajeitadinha, onde é fácil fazer voar o pensamento e imaginá-la em plena década de 70 do passado século, o colorido da movida hippie que lá fazia desaguar gente de toda a Europa, não fosse um dos grandes centros de comércio de haxixe vindo das plantações vizinhas. Era escassa a oferta hoteleira, nesses tempos, e não raro pelo salão do Hotel International se espalhava gente a dormir nos sofás ou pelo chão, esgotados os quartos.
Meio século depois, o turismo é outro, mais cosmopolita, há hotéis com todas as mordomias, um sem-número de alojamentos locais e à entrada da cidade continuam a ver-se miúdos a acenar com chaves, oferecendo a quem chega alojamento na casa da família, do vizinho. Há pizarias onde se faz fila, sempre cheias, pastelarias, gelatarias modernas, mas nada chega aos pés de uma fritada de peixe numa das esplanadas frente à mesquita central. Sinal dos tempos modernos, pelas ruas os pequenos traficantes já não anunciam haxixe, mas ópio, heroína, cocaína, o flagelo não tem fronteiras. E custa ver crianças pequenas a circular com meia-dúzia de porta-chaves para vender aos turistas, apesar de ser uma cidade próspera ainda tem muita miséria.
A cidade é linda, e segura. Vale a pena ir de malas semi-vazias para as encher de toalhas de algodão e mantas de lã, em grande parte ainda tecidas artesanalmente. E vale a pena visitar as lojas, dos antiquários aos sapateiros, aos armazéns de tapetes e de roupas – entre as peças e a arquitectura, é difícil não sair maravilhado.
El Aiún, Xexuão, Chefchaouen – a cidade em terras berberes fundada no século XV e então povoada sobretudo por mouriscos do Al-Andalus, bastião militar destinado a combater o avanço dos portugueses que tinham conquistado Arzila e Tânger – guarda o túmulo de Moulay Abdeslam, considerado um dos quatro pilares do Islão. Tem uma simpática e muito bem preservada igreja, por detrás da qual se estende o bairro espanhol, testemunhando os tempos em que foi possessão dos “nuestros hermanos”.
Os locais chama-lhe o seu “Corte Inglès”
Ao virar da esquina, uma torneira
Hotel Internationa
“Chez” Iassine, fabricante de calçado
Por trás de uma porta, um pátio e cinco casas de família
A mesquita na praça principal da medina
Num lugar sagrado do Islão, uma igreja
Bairro espanhol
De todos os lados, a montanha
Muralha do kasbah
Os mosaicos nos interiores.