Edgar Dias, a viver há 14 anos em Doha, capital do Qatar, ligou esta noite para a embaixada portuguesa no Qatar, que está sob violento ataque de mísseis iranianos, e recebeu a resposta. “Dizem que está tudo bem, para não me preocupar”, dizem a Edgar Dias, produtor de televisão e professor no emirado, a OREGIÕES. “Aqui a informação é filtrada, a internet cortada em certos momentos. Temos de recorrer a truques para nos informámos. O comunicado do ministro da Defesa daqui não nos chegou pelos meios locais. Só soubemos através dos amigos que ainda temos fora do Qatar e nos vão informando”, assegura o português.
As vias mais usadas são o Telegram e o Signal, duas aplicações de mensagem instantânea na Internet, de origens russa e chinesa.

Entretanto, Edgar Dias tomou as medidas que podia. “Vou dormir num colchão de ar, no chão, debaixo de uma mesa e junto de uma parede mestra. Não fazemos ideia, nós, estrangeiros, onde há bunkers, abrigos, nada disso…”, desabafa. “Provavelmente a classe alta e os amigos mais chegados têm abrigos privados, o que é natural. Mas como o Qatar tem amizade com o Irão, nada disto nos parece normal”, remata Edgar, 46 anos, aos nossos repórteres.”Comecei a ouvir explosões às cinco e meia da tarde, mas as ruas já estavam quase todas sem gente. Continuei a trabalhar. Só as mensagens de Portugal me alertaram para a situação real”, diz, em desespero.
Na noite desta segunda-feira, 23 de junho de 2025, o Irão lançou pelo menos seis mísseis balísticos contra a Base Aérea Al-Udeid, no Qatar, onde estão estacionadas forças dos Estados Unidos. A ofensiva, que teve lugar pouco antes das 20h00 (17h00 em Portugal continental), marcou uma nova escalada nas tensões entre Teerão e Washington, numa altura em que a região do Golfo se encontra sob elevada pressão militar e diplomática.

As autoridades do Qatar confirmaram que os mísseis foram interceptados com sucesso pelas suas defesas aéreas, não havendo registo de vítimas nem de danos materiais. O governo qatari condenou o ataque de forma veemente, classificando-o como uma violação da sua soberania, do direito internacional e da Carta das Nações Unidas. Doha afirmou ainda que se reserva o direito de responder de forma proporcional à natureza da agressão, embora tenha reiterado o seu desejo de evitar um alastramento do conflito. No entanto, fontes do governo qatari disseram já que o Irão “informou antecipadamente” que rota levavam os mísseis, para evitar que este primeiro ataque tivesse sucesso.
O ataque foi reivindicado pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), que o designou como “Operação Anúncio da Vitória”. Segundo o governo iraniano, trata-se de
uma resposta direta aos bombardeamentos norte-americanos contra três instalações nucleares no Irão — em Fordow, Natanz e Esfahan — realizados dois dias antes numa operação conjunta com Israel. O Irão declarou que os alvos foram escolhidos de forma a evitar áreas civis e que o objetivo era transmitir um sinal de força sem provocar vítimas, procurando assim conter a espiral de violência. Um comunicado do Conselho de Segurança Nacional iraniano sublinhou que o Irão não pretende hostilizar o Qatar, país com o qual mantém relações históricas, apesar da presença militar norte-americana no seu território.
Do lado norte-americano, o Pentágono confirmou o ataque e assegurou que não houve feridos. Segundo fontes da Casa Branca, os Estados Unidos foram avisados com antecedência pelo Irão, num movimento interpretado como uma tentativa de limitar os danos e evitar uma reação em larga escala. Ainda assim, o presidente Donald Trump reuniu-se com a sua equipa de segurança nacional para discutir possíveis retaliações. Em declarações posteriores, um porta-voz da Casa Branca defendeu que os bombardeamentos às instalações nucleares iranianas foram necessários para “neutralizar capacidades hostis” e advertiu que os EUA estão prontos para tomar novas medidas, caso sejam atacados novamente.
A ofensiva iraniana ocorre num momento de grande tensão no Médio Oriente. Em solidariedade com o Qatar, outros países do Golfo como o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait encerraram temporariamente os seus espaços aéreos. Embora o ataque não tenha causado vítimas, o seu simbolismo e o grau de precisão envolvido colocam a região num ponto crítico. Nas próximas horas, diplomatas e líderes regionais tentarão conter os danos políticos e evitar que esta escalada se transforme num conflito aberto de grandes proporções.
Portugal está a tentar organizar um transporte de emergência do Médio Oriente até à Europa, mas o espaço aéreo daquele país esta encerrado.