Depois da pandemia, os enfermeiros portugueses passaram, rapidamente, de grandes heróis a “vilões do SNS”, debatendo-se com os mesmos problemas salariais e sobrecarga de trabalho. O Governo de António Costa, na altura, prometeu “mundos e fundos”. Mas, rapidamente “se esqueceu” e, por isso, os enfermeiros vão voltar à greve na próxima sexta-feira.
Para o Dia Internacional dos Enfermeiros, que se comemora sexta-feira (12 de maio), dois sindicatos de enfermeiros marcaram uma greve por causa do agravamento das condições de trabalho com o aumento do recurso a trabalho extraordinário e consequente cansaço dos enfermeiros.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR) anunciaram uma greve, para sexta-feira, para reivindicar a “contratação imediata” de profissionais e a abertura de negociações para a definição e aprovação de uma nova carreira.
Para esse dia, o SEP marcou também uma concentração em frente ao Ministério da Saúde para exigir melhores condições de trabalho e a contratação de mais profissionais. O mesmo reivindica o SINDEPOR, que, em comunicado, anuncia que “a sua greve vai abranger os Açores e Madeira, apenas para dar oportunidade a estes colegas de se solidarizarem com os enfermeiros do continente”, realçando a “abertura negocial” que tem havido nos dois arquipélagos, que “já trouxe resultados concretos” para os enfermeiros que lá trabalham.
Ambos os Sindicatos garantem que os serviços mínimos estão assegurados, afectando sobretudo as cirurgias e as consultas externas. Os Sindicatos reivindicam melhores condições de trabalho, menos horas extraordinárias e a contratação de mais profissionais.
Segundo o presidente do SINDEPOR, Carlos Ramalho, acusa o actual Governo de, infelizmente, não lhes dar alternativas: “Tivemos mesmo de avançar para a greve, num dia que deveria ser de celebração de uma classe profissional essencial à vida dos cidadãos”.
Governo autista
O dirigente recorda as várias tentativas que o sindicato fez recentemente para retomar negociações com o Ministério da Saúde.
“Do outro lado é o completo autismo, o que acaba por não surpreender assim tanto, num Governo com muitas dificuldades em resolver os seus próprios problemas. Desta forma não podem restar energias e capacidades para resolver os muitos problemas que afetam os enfermeiros e a enfermagem”, lamenta Carlos Ramalho.
Tanto o SINDEPOR como o SEP, exigem a contratação imediata de enfermeiros com vínculos estáveis de forma a respeitar as dotações seguras e conferindo autonomia às instituições para o fazerem; abertura de concursos para as várias categorias de enfermeiro e conclusão dos que estão em curso, bem como a aplicação correta do Decreto Lei 80-B/2022 com pagamento de retroativos a 2018.
Os enfermeiros reclamam, ainda, a abertura de negociações para a definição e aprovação de uma nova carreira de enfermagem que valorize a profissão, corrija desigualdades, injustiças e discriminações, compense o risco, desgaste rápido e penosidade da profissão, preveja condições específicas de acesso à reforma sem penalizações, a revisão da tabela salarial e dos tempos de progressão e a reforma do atual sistema de avaliação (SIADAP) por forma a adaptar-se às características específicas da profissão.