8º Festival da Enguia da Lagoa de Santo André, até 12 de fevereiro
Estratégia de estímulo à economia local, vários restaurantes da Lagoa de Santo André, concelho de Santiago do Cacém, disponibilizam, até 12 de fevereiro, uma degustação em diversos pratos de enguias, um peixe sexualmente peculiar e mitológico, estudado, mas que nunca alguém viu como copulam.
Além da caldeirada – cuja peculiaridade nasce sobretudo do tempero – surge também o ensopado de enguias, as enguias fritas, a açorda de enguias ou as enguias grelhadas. Outra fórmula célebre que integra o receituário tradicional local é a enguia frita molho de escabeche, com raízes na tradição local.
Estas especialidades gastronómicas, podem ser saboreadas em dez restaurantes da zona do concelho de Santiago do Cacém. Recorde-se que a primeira edição do “Larousse Gastronomique“, o guia definitivo da cozinha francesa, teve 45 receitas de preparação de enguias, entre as quais o tradicional Matalote d’Anguilles.
Apreciadas em vários lugares no mundo, em Portugal as enguias tornaram-se também num prato de eleição, de norte a sul. Em ambiente dulçaquícola, pode ocorrer em qualquer rio ou ribeira, durante todo o ano.
Também chamados “peixes elétricos”, porque emitem choques que podem atingir 850 volts, sobretudo para caça e proteção, distribuem-se pela costa atlântica da Europa e Norte de África, assim como por algumas ilhas do Atlântico e ainda em toda a costa do Mar Mediterrâneo.
O seu processo de vida, designa.se por catádromo, pois desenvolve-se em água doce de lagos, estuários e margens de rios, mas reproduz-se em ambientes de água salgada, atingindo vários tamanhos. Alguns podem chegar até 3,5 metros.
Podem viver até 15 anos nos rios, até regressarem ao Mar dos Sargaços para se reproduzirem, onde os adultos irão morrer após a desova. No mar, os ovos se movem com a corrente marítima para chegarem ao rio (água doce) novamente.
Os cientistas (National Geography) dizem que existem no mundo 16 espécies e três subespécies de enguias. Cada enguia pode pôr 30 milhões de ovos, mas já começa a haver escassez devido à construção de barragens e a um comércio desenfreado, como iguaria exótica.
Johannes Schmidt, um dos investigadores que mais procurou conhecer estes seres que desovam a 500 metros de profundidade, escreveu em 1923: “Não existe outro peixe conhecido que necessite de um quarto da circunferência do globo para completar o seu ciclo de vida”. Defendeu que as enguias iam desovar ao Mar dos Sargaços.
Depois de anos de pesquisa marinha, em 1922 ele revelou triunfantemente à Royal Society of London a sua descoberta de que não tinha conseguido ver as enguias se acasalando, mas encontrou as menores larvas e, portanto, o local de desova mais provável.
O comércio internacional, da Europa e América é liderado em grande parte pelo apetite dos japoneses, sobretudo por enguia grelhada, conhecida por kabayaki, uma indústria de milhares de milhões de euros.
No Japão, pensa-se que a enguia aumenta a resistência humana a temperaturas elevadas e o Doyo Ushi No Hi, dia da enguia, no fim de julho, atinge quantidades e valores astronómicos.
Para muitos povos indígenas das ilhas polinésias, a enguia é um deus que substitui a serpente arquetípica nos mitos de criação, uma importante fonte de alimento e um símbolo erótico – a palavra que muitos ilhéus usam para enguia, tuna, é também um sinónimo de “pénis”.
