A Etiópia deu um passo histórico na sua trajetória económica ao lançar oficialmente a sua nova bolsa de valores, após quase 50 anos de ausência. A cerimónia teve lugar esta sexta-feira em Adis Abeba, com a presença do primeiro-ministro Abiy Ahmed, que destacou este momento como um “novo começo” para o país. O projeto tem como objetivo transformar a economia etíope, ainda predominantemente estatal, através da criação de um mercado de capitais dinâmico e atrativo para os investidores.
Durante a inauguração, Abiy Ahmed apelou aos cidadãos etíopes para “assumirem riscos” e confiarem no sucesso do novo mercado financeiro. O Primeiro-Ministro simbolizou o início da bolsa com o toque do tradicional sino, marcando uma nova fase no desenvolvimento económico da nação.
O presidente da Bolsa de Valores da Etiópia, Tilahun Kassahun, revelou que a ambição é que a bolsa conte com 90 empresas cotadas e 4 milhões de investidores. A criação desta nova plataforma financeira é vista como uma oportunidade para diversificar a economia do país, que durante décadas foi fortemente controlada pelo Estado. A última bolsa de valores da Etiópia foi encerrada em 1974, após a queda do imperador Haile Selassie e a ascensão do regime marxista do Derg, que implementou políticas de nacionalização.
A reabertura da bolsa é acompanhada por uma série de reformas económicas implementadas nas últimas semanas. Entre elas, destaca-se a liberalização parcial do sistema bancário, aprovada em dezembro pelo Parlamento etíope, permitindo a entrada de operadores estrangeiros no setor. Em outubro, o governo também organizou a venda de ações da Ethio Telecom, empresa pública de telecomunicações, e em julho implementou a liberalização da taxa de câmbio, uma medida essencial para que a Etiópia beneficie do apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A criação da bolsa é vista como uma medida tardia por muitos analistas, como o economista independente Samson Berhane, que comentou que a reabertura da bolsa “já devia ter acontecido há muito tempo”. De acordo com Berhane, a bolsa pode ser fundamental para atrair investimentos de longo prazo e para regularizar mercados financeiros, como o mercado obrigacionista e interbancário, que ainda carecem de estrutura no país.
A Etiópia, que é o segundo país mais populoso de África, com cerca de 120 milhões de habitantes, registou um crescimento económico significativo entre 2004 e 2019, com taxas superiores a 10% ao ano. No entanto, a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia impactaram o crescimento económico nos últimos anos, com uma média de 5,9% entre 2020 e 2023. Durante este período, a inflação também aumentou, passando de 20,4% para 30,2%, conforme dados do Banco Mundial.
A aposta da Etiópia na liberalização da sua economia e no desenvolvimento de um mercado financeiro robusto reflete a ambição do país em transformar-se numa potência económica africana, atraindo investimentos e diversificando as suas fontes de crescimento.