“Fui alvo de de uma campanha da poderosa máquina de comunicação do Governo”, afirmou o ex-adjunto do ministro das Infraestruturas João Galamba logo no inicio da audição na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP, esta terça-feira.
Frederico Pinheiro relatou durante horas os episódios ocorridos no gabinete do ministério que têm como principal questão averiguar se houve ou não defesa de quatro pessoas. “Saí do Ministério na presença da PSP que eu próprio tinha chamado”, acrescenta. E, questionado por André Ventura, do Chega, Frederico Pinheiro confirma que foi alvo de ameaça física por parte de Galamba, no telefonema em que é demitido. Segundo o ex-adjunto, Galamba terá dito algo como “se estivesse ao pé de ti senão dava-te dois socos”.
“Queria reafirmar que estão a ser espalhadas mentiras sobre o que aconteceu naquela noite de 26 de abril. “Não agredi ninguém, apenas me libertei em legitima defesa de quatro pessoas que me agarraram e tentaram tirar a mochila. Fui sequestrado no gabinete. Fui eu que chamei a polícia, não roubei, furtei ou fugi com o computador, não parti nenhum vidro do Ministério com a minha bicicleta”, esclarece.
Frederico Pinheiro, negou ter copiado qualquer documentação “classificada”, que de resto, diz ter sido por si colocada e referia a informação relativa à reestruturação da TAP.
Frederico Pinheiro admitiu recorrer à justiça pelas acusações de que foi alvo. “Não permitirei que destruam o meu bom nome. E é também por isso que aqui estou: para defender a verdade e a justiça. Para lutar pela minha honra e dignidade, para mostrar aos meus filhos que perante as maiores infâmias, adversidades, nunca devemos deixar de defender a verdade.”
“Fui ameaçado pelo SIS”
O contacto com o SIS começou após enviar um email do ministro das infraestruturas e à chefe de gabinete sobre a entrega do computador e do telemóvel de serviço, conta Frederico Pinheiro. “Depois recebo uma chamada de um número desconhecido. É um homem que se identifica como agente do SIS. O agente ligou devido ao computador de Frederico Pinheiro e da informação que está lá dentro. Desconfiei que fosse mentira. Proponho ao agente ligar para o SIS e dar uma palavra código, para confirmar que de facto era um agente do SIS. O agente refere que está a ser muito pressionado de cima e que o melhor é resolvermos isto a bem. O telefonema durou 13 minutos devido a todas as dúvidas que tinha. Fica combinado que entregaria o computador na minha rua. O assunto morreu ali”, contou, detalhadamente, Frederico Pinheiro.
Assessoras de Galamba contra-atacam
Já quase no final da audição de Frederico Pinheiro, cinco elementos do gabinete de João Galamba, emitiram uma nota à comunicação social, onde acusaram o ex-adjunto de mentir à comissão de inquérito à TAP, reiterando que foram agredidas duas pessoas em 26 de abril e que a videovigilância mostrará o “estado de cólera” de Frederico Pinheiro.
“Na sequência das informações prestadas na comissão parlamentar de inquérito à TAP pelo Dr. Frederico Pinheiro, vêm as pessoas por ele citadas nesse âmbito frisar que o Dr. Frederico Pinheiro mentiu na CPI-TAP sobre os incidentes de dia 26 de abril”, lê-se num comunicado, assinado por Lídia Henriques, Cátia Rosas, Rita Penela, Eugénia Cabaço e Paula Lagarto, do gabinete do Ministério das Infraestruturas. Segundo a mesma nota, perante a intenção de Frederico Pinheiro de levar o computador de serviço do Ministério, “onde estava proibido de entrar”, foi-lhe “solicitado que não o fizesse, tendo o mesmo, na sequência, procedido à agressão de duas pessoas que o tentavam impedir”.
“As imagens de videovigilância do edifício mostrarão, com toda a certeza, o estado de cólera em que Frederico Pinheiro se encontrava nesses momentos, arremessando inclusivamente a bicicleta contra a fachada do edifício”, lê-se na nota.
Adicionalmente, as visadas destacam que as fotografias de uma das “assessoras agredidas mostram a violência dessas agressões” e que “o relatório médico da ida às urgências nessa madrugada comprova a existência de agressões”.
Reuniões prévias com ex-CEO da TAP antes da audição na CPI
“O senhor deputado Carlos Pereira descreveu que perguntas ia efetuar e a senhora engenheira Christine mostrou as respostas que daria em relação aquelas perguntas e revelou o seu plano comunicacional”, expõe, acrescentando que o Ministério tinha solicitado que reforçasse os resultados positivos obtidos pela TAP em “detrimento de outros assuntos mais polémicos”.
Outra questão são os apontamentos que o adjunto Frederico Pinheiro recolheu e que foram consideradas “informais”, numa primeira fase e que não iriam ser enviadas à CPI, para depois serem pedidas em cima do prazo de entrega, a 24 de abril, tendo motivo do pedido de prorrogação do prazo para 26 de abril.