Castelo Branco prepara-se para a construção da “maior fonte dinâmica do país” no coração da cidade, como anunciado pelo presidente da câmara, Leopoldo Rodrigues, que soma mais um anúncio grandioso ao seu portefólio. A nova maravilha aquática contará com um investimento de 740 mil euros e incluirá projeções de água, som e luz. Ao que parece, a câmara encontrou a solução mágica para resolver os dias de calor e atrair turismo – uma fonte monumental que promete arrefecer a cidade e o bolso do município.
Rodrigues argumenta que a nova fonte terá o nobre propósito de atenuar as temperaturas de Castelo Branco, que, como sabemos, só variam entre os 35º e os 40º durante o verão (e, em certos dias, no outono e primavera também). Para além disso, a fonte “dinâmica” deverá tornar-se numa atração irresistível para os turistas, que provavelmente se esquecerão das praias e partirão em peregrinação para testemunhar o espetáculo aquático na Praça da Devesa. O país aguarda com grande expectativa este novo ponto de interesse, onde se preveem enchentes para ver um jorro de água em todas as cores e ritmos, ao estilo Las Vegas, mas no tranquilo Castelo Branco.
Mas não se trata só da fonte. Para coroar a “requalificação” da Praça da Devesa, a pista de patinagem existente será convertida num “audiório” envidraçado – um espaço multifuncional onde se poderá organizar desde exposições a workshops, conferências e, porque não, até uns concertos. Afinal, quem é que precisa de um pavilhão desportivo numa cidade interior quando pode ter uma instalação artística cheia de vidro e potencial para múltiplos usos? A pista de patinagem, justifica o autarca, “acabou por não ter as dinâmicas que se esperava.” Consta-se, então, que este novo “audiório” terá a dinâmica que faltou à pista e que, com ele, a cidade viverá uma nova era de atividades culturais.
O preço da Frescura?
Em época de “ajustar o cinto”, o investimento de 740 mil euros numa fonte dinâmica levanta questões. O senhor Rodrigues apresenta a obra como uma necessidade urgente de “refrescar” o centro da cidade, mas até que ponto esta será a forma mais eficiente de lidar com o calor? Terá a Câmara estudado o impacto desta medida no microclima da cidade, ou bastou um relance ao termómetro para decidir que um tanque de 14 por 14 metros resolveria o problema? E mais, quantos turistas se esperam para esta nova fonte? Quem são esses potenciais visitantes que se deslocariam ao interior profundo de Portugal para ver água a ser projetada?
Do Calor para o Vidro – Mais um ‘Anúncio’ de Leopoldo
A população de Castelo Branco talvez questione se este projeto responde às suas necessidades ou se é mais um dos grandiosos “anúncios” do presidente, na linha de outros planos ambiciosos que raramente ultrapassam a fase de “obra icónica”. Afinal, as dinâmicas do anúncio estão claramente a funcionar, mas o mesmo não se poderá dizer da eficácia destes projetos na transformação das condições de vida dos albicastrenses.
Seria esta fonte uma verdadeira necessidade ou uma mera distração visual? Com a crise económica a pairar, os preços a aumentar e as necessidades reais da população a exigir atenção, fica a pergunta: será a maior fonte dinâmica do país a prioridade que Castelo Branco realmente precisa?