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Francisco regressou à casa do Pai

“Morreu um homem bom, um homem do Povo” que, ainda este domingo de Páscoa se despediu de todos nós, na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção “Urbi et Orbi”. O Papa Francisco, sentado na cadeira de rodas, desejou uma “Boa Páscoa” e pediu ao mestre-de-cerimónias que lesse a sua mensagem de Páscoa perante as 35 mil pessoas presentes na praça de São Pedro. Durante 15 dias, os católicos fazem o luto do falecido Papa e os cardeais preparam-se para eleger o novo chefe de Estado do Vaticano

O Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, morreu nesta segunda-feira aos 88 anos, às 07:35 (06:35). A informação foi avançada pelo Vaticano, através do cardeal Kevin Ferrell. A líder do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, escreveu que “o Papa do povo será lembrado pelo seu amor à vida, esperança pela paz, compaixão pela igualdade e justiça social. Descanse em paz”.

O Papa Francisco tinha 88 anos e esteve internado durante várias semanas devido a uma pneumonia bilateral. Tinha regressado há poucos dias ao Vaticano. Este domingo de Páscoa veio à janela da basílica de São Pedro para a bênção Urbi et Orbi.

A notícia foi anunciada pelo Vaticano directamente da Capela da Casa Santa Marta, com as seguintes palavras: “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.”

Foi o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica, o primeiro papa sul-americano e o primeiro bispo de Roma a presidir ao funeral do antecessor. Natural de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio foi uma figura de destaque no mundo inteiro.

Nasceu na capital argentina no dia 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes piemonteses. Ao longo da vida, nunca se cansou de criticar o neoliberalismo, mas menos firme terá sido na relação com a ditadura argentina. 

O próximo Papa não será uma réplica de Francisco, mas muitas das coisas que o argentino mudou no estilo e na postura da Igreja vieram para ficar. O Papa da misericórdia e da simplicidade, que tinha também as suas contradições, não tinha tempo para a “velha Europa”, mas Portugal teve um lugar de destaque no seu pontificado.

Paixão pelo futebol

Entre as suas grandes paixões tinha o tango e o futebol. Há estádios com o nome de Francisco e, em Buenos Aires, há mesmo um clube chamado Papa Francisco. E muitos outros lhe pediram a bênção, por questões de fé. O papa tem uma coleção de camisolas capaz de fazer inveja aos mais fervorosos adeptos, mas no Coração de Bergoglio só há espaço para o Clube Atlético São Lourenço del Marco.

O papa Francisco é recordado como um dos líderes da Igreja Católica mais populares e consensuais. No início do ano, numa entrevista de comemoração dos dez anos de pontificado, pediu aos humanos que aprendam a “não ter medo de chorar e de sorrir”.

“Quando uma pessoa sabe chorar e sabe rir, é uma pessoa que tem os pés na terra e o olhar no horizonte, no futuro. Quando uma pessoa se esqueceu de chorar, há qualquer coisa que já não funciona, e quando se esqueceu de sorrir, é ainda pior. Não tenham medo de chorar nem de rir”, pediu num podcast do Vatican News, o jornal digital do Vaticano.

Três hospitalizações

O estado de saúde de Francisco era frágil há vários anos, tendo-o levado a pelo menos três hospitalizações desde 2023. No último mês, o Vaticano informou que o Papa começou por receber cuidados médicos devido a uma infecção respiratória (pneumonia bilateral) que se agravou progressivamente. Entretanto, teve uma crise de asma, uma infecção renal, o seu estado passou de “crítico” com “prognóstico reservado” a “complexo”, com melhorias pontuais.

Apesar da sua condição debilitada, manteve-se activo até ao limite das suas forças, participando, sempre que possível, nas audiências e cerimónias religiosas. Num dos últimos domingos foi o cardeal português Tolentino de Mendonça a liderar a oração do Angelus, uma decisão tomada por Francisco.

Nos próximos dias decorrerão as cerimónias fúnebres, seguindo o protocolo tradicional para a morte de um Papa. O corpo de Francisco será velado na Basílica de S. Pedro antes do funeral, que deverá contar com a presença de dignitários de todo o mundo. Enquanto se inicia o período de luto, o Colégio dos Cardeais prepara-se para o conclave que elegerá o próximo sucessor de S. Pedro.

Reacções portuguesas

As primeiras reações ao desaparecimento do Papa Francisco, que morreu esta segunda-feira, aos 88 anos, já começaram a surgir. Muitos são os que querem homenagear Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em Flores, Buenos Aires, Argentina, pelo Papa que foi e pela pessoa que era e as figuras nacionais não são exceção.

Num comunicado enviado às redações, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, descreveu Francisco como “um Papa extraordinário, que deixa um singular legado de humanismo, empatia, compaixão e proximidade às pessoas. As suas visitas a Portugal, no Centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima e na Jornada Mundial da Juventude, marcaram o nosso país e geraram uma ligação muito forte do povo português com Sua Santidade”.

“Apresento as mais sentidas condolências do Governo de Portugal à Santa Sé e a todos os Católicos do mundo, entre os quais tantos milhões de portugueses. A melhor forma de honrar o seu tributo será seguirmos no dia-a-dia, nas nossas diferentes atividades, os seus ensinamentos e o seu exemplo, realçou.

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros já tinha reagido à morte de Francisco, na rede social X.

“Rezo pelo Papa Francisco. Como pessoa, como cristão, como católico, devo-lhe tanto. Devemos-lhe tanto. Em Janeiro, tive a graça de estar com ele mais de meia hora a sós. Francisco era o Profeta do exemplo. Todos, todos, todos, sentiremos, não a sua falta, mas a sua presença”, escreveu o governante social-democrata.

Francisco no coração dos lisboetas

Quem também já reagiu foi Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. “Lembro-me como se fosse hoje das primeiras palavras que o Papa Francisco me dirigiu: “Obrigado pela tua resistência. Obrigado aos lisboetas”. Foi no Vaticano a 22 de abril de 2023, a cem dias da JMJ. Desde então tornou-se no Papa que ficará sempre no coração de Lisboa: que aqui deixou uma marca que não esqueceremos, que connosco partilhou momentos únicos que fizeram de Lisboa a cidade de “todos, todos, todos”. Acima de tudo, transmitiu-nos esperança. Em Lisboa saberemos honrar o seu legado, o legado do Papa da esperança”, recordou o autarca.

E o CDS-PP agradeceu a Francisco o “exemplo de humanismo, solidariedade e fé”.

Por sua vez, o Partido Socialista emitiu uma nota de “profundo pesar” pelo falecimento do Papa Francisco, recordando o seu “pontificado pela defesa da paz, da justiça social e do diálogo”.

“O Papa Francisco procurou aproximar a Igreja dos mais vulneráveis, promovendo uma mensagem de solidariedade e inclusão. Em tempos de incerteza e conflito, foi uma voz firme pela dignidade humana e pela construção de pontes entre povos e culturas. Portugal teve a honra de o receber por duas vezes, ficando a memória das Jornadas Mundiais da Juventude, onde inspirou milhares de jovens a não terem medo de lutar por um mundo mais justo e fraterno. O Partido Socialista endereça as suas sentidas condolências à comunidade católica e à Santa Sé, recordando o legado de humanidade e esperança que o Papa Francisco nos deixa”, lê-se na publicação dos socialistas.

Já o líder do PS, Pedro Nuno Santos, revelou que “foi com profunda consternação” que recebeu “a notícia da morte de Sua Santidade o Papa Francisco”.

“Ao longo do seu pontificado, o Papa Francisco foi uma voz corajosa em defesa da justiça social, da dignidade humana e da paz. A sua liderança espiritual transcendeu fronteiras religiosas e políticas, tornando-se uma referência ética e moral para milhões em todo o mundo. Foi um Papa dos pobres, dos excluídos, dos que não têm voz. Um defensor incansável do ambiente, da solidariedade entre os povos e da necessidade de uma economia mais justa. O seu legado ficará para sempre inscrito na história do nosso tempo. Em nome do Partido Socialista e em meu nome pessoal, expresso à Igreja Católica, à comunidade católica portuguesa e ao Vaticano o nosso mais sentido pesar. Que a sua memória continue a inspirar todos aqueles que acreditam num mundo mais humano, mais justo e mais fraterno”, lembrou.

BE recorda humanismo

Quem também já reagiu foi a eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE) Catarina Martins, que recordou o último discurso do Papa Francisco, lido no Domingo de Páscoa pelo cardeal Angelo Comastri.

“A mais sentida homenagem será estar à altura das suas palavras deste domingo. O apelo à paz e ao desarmamento, a afirmação da liberdade e o desejo “que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano”, escreveu na rede social X.

Por sua vez, o Bloco de Esquerda lembrou o compromisso de Francisco “com os pobres” que marcou os 12 anos do seu pontificado, em que criticou “o neoliberalismo” e inovou “o pensamento da Igreja Católica sobre a crise ecológica”.

Para o deputado socialista Eurico Brilhante Dias, Francisco “vai fazer falta”, uma vez que “esteve sempre com os mais frágeis”.

O Papa morreu, e agora?

Com a morte do Papa Francisco inicia-se um longo processo até à eleição de um novo chefe de Estado do Vaticano, que inclui o corte do Anel do Pescador, a vedação dos aposentos do falecido Papa e o início do chamado Conclave – o momento em que os cardeais recolhem para a Capela Sistina até que saia fumo branco da chaminé.

Todos os passos estão planeados ao detalhe nas normas internas da Igreja Católica. Primeiro, a morte do Papa tem de ser confirmada pelo cardeal camerlengo (cargo ocupado por Kevin Farrell, nomeado em 2019 pelo próprio Papa Francisco). Num ato formal, o cardeal camerlengo posiciona-se de pé sobre o corpo do Papa e chama-o três vezes pelo seu nome de batismo – no caso, Jorge Mario Bergoglio. Não havendo resposta, o óbito é declarado pelo próprio camerlengo.

A partir daqui, o corpo do Papa permanece praticamente intacto. O Vaticano proíbe a realização de autópsias ao Papa. O apartamento papal é fechado à chave – de acordo com a imprensa internacional, trata-se de uma tradição que começou porque no passado era comum os cardeais entrarem no apartamento e levarem o que quisessem. O anel do Papa – o Anel do Pescador – é destruído pelo camerlengo, na presença de outros cardeais, um ato que simboliza o fim da autoridade do falecido Papa.

Uma vez cumpridos estes passos, é altura de revelar a notícia ao mundo – função que, mais uma vez, é responsabilidade do cardeal camerlengo. Também aqui há ordens a cumprir: o primeiro a ser notificado é o vigário de Roma, depois o decano do colégio dos cardeais e de seguida os embaixadores acreditados junto da Santa Sé, para transmitir a notícia aos chefes de Estado com quem a Santa Sé tem relações diplomáticas. Só depois é feito o anúncio público, através de um comunicado da Santa Sé e de uma proclamação pública na Praça de São Pedro.

Eleição do novo Papa

É a partir deste momento que começa a chamada sede vacante, o período de 15 dias em que não há Papa na Igreja Católica. Durante esta fase, cabe ao cardeal camerlengo gerir o quotidiano do Palácio Apostólico, sendo que não podem ser tomadas decisões de relevo.

Geralmente, o Papa é sepultado na Basílica de São Pedro entre quatro a seis dias após a sua morte, de acordo com a Constituição da Universi Dominici Gregis, que rege a transição papal, e a Igreja declara nove dias de luto.

Ao final de 15 dias após a morte do Papa, começa o chamado Conclave – o processo eleitoral no qual os cardeais são chamados à Capela Sistina para eleger o novo Papa. Este processo foi criado pelo Papa Gregório em 1274, depois de ter demorado três anos a ser eleito – a mais longa eleição papal na história da Igreja Católica. Sob esta nova orientação, os cardeais só têm autorização para sair da Capela Sistina até que seja eleito um novo Papa. Em 1970, o Papa Paulo VI proibiu os cardeais com mais de 80 anos de participarem no Conclave.

No primeiro dia do conclave, os cardeais celebram uma missa antes de se dirigirem para a Capela Sistina, onde prestam juramento à Constituição Apostólica. Depois, começa a votação. Com a Capela Sistina trancada à chave, os cardeais ficam sem acesso ao mundo exterior. O objetivo é evitar quaisquer influências externas durante a votação e impedir a campanha de um cardeal, que é estritamente proibida.

Para que um cardeal seja eleito novo Papa, tem de receber pelo menos dois terços dos votos. De cada vez que a votação terminar sem maioria de dois terços, os boletins de voto são queimados e sai fumo negro da chaminé da Capela Sistina – uma forma de comunicarem ao mundo o ponto de situação. Se sair fumo branco, significa que foi eleito um novo Papa, que é instruído a escolher um nome pontifício. Na última transição papal, o Conclave começou em 12 de março de 2013 e o Papa Francisco foi eleito após cinco votações, depois da renúncia voluntária de Bento XVI ao pontificado por motivos de saúde, numa decisão inédita na história moderna da Igreja Católica.

Uma vez escolhido o nome, o novo Papa surge depois na varanda central da Basílica de São Pedro. “Habemos Papam” (Temos Papa, em latim), declara um membro sénior do Colégio dos Cardeais.

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